domingo, 5 de abril de 2015



BLUE OYSTER CULT – SECRET TREATIES

Eu não consigo compreender muito bem porque é que alguns fãs de rock – ou de música, no geral – fazem tanto esforço pra autolimitar suas opções de fruição. Prendem-se tanto a um determinado estilo, ou a um numero específico de artistas e não se interessam em conhecer outros trabalhos, presentes, futuros ou antigos. É a lamentável postura do “não ouvi e não gostei”
Ouvir algo apenas uma vez e fechar um veredito de opinião também não é muito recomendável. A absorção de alguma obra pode depender do momento que você está passando. Óbvio que eu falo apenas sob minha perspectiva e o que serve pra mim não funciona pra outrem, mas foi assim que aconteceu comigo em relação ao Blue Oyster Cult. Escutei algo da banda esporadicamente, aqui e ali, e não me interessou muito. Um dia, porém, a música soou de outra forma e eu fiquei com aquela sensação de “onde é que eu estava com a cabeça antes?”. Não há explicação pra isso. Simplesmente acontece. Foi o momento certo.
Talvez o erro tenha sido tentar conhecer a banda através de uma coletânea. Geralmente, é um ótimo cartão de visita, mas nem sempre soa adequadamente. Determinadados discos precisam ser ouvidos na íntegra. Determinadas discografias merecem ser conhecidas na sequência.
Esse disco, Secret Treaties, por exemplo, é tão bom que você vai elegendo suas músicas favoritas conforme elas são apresentadas, e, no final, você não consegue mais separar uma das demais do conjunto. A primeira faixa, Carrer of Evil, é um típico hard americano do começo dos anos 70 e fica na sua cabeça por todo o resto do dia. A mesma representa uma autêntica colaboração entre os músicos da cena novaiorquina, já que a música do BOC permeia uma letra da grande poetisa punk daquela metrópole, Patti Smith. Eric Bloom, que canta a maior parte das músicas, tem uma voz excelente para o estilo. Está mais para o suave do que para o agressivo e chega até, em alguns momentos, a lembrar o timbre de Bob Dylan, como transparece em certos trechos da segunda música, Subhuman.

Ao longo de todo o trabalho, o Blue Oyster Cult passeia por sua mescla de metal, hard e progressivo, que, guardadas as individualidades mais herméticas, coloca a sonoridade do grupo como uma espécie de versão norteamericana do Uriah Heep, havendo similaridades inclusive na parte lírica, dada a predominância pelos temas místicos. Dominance and Submission prossegue com a variedade do repertório e é seguida por ME 262, que, para quem não sabe, é o modelo do avião que está na capa do disco. Depois de Cagey Cretins e Harvester of Eyes, o disco encerra com dois clássicos indispensáveis: Flaming Telepaths e Astronomy. Dois momentos absurdamente divinos. Duas faixas cuja vibração mescla-se com a beleza, daquela forma que faz com que você tenha vontade de entoar cada verso com ênfase. Não faltam bandas no universo para serem conhecidas. Existem aquelas que ultrapassaram os conceitos de gigantismo e existem aquelas que – justa ou injustamente – nunca se erguerão para além dos nichos. Na interseção, estão as bandas que tenham feito – ou ainda façam – sucesso, conceberam algo tão único que o tempo e as tendências vão passar, mas o nome delas sempre será lembrado e cultuado. Assim é o caso do Blue Oyster Cult. Minha opinião não deve ser de grande valia, mas se por um momento puder ser levada em consideração, ouça esse disco, conheça essa banda. Mesmo que você não goste, vai pelo menos ter vivenciado um pouco do que os seus ídolos desfrutaram em suas juventudes, os discos que eles escutavam quando estavam aprendendo a tocar.

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