quarta-feira, 29 de março de 2017

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SOUL INSIDE – NO MORE SILENCE
Dentro dessa miríade de subdivisões que partem da árvore chamada Heavy Metal, o Thrash e o Death são dois dos principais troncos, nascidos quase que simultaneamente e responsáveis, cada um, por uma infinidade de outros ramos.
Era natural que, em algum momento, esses dois gêneros, em suas formas mais puras, se entrelaçassem e gerassem um amálgama perfeito. Duas vertentes extremas que, juntas, mantém suas características básicas e se beneficiam do que podem absorver uma da outra. As bandas que abraçam essa fusão têm apresentado alguns dos melhores trabalhos de tempos mais recentes.
O Soul Inside, banda da cidade mineira de Lavras, que tem a estratégica vantagem de estar situada nas proximidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, navega nessa linha, efetuando uma música forte e moderna, sem resquícios de fórmulas saturadas dos subestilos que aborda. Em termos de referência, sua pegada remete ao Death Metal das bandas inglesas do começo dos anos noventa, sendo o Benediction o nome que mais facilmente poderíamos associar.
Tendo à frente o baixista e vocalista Bruno de Carvalho, o grupo lançou o seu primeiro álbum, “No More Silence” em 2016, onde apresenta oito faixas com qualidade e diversidade de conteúdo lírico, indo desde a manipulação religiosa até o mundo dos pesadelos, desde a revolta urbana até os malefícios das mentiras. A primeira faixa, “Child Of War”, sobre a criança nascida no campo de batalha, a quem a infância foi negada, já apresenta de imediato muito do que iremos encontrar ao longo de todo o disco e, necessário dizer, um pequeno detalhe que precisa ser melhor trabalhado.
A gravação está um primor, com tudo bem alto. A bateria de Renan Seabra surge bem evidente, com batidas firmes, dividindo a atenção com as guitarras de Beto Siqueira e Eduardo Petrini, em uma musicalidade de ritmo duro e forte, sobre a qual cai adequadamente o vocal gutural de Bruno de Carvalho, que não se furta de utilizar tons mais rasgados quando necessário. Chama atenção a qualidade das composições e a maneira natural como a banda flui sobre as mudanças de riffs ou de andamento, transitando de uma pra outra com extrema facilidade. Da mesma forma, é a inserção dos solos de Eduardo Petrini, encaixados em momentos específicos das músicas, deixando os arranjos mais ágeis e dinâmicos, pondo de lado a saturada prática de separar um momento delimitado para o solo.
Essas são características que serão percebidas em toda a audição, com músicas como “Again The Nightmare” se destacando com o seu riff marcante, ou em “Life Of Lies” com sua bem amarrada sequência final. E é justamente em finais que a banda tem pecado um pouco. Eu não sou muito fã de fades out, mas o da primeira faixas, “Child Of War”, é muito súbito. E assim tem sido com outras das músicas, que terminam muito abruptamente, como também podemos perceber em “The Killer Inside”. Isso, é claro, embora possa ser revisto, é um detalhe pormenor, que não irá impactar na fruição do álbum, que, repita-se, é de excelência acima da média e deve ser conhecido por quem quer que esteja procurando música pesada de verdade, sem concessões, sem hesitações.

