sábado, 19 de novembro de 2016

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URIAH HEEP - VERY EAVY VERY UMBLE
Quando éramos mais jovens, com poucos recursos financeiros e mais tempo para dedicar a cada disco que adquiriamos, por vezes éramos marcados pelo contato musical associando-o a algum fator externo. No caso do primeiro disco do Uriah Heep, trouxe-o para casa e coloquei-o no toca-discos em um dia chuvoso. Sempre que o reescuto, portanto, sou acometido pela lembrança de um clima nublado e a claridade solar esvanece.
Caso acrescentemos uma quarta posição ao triunvirato sagrado do hard rock/heavy metal (Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple), certamente a vaga será ocupada pelo Uriah Heep. Porém, a banda inglesa, contemporânea das demais, surgiu com a vantagem de possuir em suas fileiras A VOZ. Sim, porque, não obstante os Plants, Mercurys, Rodgers ou Gillans da vida, David Byron é/foi o melhor vocalista de rock, até hoje não superado.
Esse sujeito, juntamente com Ken Hensley e Mick Box, formaram o trio central da banda e capitanearam uma carreira que, pelo menos em sua primeira fase, não foi menos do que brilhante. No caso de Very Eavy Very Umble, ou seja, já a partir do primeiro disco, a abertura com a faixa Gypsy já apresenta, de cara, tudo que você precisa saber sobre o grupo. Todos os elementos que caracterizam o som do Uriah Heep, e o tornam único, estão presentes nessa música, inclusive as consagradas e onipresentes harmonias vocais. Estando ainda três álbuns de distância de sua formação clássica e de seus discos mais consagrados - Demons and Wizards e Magician´s Birthday - não se pode dizer que houve mudanças significativas no som do quinteto. Houve aprimoramento e refinamento, principalmente da tendência progressiva, na qual o Heep investiu mais do que seus colegas de cena, mas a essência já estava definida na origem, tendo sido formatada pelos três músicos acima, embora, nesse álbum, Hensley ainda não tenha participado do trabalho de composição.
Além de Gypsy, as músicas Walking in Your Shadow, I´ll Keep on Trying e Wake Up também se caracterizam pelo DNA uriaheepiano, sendo todas destaques do disco, da mesma forma que a belíssima balada Come Away Melinda, cuja letra trata do diálogo entre uma filha e seu pai, que tenta explicar sobre a mãe que a criança não conheceu, morta na guerra.
Por fim, como qualquer obra perfeita se prolonga para além das notas musicais, é preciso fazer a devida menção à embalagem. Aprendam: ISSO é uma capa assustadora de verdade!!! Existem duas versões da mesma, mas eu sequer faço questão de me lemvrar como é a imagem que estampa a outra.
O tempo passou, Byron faleceu, o Heep mudou de formação incontáveis vezes, atravessando altos e baixos criativos. Hoje, com o conforto de quem não precisa mais se provar e está aproveitando os momentos de proximidade do final da carreira, o Heep tem lançado bons álbuns. Bandas que se inspiram em sua obra causam um grande boca-a-boca entre os apreciadores, mas eu, infelizmente, não consigo me empolgar com isso. O material original está a minha disposição e ainda me causa emoção.
Da mesma forma que me causou quando eu era mais jovem.

sábado, 12 de novembro de 2016

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OPERATION MINDCRIME
Discos conceituais são algo complicado. Não em sua essência, mas em seu funcionamento. Na minha opinião, é preciso um raro equilíbrio para que o trabalho sobreviva como estória – já que é a isso que se propõe – mas que as suas músicas possam também existir isoladamente, que façam sentido dentro de um ambiente de show, intercaladas com outras canções dentro do setlist, sem a sensação de serem algo dependente de outras partes, anteriores ou posteriores. Dessa forma, creio que o Queensryche conseguiu conceber um dos melhores álbuns conceituais de todos os tempos! Lançado no mesmo ano de dois outros marcos do metal de alta patente, And Justice For All, do Metallica, e Seventh Son Of A Seventh Son, do Iron Maiden, a sequência das músicas, nesse disco, quando se considera que fazem parte de uma narrativa, soa tão natural que aparenta que a banda as compôs naquela ordem. Caso você o pegue para escutar de uma só vez, é perceptível a fluência, a coesão entre as faixas que soam realmente como um contexto, rumo a um clímax. Por outro lado, se você pincelar uma canção qualquer, ela também soará perfeita, com suas estrofes e refrão, única e plena em sua individualidade.
Evolução é uma palavra pouco utilizada quando se fala do Queensryche. É claro que ela existe, mas a discografia da banda, na fase em que contava com o guitarrista Chris DeGarmo, apresenta um repertório de tão alto nível, desde seu princípio, que os saltos evolutivos são mais discretos. Há diferenças, claro de Warning até Promised Land, mas elas não soam bruscas ou descaracterizantes da personalidade da banda. O Queensryche sempre pareceu estar em um patamar além. Mesmo se analisarmos o grupo exclusivamente dentro do nicho do prog metal, eles parecem existir em um espaço próprio, sem vínculo com as demais formações que executam esse estilo. Assim, o destaque de Operation Mindcrime não poderia ser outro que não fosse o carisma de cada música e é justamente por isso que não posso citar faixas individuais. A qualidade é altíssima em toda a audição. Lembrando que é um disco conceitual, pinçar uma música seria como dizer, por exemplo, que o capítulo 7 de um livro é melhor do que o capítulo 12.

