sábado, 28 de novembro de 2015



METAL CHURCH – THE DARK

O Metal Church tem, em sua carreira, um grande clássico: o álbum de estréia auto-intitulado. Um disco tão maduro, tão bem composto, arranjado e produzido que mal parece ser o primeiro trabalho de uma banda iniciante. Não creio que qualquer ser vivente que seja fã do estilo tenha passado incólume ante a qualidade e a vibração deste disco, que marcou e marca até hoje qualquer um que o tenha escutado.
Eu quase concordo com tudo que foi escrito acima.
O parágrafo, porém, contém em seu teor uma falha que o torna impreciso. O Metal Church não tem apenas um grande clássico.
Ele tem dois grandes clássicos! É um erro crasso considerar The Dark um disco inferior em relação ao álbum de estreia mas, infelizmente, muita gente tem essa opinião.
The Dark é o único disco que ainda mantém a mesma formação do primeiro álbum e é tão bom quanto este. É diferente? Claro que sim! Ele parece soar um pouco mais retilíneo do que a estreia, que tinha mais exercícios de mudanças de andamento, mas é dotado do mesmo grau de excelência. Talvez a mudança mais facilmente identificável esteja na forma como está atuando o baterista Kirk Arrington, já que no primeiro álbum, ele executa muitas viradas e, em The Dark, se mantém mais contido, mais fixo ao ritmo, sem, porém, deixar de apresentar uma atuação soberba no instrumento.
Amparado por uma capa simples e genial, o disco abre, de cara, com Ton of Bricks, faixa de título perfeito, onde a banda já demonstra o que pretende, com uma música curta e direta, mas que soa absolutamente como Metal Church. Talvez, justamente pelo fato de ser curta, ela evidencie a diferença entre esse disco e o anterior, que iniciava com duas músicas mais longas. De qualquer forma, desde que a ouvi pela primeira vez, Ton of Bricks ingressou para minha lista de músicas favoritas da banda.
Assim como também o é a faixa seguinte, Start the Fire, outra música cativante, de ritmo preciso e com um refrão forte, entoado pelos backing vocals. Clássico instantâneo, ao lado de Line of Death e, pricipalmente, a emocionante Watch the Children Pray, provavelmente a faixa mais conhecida do disco, graças ao primeiro vídeo clip produzido pela banda, bastante sóbrio e bem feito, condizente com a canção.
Embora o guitarrista Kurdt Vanderhoof pudesse fazer o papel de líder da banda, as parcerias de composições são bem distribuídas entre todos, concentrando mais no trio entre Vanderhoof, o também guitarrista Craig Wells e o saudoso vocalista David Wayne, mas com participações esporádicas dos demais membros. Talvez venha daí a diversidade que o disco contém e que é representada não só na faixa-título, mas também na rapidez de Psycho e nas levadas de Over My Dead Body, Burial at Sea e, com destaque, na fluidez de Method to your Madness, uma música pesada e vibrante, mas ao mesmo tempo dotada de um carisma absurdo, que faz você querer reouvir por diversas vezes.

Infelizmente, é necessário reconhecer que o Metal Church é outra daquelas bandas cuja dinâmica interna truncou o seu caminho para os níveis mais elevados de popularidade. Trocas infinitas de membros, em momentos cruciais da carreira, como esse início de passos certeiros, tendem a alienar a boa vontade de alguns fãs. Não foi o meu caso e provavelmente também não o foi para muitos, mas apesar de apreciar o disco seguinte, com o vocalista Mike Howe, me parece que algo foi gradativamente se perdendo, e o que era uma curva ascendente passou a apontar para baixo. O Metal Church, porém, nunca perderá seu lugar na memória dos fãs e essa perenidade é cortesia do que foi realizado em seus dois primeiros discos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015