quinta-feira, 16 de março de 2017


CONCEPT OF HATE - BLACK STRIPE POISON
Guitarra, baixo, bateria e vocal. Essa é, provavelmente, a melhor composição que uma banda pode ter. O básico para gerar barulho, com cada um executando a sua parte, tabelando com os demais.
Quando pegamos um disco de uma banda que traz, em seu nome, a palavra “hate”, não nos sobra muita margem de dúvida sobre o que iremos escutar, e o Concept Of Hate não decepciona. É o metal grooveado que fez escola nos anos noventa, com bastante influência de Pantera e Sepultura, embora, em relação a esse último, a proximidade de estilo esteja mais alinhada, provavelmente, com o que vem fazendo o Cavalera Conspiracy.
Quando a primeira faixa, “Black Stripe Posion”, que dá nome ao EP, começa a tocar, percebe-se de imediato uma banda segura na execução das músicas. A capa do disco, que traz um desenho muito bem feito, em preto e branco, tira qualquer dúvida sobre o que seria o tal black stripe poison, fazendo referência ao consumo desordenado de remédios de tarja preta, e já esclarecendo de imediato que, a vida real, é a fonte de inspiração para as letras de suas canções.
A segunda faixa, “In Human Nature” foi inteligentemente colocada nessa sequência, pois sua rapidez faz com que o disco vá evoluindo em dinâmica e, é bom aconselhar: se você estiver em uma apresentação da banda durante a execução dessa música, ou você se afasta ou se prepara para a quebradeira na roda de mosh, pois a música é um convite explícito para que o público enlouqueça!
“Chaospiracy”, com seu andamento mais moderado, lhe dará a falsa sensação de repouso, mas não se engane: é uma música pesadíssima, que faz o seu pescoço se mover sozinho, acompanhando seu ritmo.
Nesse ponto do álbum, já deu para ficar claro que um dos pontos fortes da banda é o duo da cozinha formada pelo baixista Rafael Biebrach e o baterista Takashi Maruyama, segurando com precisão a base das músicas, que, por serem curtas, sem enrolação, na faixa de três ou quatro minutos cada, fazem com que o cd termine muito rápido. “Sanity Is Not An Opinion”, a última, fecha trazendo novamente uma pegada mais rápida e o riff de seu refrão faz com que nos lembremos das bases que o Anthrax costuma executar.
Tendo nascido em Santo André, no estado de São Paulo, e complementada por Flavio Giraldelli, no vocal, e Daniel Pereira, na guitarra, o “Conceito de Ódio” ainda tem mais músicas em seu repertório que necessitam, e assim esperamos, ser registradas logo, mas esse primeiro EP já é um excelente ponto de partida para que possamos esclarecer, para o resto do mundo, do que se trata esse conceito! 

sábado, 19 de novembro de 2016

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URIAH HEEP - VERY EAVY VERY UMBLE
Quando éramos mais jovens, com poucos recursos financeiros e mais tempo para dedicar a cada disco que adquiriamos, por vezes éramos marcados pelo contato musical associando-o a algum fator externo. No caso do primeiro disco do Uriah Heep, trouxe-o para casa e coloquei-o no toca-discos em um dia chuvoso. Sempre que o reescuto, portanto, sou acometido pela lembrança de um clima nublado e a claridade solar esvanece.
Caso acrescentemos uma quarta posição ao triunvirato sagrado do hard rock/heavy metal (Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple), certamente a vaga será ocupada pelo Uriah Heep. Porém, a banda inglesa, contemporânea das demais, surgiu com a vantagem de possuir em suas fileiras A VOZ. Sim, porque, não obstante os Plants, Mercurys, Rodgers ou Gillans da vida, David Byron é/foi o melhor vocalista de rock, até hoje não superado.
Esse sujeito, juntamente com Ken Hensley e Mick Box, formaram o trio central da banda e capitanearam uma carreira que, pelo menos em sua primeira fase, não foi menos do que brilhante. No caso de Very Eavy Very Umble, ou seja, já a partir do primeiro disco, a abertura com a faixa Gypsy já apresenta, de cara, tudo que você precisa saber sobre o grupo. Todos os elementos que caracterizam o som do Uriah Heep, e o tornam único, estão presentes nessa música, inclusive as consagradas e onipresentes harmonias vocais. Estando ainda três álbuns de distância de sua formação clássica e de seus discos mais consagrados - Demons and Wizards e Magician´s Birthday - não se pode dizer que houve mudanças significativas no som do quinteto. Houve aprimoramento e refinamento, principalmente da tendência progressiva, na qual o Heep investiu mais do que seus colegas de cena, mas a essência já estava definida na origem, tendo sido formatada pelos três músicos acima, embora, nesse álbum, Hensley ainda não tenha participado do trabalho de composição.
Além de Gypsy, as músicas Walking in Your Shadow, I´ll Keep on Trying e Wake Up também se caracterizam pelo DNA uriaheepiano, sendo todas destaques do disco, da mesma forma que a belíssima balada Come Away Melinda, cuja letra trata do diálogo entre uma filha e seu pai, que tenta explicar sobre a mãe que a criança não conheceu, morta na guerra.
Por fim, como qualquer obra perfeita se prolonga para além das notas musicais, é preciso fazer a devida menção à embalagem. Aprendam: ISSO é uma capa assustadora de verdade!!! Existem duas versões da mesma, mas eu sequer faço questão de me lemvrar como é a imagem que estampa a outra.
O tempo passou, Byron faleceu, o Heep mudou de formação incontáveis vezes, atravessando altos e baixos criativos. Hoje, com o conforto de quem não precisa mais se provar e está aproveitando os momentos de proximidade do final da carreira, o Heep tem lançado bons álbuns. Bandas que se inspiram em sua obra causam um grande boca-a-boca entre os apreciadores, mas eu, infelizmente, não consigo me empolgar com isso. O material original está a minha disposição e ainda me causa emoção.
Da mesma forma que me causou quando eu era mais jovem.

