BLUE OYSTER CULT – SECRET TREATIES
Eu não consigo compreender muito bem porque é que alguns fãs
de rock – ou de música, no geral – fazem tanto esforço pra autolimitar suas
opções de fruição. Prendem-se tanto a um determinado estilo, ou a um numero
específico de artistas e não se interessam em conhecer outros trabalhos,
presentes, futuros ou antigos. É a lamentável postura do “não ouvi e não
gostei”
Ouvir algo apenas uma vez e fechar um veredito de opinião
também não é muito recomendável. A absorção de alguma obra pode depender do
momento que você está passando. Óbvio que eu falo apenas sob minha perspectiva
e o que serve pra mim não funciona pra outrem, mas foi assim que aconteceu
comigo em relação ao Blue Oyster Cult. Escutei algo da banda esporadicamente,
aqui e ali, e não me interessou muito. Um dia, porém, a música soou de outra
forma e eu fiquei com aquela sensação de “onde é que eu estava com a cabeça
antes?”. Não há explicação pra isso. Simplesmente acontece. Foi o momento
certo.
Talvez o erro tenha sido tentar conhecer a banda através de
uma coletânea. Geralmente, é um ótimo cartão de visita, mas nem sempre soa
adequadamente. Determinadados discos precisam ser ouvidos na íntegra. Determinadas
discografias merecem ser conhecidas na sequência.
Esse disco, Secret Treaties, por exemplo, é tão bom que você
vai elegendo suas músicas favoritas conforme elas são apresentadas, e, no
final, você não consegue mais separar uma das demais do conjunto. A primeira
faixa, Carrer of Evil, é um típico hard americano do começo dos anos 70 e fica
na sua cabeça por todo o resto do dia. A mesma representa uma autêntica
colaboração entre os músicos da cena novaiorquina, já que a música do BOC
permeia uma letra da grande poetisa punk daquela metrópole, Patti Smith. Eric
Bloom, que canta a maior parte das músicas, tem uma voz excelente para o
estilo. Está mais para o suave do que para o agressivo e chega até, em alguns
momentos, a lembrar o timbre de Bob Dylan, como transparece em certos trechos
da segunda música, Subhuman.
Ao longo de todo o trabalho, o Blue
Oyster Cult passeia por sua mescla de metal, hard e progressivo, que, guardadas
as individualidades mais herméticas, coloca a sonoridade do grupo como uma espécie
de versão norteamericana do Uriah Heep, havendo similaridades inclusive na
parte lírica, dada a predominância pelos temas místicos. Dominance and
Submission prossegue com a variedade do repertório e é seguida por ME 262, que,
para quem não sabe, é o modelo do avião que está na capa do disco. Depois de
Cagey Cretins e Harvester of Eyes, o disco encerra com dois clássicos
indispensáveis: Flaming Telepaths e Astronomy. Dois momentos absurdamente
divinos. Duas faixas cuja vibração mescla-se com a beleza, daquela forma que
faz com que você tenha vontade de entoar cada verso com ênfase. Não faltam
bandas no universo para serem conhecidas. Existem aquelas que ultrapassaram os
conceitos de gigantismo e existem aquelas que – justa ou injustamente – nunca
se erguerão para além dos nichos. Na interseção, estão as bandas que tenham
feito – ou ainda façam – sucesso, conceberam algo tão único que o tempo e as
tendências vão passar, mas o nome delas sempre será lembrado e cultuado. Assim
é o caso do Blue Oyster Cult. Minha opinião não deve ser de grande valia, mas
se por um momento puder ser levada em consideração, ouça esse disco, conheça
essa banda. Mesmo que você não goste, vai pelo menos ter vivenciado um pouco do
que os seus ídolos desfrutaram em suas juventudes, os discos que eles escutavam
quando estavam aprendendo a tocar.
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