sábado, 5 de setembro de 2015



ARMORED SAINT – MARCH OF THE SAINTS

1984 foi provavelmente o grande ano do heavy metal. O ápice, com discos que determinam as regras de avaliação, até hoje, do que é bom e do que não é. Em meio a tantos lançamentos antológicos e também em meio a explosão do surgimento do thrash metal, veio ao mundo o primeiro álbum do Armored Saint. Excelente banda, que executa um heavy metal tradicionalíssimo, mas que nunca teve a notoriedade merecida.
Talvez, se tivesse estreado um par de anos antes, a banda teria tido outro destino. Em nenhum momento eu pretendo sugerir que o Armored Saint, ou seus trabalhos, não tenham força suficiente. Muito pelo contrário. O Armored Saint é uma banda de excelência inquestionável e tem uma discografia absolutamente impecável, mas surgiu no meio de um turbilhão de qualidade e, por não ter se firmado no primeiro escalão o tempo e o mercado acabaram por convertê-la de atividade principal para projeto paralelo. O baixista Joey Vera e o vocalista John Bush chegaram, em momentos distintos da carreira, a ser cogitados para integrar o Metallica, mas o primeiro acabou por se envolver com o Fates Warning, e o segundo com o Anthrax, sendo até hoje considerado por muitos como o melhor vocalista na trajetória daquela banda. Tantas atividades paralelas também podem ser um dos motivos de estagnação da banda original, que ainda teve que lidar com o impacto da morte de um de seus membros. Essa, aliás, foi a única causa de alteração na formação da banda: o falecimento de David Pritchard e sua substituição por Jeff Duncan, o que demonstra um forte vínculo entre os músicos.
Nesse primeiro disco, que ainda tem o mérito de apresentar uma capa belíssima, de muito bom gosto, o Armored Saint, como o próprio nome já poderia sugerir, investiu em uma temática medieval, inclusive nas roupas de palco, mas com a sabedoria de não permitir que isso se tornasse uma prisão criativa. Temas diversificados são executados com absoluta naturalidade. Uma pequena intro instrumental é o ponto de partida para a clássica faixa-título, March of the Saint, uma música absurdamente empolgante, do tipo que você acompanha o refrão logo na primeira tacada. Todo o carisma típico da melhor tradição européia de bandas como Judas Priest ou Picture, temperados pelo modo americano de fazer heavy metal, dominam o repertório do trabalho. Existem muitas semelhanças com o que o Savatage fazia no começo da carreira e, também, um forte acento de hard rock sobrevoando as canções. O timbre de voz de John Bush soa muito natural, sem impostações forçadas, e transita facilmente entre climas diversos.

Seguindo March of the Saint, a banda insere de imediato mais duas composições que também tornariam-se clássicas em seu acervo: Can U Deliver e Mad House. Uma trinca de apresentação pra segurar o ouvinte e mantê-lo com o interesse em alta para todas as demais faixas, passando por Seducer, Mutiny on the World, até concluir tudo em False Alarm.  O fato do grupo ter retomado suas atividades sem muito estrondo reforça sua característica de cult. O prolongamento de sua carreira parece dar-se por dois motivos extremamente simples: amor à música e amor aos companheiros. Quando se tem os motivos certos, só se pode esperar grandes resultados e os fãs terão tanto a ganhar quanto os músicos.

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