sábado, 12 de novembro de 2016

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OPERATION MINDCRIME
Discos conceituais são algo complicado. Não em sua essência, mas em seu funcionamento. Na minha opinião, é preciso um raro equilíbrio para que o trabalho sobreviva como estória – já que é a isso que se propõe – mas que as suas músicas possam também existir isoladamente, que façam sentido dentro de um ambiente de show, intercaladas com outras canções dentro do setlist, sem a sensação de serem algo dependente de outras partes, anteriores ou posteriores. Dessa forma, creio que o Queensryche conseguiu conceber um dos melhores álbuns conceituais de todos os tempos! Lançado no mesmo ano de dois outros marcos do metal de alta patente, And Justice For All, do Metallica, e Seventh Son Of A Seventh Son, do Iron Maiden, a sequência das músicas, nesse disco, quando se considera que fazem parte de uma narrativa, soa tão natural que aparenta que a banda as compôs naquela ordem. Caso você o pegue para escutar de uma só vez, é perceptível a fluência, a coesão entre as faixas que soam realmente como um contexto, rumo a um clímax. Por outro lado, se você pincelar uma canção qualquer, ela também soará perfeita, com suas estrofes e refrão, única e plena em sua individualidade.
Evolução é uma palavra pouco utilizada quando se fala do Queensryche. É claro que ela existe, mas a discografia da banda, na fase em que contava com o guitarrista Chris DeGarmo, apresenta um repertório de tão alto nível, desde seu princípio, que os saltos evolutivos são mais discretos. Há diferenças, claro de Warning até Promised Land, mas elas não soam bruscas ou descaracterizantes da personalidade da banda. O Queensryche sempre pareceu estar em um patamar além. Mesmo se analisarmos o grupo exclusivamente dentro do nicho do prog metal, eles parecem existir em um espaço próprio, sem vínculo com as demais formações que executam esse estilo. Assim, o destaque de Operation Mindcrime não poderia ser outro que não fosse o carisma de cada música e é justamente por isso que não posso citar faixas individuais. A qualidade é altíssima em toda a audição. Lembrando que é um disco conceitual, pinçar uma música seria como dizer, por exemplo, que o capítulo 7 de um livro é melhor do que o capítulo 12.

Depois de Operation, o Queensryche ainda concebeu dois grandes discos e um equívoco – Hear in the Now Frontier – que marcou a saída de DeGarmo. Depois disso, foi uma sequência de trabalhos medianos e sem luz própria, além de uma tentaiva de retormar o sucesso de Operation, com uma continuação que mergulhou na obscuridade, demonstrando que o sucesso da banda dependia da combinação de talentos daquela formação, ao contrário do que demonstrou Geoff Tate, que, com sua vaidade, fez com que o legado do Queensryche desmoronasse até que houvesse a inevitável separação, cabendo à banda reiniciar suas atividades com outro vocalista e, surpreendentemente, retomar os dias de glória. Casos como o do Queensryche, ou do Accept, mostram que a imagem que um grupo projeta não está necessariamente atrelada à figura de seu frontman e, dentro do heavy metal, as coisas funcionam melhor assim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

