DANZIG – DANZIG
É uma pena que o Danzig não tenha progredido para alguns
degraus acima do status que estava ocupando. E realmente eu digo “estava”,
pois, tal qual tantas e tantas outras bandas, o Danzig se enroscou na espiral
de trocas infinitas de membros e acabou por perder a sua identidade. Deixou de
ser reconhecido como uma banda e passou a ser visto apenas como Glenn e os seus
músicos contratados.
Também não foi muito útil, para a carreira da grupo, o fato
de Glenn ter uma postura inclinada para a arrogância. Sua tendência para se
meter em brigas acabou por afastar o interesse de algumas pessoas que se deixam
influenciar por motivos extramusicais. No entanto, o foco aqui é música e não a
personalidade ou vida pessoal dos músicos e, nessa perspectiva, é mais do que
óbvio que o vocalista era a figura principal ali, como o próprio nome da banda
deixa bem claro. Não poderia mesmo ser de outra forma, afinal, ele já era dono
de certa notoriedade, pela sua carreia como membro do Misfits e,
posteriormente, do Samhain. Mas, apesar de sustentar-se em uma figura central,
o Danzig funcionava perfeitamente como uma banda. Tinha uma ótima formação e
obteve uma solidez capaz de gerar quatro excelentes discos, lançados no
intervalo de seis anos, sendo esse presente álbum a sua estréia.
O Danzig criou uma identidade própria a partir de uma
inusitada mistura de influências. A banda soava, na maior parte do tempo, como
se fosse um cruzamento entre Black Sabbath e The Doors. Um doom metal com
acento fortíssimo de blues e com letras em um tom macabro mais aprofundado, em
oposição ao macabro no estilo filme trash que a banda inicial do cantor
praticava e ainda pratica.
Nessa primeira fase de sua carreira, a formação da banda era
a mesma que encerrou a carreira do Samhain, e foi também desse período que eles
trouxeram a faixa de abertura, que se tornaria o primeiro clássico da nova
empreitada, a música Twist of Cain. Essa faixa, com seu arranjo simples e
andamento moderado, já diz o que deve se esperar do Danzig. Um tipo de hard
metal setentista, pré-NWOBHM, sem arroubos de velocidade ou gandiosidade, mas
com bastante feeling e eficiência. Duas ótimas músicas surgem na sequência: Not
of this World e She Rides, sendo, essa última, bastante tendente para o blues,
influência já anteriormente mencionada, e isso deixa tanto essa, como outras
faixas, bem cantáveis. São pesadas, mas são dotadas de uma dose de melodia que
as torna acessíveis para o ouvinte médio, apesar da obscuridade lírica.
The Hunter e Am I Demon são outros destaques, mas, em termos
de evidência, ficam um pequeno passo atrás de Possession, que também foi
aproveitada do Samhain, e Mother, provavelmente a faixa mais conhecida do
Danzig. Daí pra frente, cada novo disco seria um passo adiante, em termos de
composição e produção, até o infeliz equívoco que foi Blackacidevil. Não tenho
nada contra o estilo industrial, muito pelo contrário, mas não compreendo a
empreitada de um artista em remanejar o curso de sua carreira para um caminho
sobre o qual não tem domínio ou intimidade. O resultado disso foi que o
restante da banda não embarcou no projeto e Glenn acabou sozinho, afetando a
trajetória ascendente que aos poucos galgava. Felizmente, o rumo da
musicalidade foi reajustado em álbuns posteriores e a formação atual mantém o
legado de uma banda com muita, muita personalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário