sexta-feira, 25 de setembro de 2015



OMEN – WARNING OF DANGER

Artistas talentosos, que tem a infelicidade de morrer jovens, deixam-me um sentimento de saudade pelo que eles não fizeram. Saudade de uma obra inacabada, cujos frutos nunca serão conhecidos, mas especula-se que seriam grandiosos. Evidentemente que não me refiro a caras com Ronnie James Dio ou David Byron. Esses fazem falta e sempre farão, mas deixaram trabalhos suficientes para acalentar a sede por boa música e ocuparem definitivamente o panteão de ídolos eternos. Dimebag Darrel e David Wayne (Metal Church) são alguns que ficam em um espaço intermediário. Conseguiram registrar uma quantidade considerável de obras significativas, mas ainda poderiam ter feito muito mais.
Entre aqueles que incontestavelmente foram para outro plano antes da hora, estão caras como Randy Rhoads e Cliff Burton. Esses são sujeitos que sempre ficaremos apenas a imaginar os rumos que tomariam, o que ainda teriam para nos mostrar. É certo que a contribuição, para a música, de J. D. Kimball, vocalista falecido do Omen, não chegou a ter o mesmo impacto midiático que esses outros, e o fato do mesmo ter abandonado a carreira alguns anos antes de seu falecimento pode ter sido um indício de desinteresse com a mesma, mas isso não diminui sua contribuição e nem torna menos lamentável sua morte.
Eu considero que o Omen é o tipo de banda em que o coletivo é o grande destaque. Não havia um músico que se evidenciasse de forma extraordinária em relação aos demais, mas a voz de J. D. Kimball, com seu timbre pendendo para o lado grave, colaborou para que a banda se tornasse uma referência entre as que navegavam pelas águas do metal épico norte-americano. Não deve ser à toa que a perda de popularidade da banda coincida com a saída do vocalista de sua formação. Lançaram três grandes discos no intervalo de três anos e qualquer um deles poderia estar aqui, mas Warning of Danger tem aquela pequena vantagem de ter sido lançado no Brasil, o que sempre fortifica os laços que o público pátrio estabelece para preferir um ou outro álbum.
Warning of Danger é o segundo da discografia, e, ao som das primeiras notas da faixa-título, salta aos olhos a influência fortíssima de Manilla Road. Difícil apontar melhor indicativo para uma banda que prima pelas temáticas medievais. No álbum, além da música de abertura, também se destacam as faixas Ruby Eyes (Of The Serpent), que tem muitos toques de Iron Maiden, e Hell´s Gate, sendo que essa última é uma verdadeira oração viking em forma de música, transmitindo uma emoção sóbria e solene, totalmente aversa a qualquer gritaria espalhafatosa que caracteriza noventa por cento do que se faz nesse estilo hoje em dia.
Don´t Fear the Night tem um solo curto, mas muito bem feito pelo guitarrista Kenny Powell, que é o responsável por prosseguir com o legado da banda, mas a melhor faixa do álbum, juntamente com a já citada Hell´s Gate, é, de longe, Terminator. Essa música é um pequeno tutorial de três minutos e meio sobre o que é, de fato, heavy metal! Bateria incisiva, guitarra seca e um vocal cuspido marcam a obra-prima, que é a única do álbum que Kimball assina, em parceria com Kenny Powell.
O fato do Omen nunca ter transposto a barreira que o manteve entre as bandas do terceiro escalão do metal não significa nada para quem está sempre em busca de boa música. Seus discos estarão sempre conosco e, cada vez que os pegamos para ouvir, J. D. Kimball nos ajuda a lembrar o quanto é bom estarmos vivos.

Tão vivos quanto ele ainda nos soa.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015