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JOURNEY – ESCAPE
Não deve existir um subestilo mais datado do que o AOR. Falo isso sem submeter à palavra “datado” a carga pejorativa que geralmente lhe acompanha. Datado, aqui, é apenas referência ao auge do estilo, lá no intervalo entre 1976 e 1982. Sempre que eu escuto esse tipo de música, minhas recordações são arremessadas para essa época.
Não sei de onde se originou a denominação AOR, mas ela soa um pouco prepotente. Rock orientado para adultos? Há um certo grau de esnobismo desnecessário aqui. Uma insinuação de que o restante do que se faz sob a denominação rock seria voltado apenas para adolescente, o que não é bem verdade. O AOR é caracterizado pela sonoridade cruzada entre o progressivo, o hard e o pop, com uma tendência maior para o primeiro, mas sem se ater às longas suítes que o caracterizam. Algo como um progressivo mais apto às FMs, no tempo em que estas eram mais, digamos, ousadas. É um nicho musical onde podemos inserir bandas como Styx, Asia, Survivor, Toto, Boston, Kansas e, com boa vontade, até o Supertramp. Dentro desse rol, o Journey tem uma posição de destaque. Algo mais ou menos semelhante com o status que o Iron Maiden tem dentro do heavy metal.
Nada surpreendente quando vemos que o guitarrista Neal Schon formou a banda depois de passar uma temporada na companhia de Carlos Santana, com quem gravou dois discos, incluindo o progressivo Caravanserai. Depois de três álbuns de seu novo projeto, Schon iria receber o apoio do cantor Steve Perry e um novo capítulo da história do rock seria escrito.
Steve Perry é dono daquele timbre de voz que convencionamos chamar de angelical, podendo tranquilamente ser colocado em paralelo à Jon Anderson do Yes. Chamá-lo de vocalista é reducionista. Perry é um cantor, no mais estrito sentido denotativo da palavra. A partir de sua entrada, o Journey alcançou novos limites artísticos e comerciais, mas em Escape, as coisas tomaram outros rumos. Não vou dizer que Don´t Stop Believin seja a melhor música de sua carreira. Isso é muito subjetivo. Mas o certo é que essa canção ganhou vida própria, além do alcance de seus autores. É aquele tipo de canção que vira um fenômeno da cultura popular e todos conhecem, mas uma boa parte ignora de quem seja.
Todo o disco foi composto a partir das parcerias de Schon, Perry e do tecladista Jonathan Cain, que estreou aqui e permanece até hoje, sendo o segundo integrante mais longevo da formação, depois de Schon, firmando sua posição de destaque no grupo, tanto como compositor quanto como tecladista, em um gênero onde esse instrumento tem tanta importância nos arranjos quanto a guitarra. Escape não seria um trabalho clássico se se sustentasse apenas em Don´t Stop Believin e, portanto, tem várias outras canções que merecem ser referenciadas como Stone in Love, Still They Ride, a faixa título e, principalmente, a balada Open Arms. Em qualquer uma delas se percebe que, apesar da excelência de seus integrantes, ninguém parece brilhar sozinho. As músicas chamam a atenção pelo que são, não pelo guitarrista ter feito um solo extraordinário ou pelo vocalista ter quebrado uma taça de cristal. É por isso que, mesmo sendo um estilo ligado a um determinado período de tempo, a música do Journey não envelhece e permanece atual e relevante.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016


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NIRVANA – NEVERMIND
Antes de mais nada, é preciso estabelecer qual o verdadeiro impacto desse disco. Sob a minha ótica, claro.
Nevermind é um disco que fez inegável sucesso e, de certa forma, merecido em parte. Digo isso porque, para mim, Nevermind é um disco bom.
Ponto.
É bom e só. É endeusado por muitos de forma demasiado exagerada, visto suas reais qualidades. Também é odiado por outros tantos, mas não merece essa rejeição extrema. Daí a querer colocar Nevermind como divisor de águas, um dos melhores discos de todos os tempos e blábláblá, vai uma longa distância. Nevermind não é tão ruim quanto pintam seus detratores, mas tampouco é a maravilha que a maioria clama por aí.
Dessa forma, eu acho que as pessoas ou amam demais o Nirvana ou odeiam demais. Ambas as reações, creio, são consequência da exposição maciça da banda. Se o Nirvana tivesse um status de popularidade menor, não geraria esse efeito. Alguns curtiriam e outros simplesmente ignorariam. Mas, na realidade, o disco estourou e vamos à ele.
Não quero criar polêmica ou chamar atenção. Até fujo disso. Mas sou forçado a iniciar dizendo que Smells Like a Teen Spirit é uma música absolutamente inócua. Não me diz nada e, em minha opinião, é uma das mais fracas do disco. Tem coisas bem melhores ali. Quando eu pego esse disco para ouvir, Smells entra no automático até pelo fato de ser a primeira, mas eu a pularia tranquilamente. Foi um sucesso? Foi, todo mundo sabe, mas eu não baseio meus conceitos em cima disso.
Se Smells me soa desnecessária, Territorial Pissings, por outro lado, me soa ruim mesmo. È uma tentativa de fazer uma faixa mais rápida e agressiva sem que se tenha o cacoete necessário para tanto. O ponto certo da musicalidade do Nirvana repousa em canções como In Bloom, Come As You Are, Breed, Lithium e Lounge Act, que são músicas realmente boas. Tem carisma e melodia. Coincidentemente, ou não, a maioria delas está na primeira metade do disco, que perde um pouco de força no seu decorrer. As músicas menos interessantes ficaram para o fim da audição.
Ainda falando em melodia, Polly e Something in the Way são canções bem agradáveis, suaves. Não vão mudar a vida de ninguém, mas também não comprometem o resultado do disco. O Nirvana tinha uma mão adequada para músicas desse naipe e isso foi plenamente comprovado quando lançaram seu álbum acústico.
Nevermind é um disco de rock básico. Tão básico quanto o são as habilidades de seus criadores, visto que ali ninguém passa perto do conceito de virtuose, embora isso, claramente, não seja nenhum demérito em termos de rock. Seu estouro deveu-se a um claro movimento da indústria, que sobrevive desses ciclos e tem que se manter, pelo menos parcialmente, sincronizada com a renovação do público consumidor de música, mais afeito a acompanhar as bandas que surgem em seus momentos cronológicos. De qualquer forma, no meu teste de tempo, o disco repousa em um conceito mais voltado para os graus positivos. Não o descartaria jamais, mas também não o colocaria na minha mala rumo à famosa ilha deserta.

