segunda-feira, 24 de agosto de 2015



IRON MAIDEN – PIECE OF MIND

O Iron Maiden, nos seus primeiros anos, era um ser em constante evolução. A cada novo disco, havia algum acréscimo em termos de arranjo, de pegada, que reafirmava e ao mesmo tempo melhorava o que tinha sido feito em seu passado. Catorze meses após ter explodido com The Number of the Beast, a banda lança o seu quarto álbum, Piece of Mind.
Não parecia haver limites que eles não pudessem extrapolar. As composições surgiam cada vez mais densas, mais elaboradas, com mais ênfase nas passagens instrumentais. Basta ver que a música que abre o disco, Where Eagles Dare, é, simultaneamente, uma típica faixa de início de álbum e, contraditoriamente, não é. Ela era impactante, mas também era muito instrumental e isso, em mãos inábeis, poderia ter diminuído a força da mesma. A força que uma música de abertura precisa ter. Nos seus seis minutos de duração, há um espaço de três minutos e meio, intercalando as aparições de Bruce Dickinson, ocupados por solos e variações ritmicas. Logo de cara, Steve Harris apresentou mais uma das fantásticas composições que criou sozinho, à altura de Phantom of the Opera, Hallowed be thy Name e, dentro desse mesmo disco, posicionada de forma a cercar todo o repertório, o épico To Tame A Land. Essa derradeira faixa é uma peça magnífica, inspirada no livro Duna. O fato de To Tame a Land estar posicionada no final do álbum, e ter o tipo de arranjo elaboradíssimo que tem, faz com ela soe para mim como se fosse a primeira música do álbum seguinte, tal a afinidade que tem o que ainda viria no futuro.
Se Harris veio com Where Eagles Dare, que ainda tem o bônus de conceder ao estreante Nicko McBrain a honra de executar os segundos iniciais de música do disco, Bruce Dickinson marcou de forma espetacular a sua primeira composição em um disco do Iron Maiden, com Revelations. São quase sete minutos de beleza, dramaticidade e dinamismo que confirmariam, mais uma vez, que ele era a pessoa certa no lugar certo. E para reafirmar isso, a música seguinte, feita em parceria com Adrian Smith, relativamente curta dentro do repertório do álbum, tornou-se uma das melhores canções da banda: Flight of Icarus é uma canção certeira, sem excessos, mas que tem todas as suas partes extremamente bem resolvidas, bem amarradas: introdução, estrofes, refrão, encerramento, tudo concebido com talento ímpar de composição.
As duas faixas seguintes são semelhantes no ritmo acelerado, mas Die With Your Boots On não teve a mesma sorte de The Trooper, eternizada nos setlists. Em todo caso, o melhor ainda estava por chegar e é curioso ver que Dave Murray, que assina tão poucas composições na banda, é co-responsável pela minha música preferida do Iron Maiden: Still Life. Somente uma banda com um repertório tão rico em opções pode se dar ao luxo de deixar em escanteio uma música como Still Life, também – e injustamente – ausente dos shows. O começo sutil, que evolui aos poucos, para a levada explosiva que a caracteriza, até a catarse do refrão, descrevem esse clássico. Até então, Murray só tinha crédito em Charlotte the Harlot e em Twilight Zone, mas Still Life é um salto imenso de qualidade sobre uma obra que, mesmo pequena, já era dotada de evidente excelência.

Das três últimas faixa, tirando a exuberância da já citada To Tame A Land, o destaque é Quest For Fire, que não nega ter sido composta também por Harris, visto a magnífica linha de baixo da mesma, que domina toda a sua duração. O Iron Maiden já era merecedor do status de banda da qual se espera muito e Piece of Mind correspondia a essa expectativa. Powerslave, o título do disco seguinte, era, de certa forma, um mero jogo de palavras que descrevia uma realidade evidente: A escravidão já tinha sido deflagrada.

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