RAMONES – ROCKET TO RUSSIA

Meu primeiro contato efetivo com os Ramones foi através de uma coletânea dupla em vinil, chamada Ramones Mania, adquirida na saudosa loja Francinet Discos. Devo confessar que o que ouvi me deixou um pouco confuso. O Ramones era uma banda punk e, efetivamente, encontrei isso no disco, mas havia algo inesperado naquelas músicas.
Minhas primeiras audições do que seria punk rock vieram com as bandas seminais brasileiras. Ratos de Porão,Cólera e Olho Seco principalmente, além, inclusive, de Mercenárias e Replicantes. Entre as bandas estrangeiras, a primeira que me lembro de ter tido contato foi o Sex Pistols. Tanto por um lado, como pelo outro, havia uma pegada bastante agressiva em todas elas, com guitarras fortemente distorcidas. O Ramones tem músicas bastante agressivas, sem dúvida, mas o que me chamou atenção mesmo foram as canções – e elas me pareceram ser maioria – com aquele clima dos grupos vocais de rock´n´roll e pop music que atuaram na virada das décadas de cinquenta e sessenta. Beach Boys, The Ronettes e rockabilly no geral são o embrião de inúmeras músicas como Ramona, I Wanna Be Well, Here Today Gone Tomorrow, Rockaway Beach e até mesmo, apesar do título, Sheena Is a Punk Rocker. Todas são músicas que escancaram a fonte em que o Ramones bebeu, bem como o empenho que eles tiveram para voltar ao básico do rock. Faixas curtas, sem nenhuma enrolação, direto ao ponto da melodia e do refrão. Músicas de uma época em que o rock podia ser naturalmente radiofônico. Não estou me referido a essa bobagem de que o progressivo e o AOR estavam dominando as radios, na década de setenta,  e o rock perdeu sua essência, blábláblá… Eu detesto esse tipo de argumento frágil em que um gênero tem que culpar o outro pela sua eventual perda de exposição. Existe gosto para tudo e as pessoas sempre vão ter preferência por um tipo ou outro de som, o que não faz com que nenhum deles passe a ser “melhor” do que o outro.
Tampouco eu creio que os Ramones queriam encabeçar algum revival do tipo. Eles apenas se empenharam em fazer a música que gostariam de escutar e isso basta para que se atinjam os objetivos almejados. Rocket to Russia foi o terceiro disco da carreira e o último com a formação original, contendo o baterista Tommy Ramone. A capa minimalista e eficiente replica em parte as intenções da capa do album de estréia. Uma foto em preto e branco da banda como ela é, mais afinada com o conceito de gangue do que de família, tão direta quanto as músicas contidas em sua embalagem. Nesse clima, faixas como Cretin Hop, Teenage Lobotomy ou We´re a Happy Family se adequam mais ao conceito de punk rock que ocupa meu imaginário, bem como, pela parte lírica, I Don´t Care comparece como exemplo perfeito de poesia punk.

Se os Ramones são repetitivos, que sejam dados os parabéns por essa característica, pois os coloca ao lado das melhores bandas do mundo, como AC/DC, Motorhead, ou até mesmo Rolling Stones, que são repetitivos no sentido de terem uma assinatura musical tão forte que rapidamente os identifica. Isso não é repetição, é personalidade, é foco. A música dos Ramones tem esse traço e nunca soa enfadonha. Somente os grandes podem ser assim.

sábado, 12 de setembro de 2015

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NEVERMORE – DREAMING NEON BLACK

Para a maioria dos fãs de heavy metal, preemente os mais antigos, a palavra modernidade nem sempre soa muito bem, em oposição ao carinho demandado perlo termo tradição. É fato que muita coisa que tenta soar moderna, na tentativa de sobrepor algumas regras básicas do estilo,  acaba gerando um som maçante, genérico e estéril. Não faltam, porém, bandas que consigam casar com sucesso a modernidade e a tradição. O Machine Head é um grande exemplo, mas a minha preferida nessa seara é o Nevermore.
Tendo lançado seu primeiro disco em 1995, logo após a implosão do grunge ocorrida com a morte de Kurt Cobain, o Nevermore, que coincidentemente é natural da mesma cidade de Seattle,  agregou toda a tradição do metal mais clássico praticado por sua encarnção anterior, o Sanctuary, com as tendências que caracterizaram a música feita nos anos noventa. O som do Nevermore pode ser definido na palavra monstruoso, no sentido de ser denso, emocional, agressivo, pesado e massivo como poucos conseguem ser. Tem alguns toques de melancolia, mas passando bem longe de ser considerado gótico, da mesma forma que as partes mais agressivas aproximam-se muito do thrash, mas não cruzam as delimitações do estilo. Em suma, a banda desenvolveu uma característica própria, sem muitas possibilidades de comparação, dificultando até mesmo apontar com precisão quais seriam os artistas que os influenciaram mais fortemente.
Muitos dos méritos da musicalidade obtida são da cozinha formada pelo baterista Van Williams e pelo baixista Jim Sheppard, mas o destaque da banda está, longe de dúvida, na linha de frente. Não há adjetivos suficientes para explicar como Warrel Dane e Jeff Loomis são icônicos em suas respectivas funções. Se as composições tivessem mais ganchos de acessibilidade, os dois estariam no topo do heavy metal mundial, mas não foi o caso. Arrisco, inclusive, a dizer que Jeff é o guitarrista mais genial dessa geração noventista.
Nos seus três primeiros discos, houve uma evolução gradual que culminou com esse album que, junto com o disco seguinte, Dead Heart in a Dead World, são o ápice da carreira do Nevermore. O disco abre em alta com Beyond Within, mas encontrará seus maiores clássicos na dobradinha I Am The Dog e Dreaming Neon Black, essa última com interpretação soberba de Warrel Dane, e prossegue em evidência com o peso da levada de Deconstruction. The Lotus Eaters e Poison Godmachine formam juntas outro momento em que a faceta mais melódica se encontra lado a lado com a pura agressividade, tensionada como uma explosão segundos antes de ser detonada.