LOUDNESS – DISILLUSION

Sempre, durante a semana anterior ao lançamento de uma nova resenha, eu dedico algum tempo para reescutar o disco sobre o qual pretendo escrever, para ver que ideias ele me desperta. Essa é, indubitavelmente, a melhor parte de todo o processo. Eu nunca escrevi sobre algum disco de que não gostasse, mas por conta daquelas desconhecidas razões que a gente não explica, tem certos discos que acabam sempre sendo um pouco mais especiais, trazendo lembranças que mesmo outros preferidos da casa não despertam. É o caso desse álbum do Loudness, uma das minhas primeiras aquisições de fita cassete vinda de algum lugar do país. Foi uma escolha aleatória, entre diversas opções de um catálogo repleto de nomes até então desconhecidos para mim, portanto eu não posso reclamar da sorte.
Se tem algo que eu curto bastante é a chance de escutar meu estilo de música favorito nos mais diversos sotaques. Nada daquela coisa de inserir forçosamente trechos típicos das melodias folclóricas locais para expor sua etnia: “olhem como eu sou espanhol” ou ”olhem como eu sou francês”, e por aí vai. Eu prefiro que a música me soe espanhola, francesa ou japonesa apenas pelo fato de estar sendo tocada por espanhóis, franceses ou japoneses. Assim é como é feito pelo Baron Rojo, pelo Trust e assim é como é feito pelo Loudness.
Em qualquer dos casos, porém, passado o estranhamento inicial, os ouvidos se acostumam e a gente desfruta plenamente de um excelente disco de heavy metal. Um daqueles que nos traz a satisfação íntima de conhecer o estilo e ter a chance de apreciar um trabalho tão bom, tão inspirado. O guitarrista Akira Takasaki, compositor de todas as faixas, que tiveram letras do vocalista Minoru Niihara, demonstrou um talento absurdo para criar músicas pesadas e ganchudas ao mesmo tempo. Akira, como pode ser percebido pelas instrumentais Anthem e Exploder, navegava bem próximo daquela pegada que viria a fazer a fama de Yngwie Malmsteen. Traços de Scorpions, Van Halen e Accept também podem ser identificados aqui e ali. Que me perdoem os fãs da fase mais americana da banda, cujo grande marco inicial é a música Crazy Nights, mas essa canção tem respaldo apenas para ser lado B de qualquer outra música deste Disillusion.
Tá certo que Crazy Nights é uma música legalzinha e tal, mas todo o repertório de Disillusion se encontra bem além dessa definição. Eu não consigo estabelecer uma ordem de preferência entre Esper, Dream Fantasy, Ares Lament, Milky Way, Crazy Doctor, Butterfly, Revelation ou Satisfaction Guaranteed. São todas exemplos do heavy metal mais puro e original, sem misturas, sem tendências, sem subestilos. Apenas heavy metal. Recomendadíssimo principalmente para aqueles que são mais chegados na pegada do comecinho dos anos 80.

Escrever isso me fez lembrar que eu nunca procurei conhecer melhor outras bandas daquele país, como Earthshaker, Bow Wow, EZO e Anthem, sendo que as duas últimas tiveram até discos lançados no Brasil. Todas estão entre as primeiras bandas japonesas, contemporâneas do Loudness, então dá pra ouvir sem medo de esbarrar com essa modinha atual de j-rock. Vou, portanto, aproveitar a deixa para preencher essa lacuna e lembrar sempre o quanto essa é uma forma de expressão universal.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015



PARADISE LOST – GOTHIC

Para a maioria das pessoas, e a imprensa musical em geral, Draconian Times é o grande disco do Paradise Lost, o ápice da carreira. Concordo que é um grande álbum, sem dúvida nenhuma, mas eu me tornei fã da banda após a audição, e consequente aquisição, de Gothic, seu segundo disco, sendo que esse ainda é para mim o melhor trabalho deles, seguido de perto por Icon, Shades of God, e só então Draconian Times, necessariamente nessa ordem.
Draconian Times deu um impulso forte na carreira dos ingleses, não só pela qualidade evidente, mas também pela exposição massiva que o mesmo teve através da exibição de clips na MTV. A crítica que eu faço ao álbum é pelo fato dele me soar muito influenciado pelo Metallica. Parece-me que a voz de Nick Holmes está, nesse disco, com um timbre excessivamente semelhante ao de James Hetfield e esse tipo de coisa sempre costuma me incomodar bastante. Nada contra Metallica ou Hetfield, evidentemente, mas o Paradise Lost já surgiu com seu estilo bem definido, com características perceptíveis que ecoam até hoje em seus discos e era, assim, desnecessário emular aspectos tão evidentemente individuais de outros artistas.
Em Gothic, o clima era bem outro, mais espontâneo. Tudo que você precisa saber sobre a banda Paradise Lost já está presente nos primeiros minutos da faixa título, que abre o álbum. O timbre gutural na voz se foi, amenizado ao longo dos álbuns e voltando a se fazer presente nos dias mais recentes, esporadicamente de acordo com os arranjos, mas o clima gótico e melódico, que mescla drama e agressividade, tristeza e melancolia, sempre continuou, mesmo quando a banda fez experimentos mais modernos.
Junto de Nick Holmes, a outra cabeça pensante da banda, na divisão das composições, é o guitarrista Gregor Mackintosh, responsável pelas melodias executadas com o apoio do também guitarrista Aaron Aedy. O quinteto, completado pelo baixista Stephen Edmondson e pelo baterista Matthew Archer conceberam um clássico que foi imediatamente galgado para o coletivo de discos que abriram as portas do doom metal gótico. Além da faixa de abertura, músicas como Shattered, The Painless, Falling Forever e Eternal, surgiram como um sopro de novidade naquele começo da década de noventa, quando os conjuntos de heavy metal estavam meio que perdidos entre a explosão de bandas alternativas, a explosão de bandas extremas e a desorientação dos artistas clássicos do gênero, que não sabiam para onde deveriam atirar. Embora o que o Paradise Lost fez acabou se multiplicando como uma espécie de praga, fenômeno que ocorre sempre que algum artista se destaca com força ao incorporar ou misturar novos elementos em algo que já vinha sendo realizado, isso não desmerece sua obra e seu legado.
Tanto que a banda continua ativa e se renovando até os presentes dias, mantendo uma solidez na formação, com exceção do posto de baterista, que sofreu alterações ao longo do tempo. O Paradise Lost tornou a crescer na medida em que foi paulatinamente retornando à sua sonoridade genuína e natural, até chegar no ponto atual, onde soa como o cruzamento entre Gothic e Draconian Times. Execelente! Agradou à mim e agrada a maioria das pessoas.