Que fique na estante, mas ao alcance da mão.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

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CENTÚRIAS – NINJA
Para quem não é de São Paulo e acompanhou à distância, mesmo dentro de seu próprio país, a evolução do cenário de bandas de heavy metal, a sensação é de que houve uma rápida queima de etapas no Brasil. Mal surgiram – ou, melhor dizendo, mal tornaram-se conhecidas – as bandas de metal clássico, as vertentes mais extremas já estavam mordendo seus calcanhares. Para cada Harppia e Salário Mínimo que estavam despontando, já havia um Korzus, Vulcano ou Sarcófago. Isso, repito, é a minha interpretação vista de longe. Para os conterrâneos desses grupos, que os acompanharam de perto, desde a época das demo tapes, a transição deve ter sido mais natural, obviamente.
A consequência disso é que o metal tradicional pátrio não foi adequadamente absorvido por aqui. Existiram grandes trabalhos e o devido reconhecimento lhes foi dado, mas poderia ter sido bem mais.
Ninja, primeiro álbum do Centúrias, é um exemplo concreto. É, de longe, um dos melhores discos de metal cantados em português e teve a missão de suceder, após uma reformulação geral na formação, o excelente EP de estréia da banda. O grupo que contava com o vocalista Eduardo Camargo à frente deixou saudades, mas o remanescente baterista Paulo Thomaz teve bala na agulha pra trazer dois ex-integrantes do antológico Harppia e o vocalista César Zanelli, que já tinha passado pelo Santuário. Com um time desses, composto apenas por pessoas que já conheciam muito bem do riscado, não tinha como dar errado: Ninja é um disco forte, coeso, com músicas maduras e muito bem desenvolvidas. É aquele típico caso de disco que, de tão bom, sustentaria sozinho o repertório de uma apresentação.
Tendo sido lançado em 1988, sua chegada ocorreu num momento em que o thrash já era uma corrente consolidada, mas tirando um pequeno flerte aqui e ali, o clima todo é de puro e vigoroso metal tradicional, sendo que em diversos momentos podemos identificar uma influência muito forte de Saxon, especialmente nas músicas Guerra e Paz e Metal Comando. Talvez a diferença do timbre de voz de César Zanelli dificulte um pouco essa identificação, mas se prestarmos atenção apenas na levada da música, veremos que ela é bem calcada na lenda britânica e isso é bastante louvável, pois, embora o Saxon seja bastante cultuado por aqui, seu legado ainda não foi suficientemente explorado pelos grupos nacionais.

E, falando de influências britânicas, o onipresente Judas Priest não poderia faltar. Arde Como Fogo parece ter sido composta depois de uma intensa sessão de audição do álbum Hell Bent For Leather. Paulo Thomaz tem um desempenho ímpar, tanto nessa música quanto no resto do álbum. É um músico com longa trajetória no cenário brasileiro e merece ser bem mais reconhecido, mas o seu trabalho em Ninja é como parte de uma verdadeira equipe. Não há um músico que se sobressaia ou que chame mais atenção dos que os demais ao longo da audição. É uma banda na acepção mais pura da palavra, composta por verdadeiros amantes do estilo que fazem. Não à toa, apesar de ainda sofrer as inevitáveis mudanças de formação, continua ativa e relevante. Centúrias é a história viva do metal brasileiro em cima dos palcos.