Forever é a última faixa e encerra o disco com um toque de tristeza. Não mencionei todas as músicas do disco aqui, mas o album completo é soberbo e sua oscilação de climas casa com o fato de suas canções narrarem uma história de perda da pessoa amada. Tal qual o Nevermore prosseguiu com o legado do Sanctuary, o ciclo se fechou e, hoje, o reformado Sanctuary prossegue com o legado do Nevermore. No fundo são apenas trocas de nomes impostas por questões empresariais. O que importa é aquela característica de compor que permanece presente sob a condução de Warrel e Jim Sheppard. Resta torcer para que tornem a se entender com Jeff Loomis e tragam de volta à ativa essa que é uma das mais competentes bandas que o metal gerou. Resta torcer que, para o Nevermore, não exista o conceito de nunca mais.

sábado, 5 de setembro de 2015



ARMORED SAINT – MARCH OF THE SAINTS

1984 foi provavelmente o grande ano do heavy metal. O ápice, com discos que determinam as regras de avaliação, até hoje, do que é bom e do que não é. Em meio a tantos lançamentos antológicos e também em meio a explosão do surgimento do thrash metal, veio ao mundo o primeiro álbum do Armored Saint. Excelente banda, que executa um heavy metal tradicionalíssimo, mas que nunca teve a notoriedade merecida.
Talvez, se tivesse estreado um par de anos antes, a banda teria tido outro destino. Em nenhum momento eu pretendo sugerir que o Armored Saint, ou seus trabalhos, não tenham força suficiente. Muito pelo contrário. O Armored Saint é uma banda de excelência inquestionável e tem uma discografia absolutamente impecável, mas surgiu no meio de um turbilhão de qualidade e, por não ter se firmado no primeiro escalão o tempo e o mercado acabaram por convertê-la de atividade principal para projeto paralelo. O baixista Joey Vera e o vocalista John Bush chegaram, em momentos distintos da carreira, a ser cogitados para integrar o Metallica, mas o primeiro acabou por se envolver com o Fates Warning, e o segundo com o Anthrax, sendo até hoje considerado por muitos como o melhor vocalista na trajetória daquela banda. Tantas atividades paralelas também podem ser um dos motivos de estagnação da banda original, que ainda teve que lidar com o impacto da morte de um de seus membros. Essa, aliás, foi a única causa de alteração na formação da banda: o falecimento de David Pritchard e sua substituição por Jeff Duncan, o que demonstra um forte vínculo entre os músicos.
Nesse primeiro disco, que ainda tem o mérito de apresentar uma capa belíssima, de muito bom gosto, o Armored Saint, como o próprio nome já poderia sugerir, investiu em uma temática medieval, inclusive nas roupas de palco, mas com a sabedoria de não permitir que isso se tornasse uma prisão criativa. Temas diversificados são executados com absoluta naturalidade. Uma pequena intro instrumental é o ponto de partida para a clássica faixa-título, March of the Saint, uma música absurdamente empolgante, do tipo que você acompanha o refrão logo na primeira tacada. Todo o carisma típico da melhor tradição européia de bandas como Judas Priest ou Picture, temperados pelo modo americano de fazer heavy metal, dominam o repertório do trabalho. Existem muitas semelhanças com o que o Savatage fazia no começo da carreira e, também, um forte acento de hard rock sobrevoando as canções. O timbre de voz de John Bush soa muito natural, sem impostações forçadas, e transita facilmente entre climas diversos.

Seguindo March of the Saint, a banda insere de imediato mais duas composições que também tornariam-se clássicas em seu acervo: Can U Deliver e Mad House. Uma trinca de apresentação pra segurar o ouvinte e mantê-lo com o interesse em alta para todas as demais faixas, passando por Seducer, Mutiny on the World, até concluir tudo em False Alarm.  O fato do grupo ter retomado suas atividades sem muito estrondo reforça sua característica de cult. O prolongamento de sua carreira parece dar-se por dois motivos extremamente simples: amor à música e amor aos companheiros. Quando se tem os motivos certos, só se pode esperar grandes resultados e os fãs terão tanto a ganhar quanto os músicos.