sexta-feira, 6 de novembro de 2015



KISS - CREATURES OF THE NIGHT

1982. Em março é lançado The Number of the Beast; em abril, Blackout; em julho, Screaming for Vengeance. Nesse mesmo mês de julho, o Kiss entra em estúdio pra gravar seu novo disco. Não é novidade que a banda vinha de uma fase meio problemática, com três discos que não foram muito bem sucedidos (Dynasty, Unmasked, Music from the Elder). Havia terreno para recuperar e, como pode ser percebido pelo começo do parágrafo, o rock pesado estava se impondo com força no mercado fonográfico. E isso olhando apenas pelo lado europeu, pois, em casa, na América, bandas como o Van Halen já dominavam com força as vendagens de discos.
Provavelmente, então, de olho na concorrência, o Kiss concebeu um de seus discos mais pesados, para recuperar terreno e se impor em pé de igualdade perante tantas bandas que surgiam. Não que o Kiss fosse um grupo de heavy metal. Não é, apesar de transitar aqui e ali, com desenvoltura pelo estilo e, para provar isso, gerou esse álbum. War Machine, Killer, Creatures of the Night, Rock and Roll Hell e Danger são, sim, heavy metal da melhor qualidade. Qualquer resquício de dúvida poderia ser expurgado apenas pela audição da balada do disco. I Still Love You é uma música densa, com um tipo de intensidade que passa longe, muito longe, do acento mais pop de canções como Beth ou Sure Know Something.
Como se não bastasse a excelência musical, o pacote se completava com a capa icônica e bem produzida e com os shows da primeira vinda da banda ao país, despedindo-se temporariamente das famosas máscaras. Sangue, explosões e a bateria gigante montada em cima de um canhão! Não estive lá, evidentemente, mas pude assistir a turnê de aniversário do Alive em 2008 e, posso dizer, mesmo com 26 anos de diferença entre os dois eventos, I Love it Loud, o carro-chefe do disco, cujo coro é absolutamente inconfundível, continua empolgante.
Nem tudo são flores porém. Uma característica do Kiss como banda, ou talvez seja melhor dizer como empresa, que pode vir a incomodar os mais puristas, é a tendência de gravar os seus álbuns com músicos que não pertencem à formação. Ace Frehley está na capa do disco, e no clip de divulgação, mas é só. Você não ouvirá uma nota sequer gravada por ele, pois na maior parte das músicas quem faz o serviço é aquele que viria a ser o seu substituto, Vinnie Vincent. Além dele, outros músicos também participaram, inclusive gravando partes de baixo. 

Isso pode vir a criar questionamentos do Kiss como banda, mas nunca do Creatures of the Night como produto finalizado. O disco é um dos ápices de uma carreira que teve poucos baixos. Quer você queira considerá-los como banda ou empresa, essa sempre será uma discussão inócua quando música boa estiver no meio da equação, inclusive porque, quando você se apaixona por um álbum, o que importa é, e sempre será, as canções nele contidas. Detalhes de produção são coisas que só interessam a quem já formou uma opinião e quer se aprofundar. Dificilmente modificariam a opinião sobre a música propriamente dita. Com tanta bobagem presunçosamente intelectualizada rolando, é bom que ainda esteja entre nós uma banda cuja maior pretensão seja ser divertida. Nesse quesito, o Kiss dificilmente é superado.