Depois de Operation, o Queensryche ainda concebeu dois grandes discos e um equívoco – Hear in the Now Frontier – que marcou a saída de DeGarmo. Depois disso, foi uma sequência de trabalhos medianos e sem luz própria, além de uma tentaiva de retormar o sucesso de Operation, com uma continuação que mergulhou na obscuridade, demonstrando que o sucesso da banda dependia da combinação de talentos daquela formação, ao contrário do que demonstrou Geoff Tate, que, com sua vaidade, fez com que o legado do Queensryche desmoronasse até que houvesse a inevitável separação, cabendo à banda reiniciar suas atividades com outro vocalista e, surpreendentemente, retomar os dias de glória. Casos como o do Queensryche, ou do Accept, mostram que a imagem que um grupo projeta não está necessariamente atrelada à figura de seu frontman e, dentro do heavy metal, as coisas funcionam melhor assim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

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JOURNEY – ESCAPE
Não deve existir um subestilo mais datado do que o AOR. Falo isso sem submeter à palavra “datado” a carga pejorativa que geralmente lhe acompanha. Datado, aqui, é apenas referência ao auge do estilo, lá no intervalo entre 1976 e 1982. Sempre que eu escuto esse tipo de música, minhas recordações são arremessadas para essa época.
Não sei de onde se originou a denominação AOR, mas ela soa um pouco prepotente. Rock orientado para adultos? Há um certo grau de esnobismo desnecessário aqui. Uma insinuação de que o restante do que se faz sob a denominação rock seria voltado apenas para adolescente, o que não é bem verdade. O AOR é caracterizado pela sonoridade cruzada entre o progressivo, o hard e o pop, com uma tendência maior para o primeiro, mas sem se ater às longas suítes que o caracterizam. Algo como um progressivo mais apto às FMs, no tempo em que estas eram mais, digamos, ousadas. É um nicho musical onde podemos inserir bandas como Styx, Asia, Survivor, Toto, Boston, Kansas e, com boa vontade, até o Supertramp. Dentro desse rol, o Journey tem uma posição de destaque. Algo mais ou menos semelhante com o status que o Iron Maiden tem dentro do heavy metal.
Nada surpreendente quando vemos que o guitarrista Neal Schon formou a banda depois de passar uma temporada na companhia de Carlos Santana, com quem gravou dois discos, incluindo o progressivo Caravanserai. Depois de três álbuns de seu novo projeto, Schon iria receber o apoio do cantor Steve Perry e um novo capítulo da história do rock seria escrito.
Steve Perry é dono daquele timbre de voz que convencionamos chamar de angelical, podendo tranquilamente ser colocado em paralelo à Jon Anderson do Yes. Chamá-lo de vocalista é reducionista. Perry é um cantor, no mais estrito sentido denotativo da palavra. A partir de sua entrada, o Journey alcançou novos limites artísticos e comerciais, mas em Escape, as coisas tomaram outros rumos. Não vou dizer que Don´t Stop Believin seja a melhor música de sua carreira. Isso é muito subjetivo. Mas o certo é que essa canção ganhou vida própria, além do alcance de seus autores. É aquele tipo de canção que vira um fenômeno da cultura popular e todos conhecem, mas uma boa parte ignora de quem seja.
Todo o disco foi composto a partir das parcerias de Schon, Perry e do tecladista Jonathan Cain, que estreou aqui e permanece até hoje, sendo o segundo integrante mais longevo da formação, depois de Schon, firmando sua posição de destaque no grupo, tanto como compositor quanto como tecladista, em um gênero onde esse instrumento tem tanta importância nos arranjos quanto a guitarra. Escape não seria um trabalho clássico se se sustentasse apenas em Don´t Stop Believin e, portanto, tem várias outras canções que merecem ser referenciadas como Stone in Love, Still They Ride, a faixa título e, principalmente, a balada Open Arms. Em qualquer uma delas se percebe que, apesar da excelência de seus integrantes, ninguém parece brilhar sozinho. As músicas chamam a atenção pelo que são, não pelo guitarrista ter feito um solo extraordinário ou pelo vocalista ter quebrado uma taça de cristal. É por isso que, mesmo sendo um estilo ligado a um determinado período de tempo, a música do Journey não envelhece e permanece atual e relevante.