ARMORED SAINT – MARCH OF THE SAINTS
1984 foi provavelmente o grande ano do heavy metal. O ápice, com discos
que determinam as regras de avaliação, até hoje, do que é bom e do que não é.
Em meio a tantos lançamentos antológicos e também em meio a explosão do
surgimento do thrash metal, veio ao mundo o primeiro álbum do Armored Saint.
Excelente banda, que executa um heavy metal tradicionalíssimo, mas que nunca
teve a notoriedade merecida.
Talvez, se tivesse estreado um par de anos antes, a banda teria tido
outro destino. Em nenhum momento eu pretendo sugerir que o Armored Saint, ou
seus trabalhos, não tenham força suficiente. Muito pelo contrário. O Armored
Saint é uma banda de excelência inquestionável e tem uma discografia
absolutamente impecável, mas surgiu no meio de um turbilhão de qualidade e, por
não ter se firmado no primeiro escalão o tempo e o mercado acabaram por
convertê-la de atividade principal para projeto paralelo. O baixista Joey Vera
e o vocalista John Bush chegaram, em momentos distintos da carreira, a ser
cogitados para integrar o Metallica, mas o primeiro acabou por se envolver com
o Fates Warning, e o segundo com o Anthrax, sendo até hoje considerado por
muitos como o melhor vocalista na trajetória daquela banda. Tantas atividades
paralelas também podem ser um dos motivos de estagnação da banda original, que
ainda teve que lidar com o impacto da morte de um de seus membros. Essa, aliás,
foi a única causa de alteração na formação da banda: o falecimento de David
Pritchard e sua substituição por Jeff Duncan, o que demonstra um forte vínculo
entre os músicos.
Nesse primeiro disco, que ainda tem o mérito de apresentar uma capa
belíssima, de muito bom gosto, o Armored Saint, como o próprio nome já poderia
sugerir, investiu em uma temática medieval, inclusive nas roupas de palco, mas
com a sabedoria de não permitir que isso se tornasse uma prisão criativa. Temas
diversificados são executados com absoluta naturalidade. Uma pequena intro
instrumental é o ponto de partida para a clássica faixa-título, March of the
Saint, uma música absurdamente empolgante, do tipo que você acompanha o refrão
logo na primeira tacada. Todo o carisma típico da melhor tradição européia de
bandas como Judas Priest ou Picture, temperados pelo modo americano de fazer
heavy metal, dominam o repertório do trabalho. Existem muitas semelhanças com o
que o Savatage fazia no começo da carreira e, também, um forte acento de hard
rock sobrevoando as canções. O timbre de voz de John Bush soa muito natural,
sem impostações forçadas, e transita facilmente entre climas diversos.
Seguindo March of the Saint, a banda insere de imediato mais duas
composições que também tornariam-se clássicas em seu acervo: Can U Deliver e
Mad House. Uma trinca de apresentação pra segurar o ouvinte e mantê-lo com o
interesse em alta para todas as demais faixas, passando por Seducer, Mutiny on
the World, até concluir tudo em False Alarm.
O fato do grupo ter retomado suas atividades sem muito estrondo reforça
sua característica de cult. O prolongamento de sua carreira parece dar-se por
dois motivos extremamente simples: amor à música e amor aos companheiros.
Quando se tem os motivos certos, só se pode esperar grandes resultados e os fãs
terão tanto a ganhar quanto os músicos.
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