sábado, 26 de dezembro de 2015




MOONSPELL – WOLFHEART

Correndo o risco de cair em erro, por não conhecer o cenário mais profundamente, creio que o Moonspell seja a maior banda de metal surgida em Portugal. É uma sensação que provavelmente pode ser análoga ao que ocorreu com o Sepultura, quando despontou para o mercado mundial. Na crença de muitos estrangeiros, o Sepultura seria a única banda de metal do Brasil, o que estava muito longe de ser verdade. Antigamente essa atitude poderia até ser interpretada como desrespeito ou desdém, vindo de lá pra cá, mas quando a gente se coloca no outro lado, como podemos fazer agora em relação às bandas portuguesas, vemos que não é bem assim. Estamos, de certa forma, condicionados ao que a mídia especializada adota para divulgar e nos acomodamos um pouco com essa fonte de informações, sem dedicarmos nosso tempo – já tão escasso – para rastrear, por conta própria, coisas novas ou diferentes.
Porém, de modo algum isso deve ser dito como sugestão de que o Moonspell não merece o destaque que tem. Merece, e muito! E esse mérito não tem nada a ver com sua origem. Nesses vinte anos percorridos entre o lançamento desse seu primeiro disco, precedido apenas por um EP datado do ano anterior, até hoje, a banda é um ser em constante evolução, inovando e desafiando limites sem, porém, nunca se afastar de seu estilo.
E o estilo dos lusitanos é uma mescla bem dosada de metal gótico, com acréscimo de doses de black metal, tudo emoldurado por elementos da cultura portuguesa, reforçados pelo fato da banda utilizar tanto o idioma pátrio quanto o bretão em suas canções. Todas essas características já se fazem presentes na primeira música, Wolfshade (A Werewolf Masquerade), sendo que os toques de black metal podem ser identificados na interpretação do vocalista Fernando Ribeiro, que também alterna suas performances com momentos mais melódicos, fazendo uso de seu timbre naturalmente grave.
A partir desse álbum, a formação do Moonspell se estabilizou, havendo rotatividade apenas no posto de baixista, que por algum período chegou a ser ocupado pelo brasileiro Sérgio Crestana. Apesar disso, o que se percebe a partir desse álbum de estreia, é o entrosamento de uma banda bem direcionada, com talento e carisma suficiente para tornar grandiosas músicas de estruturas razoavelmente simples. Wolfheart chama atenção logo a partir da capa, agressiva, fria e bela, e que lhe incita a querer conhecer o conteúdo musical nela contido. Gostando-se ou não de metal com elementos góticos, não há como ficar impassível ante canções tão fortes quanto Alma Mater, An Erotic Alchemy ou Vampiria, todas tão cativantes que acabam por parecerem ser mais curtas do que realmente são. A música Of Dream and Drama (Midnight Ride) apresenta alguns elementos de interpretação que remetem a algumas coisas feitas por Glenn Danzig, quase como se esse estivesse cantando alguma canção dos primórdios do Paradise Lost.

Eu compreendo, e na maioria das vezes concordo, que os rótulos gothic metal e black metal tendem a afastar o interesse de alguns. No entanto, na forma como eu vejo, o Moonspell não está preso a esses nichos, e nem a nenhum outro. É uma banda criativa e que, a cada ano, consegue avançar e incorporar novos elementos dentro de suas propostas. Merece, por isso, ser conhecida, antes de ser pré-julgada. Wolfheart ainda é a melhor porta de entrada para a sua discografia.

sábado, 19 de dezembro de 2015



LYNYRD SKYNYRD – PRONOUNCED LĚH-NÉRD SKIN-NÉRD

Vou começar invertendo a sequência natural das coisas e falando logo de Freebird e do que ela me transmite. Antes de mais nada, tem que ser registrado que Freebird é uma daquelas músicas que transcedem da existência de seus criadores, tornando-se um ser independente da banda. Ela está acomodada tranquilamente entre tantas outras canções que viraram hinos da música. E talvez nem fosse assim caso ela soasse de outra forma, distinta de como soa. Freebird é, para mim, uma espécie de milagre de produção. Eu não consigo escutá-la e absorver a idéia de que foi gravada no ambiente frio de um estúdio, provavelmente em takes diversos. Ela soa muito viva, muito livre, com a permissão do trocadilho. A interpretação da música, perpetuada nesse primeiro disco do Lynyrd Skynyrd, tem espontaneidade e emoção condizentes com a de uma performance ao vivo, em uma noite inspirada, e o fato de possuir aquele que é, para mim, um dos cinco melhores solos de guitarra já registrados para uma canção, a torna ainda mais grandiosa.
O que eu disse para Freebird pode também ser lido para Simple Man e Tuesday Gone, que são os outros dois grandes clássicos desse disco. Das três, Simple Man é a mais compacta, em termos de duração, mas Freebird e Tuesday Gone ultrapassam o formato radiofônico e assumem as características de jams. Ambas são parcerias do vocalista Ronnie Van Zant com o guitarrista Allen Collins, embora ele só assuma o solo na primeira, deixando o solo da segunda com o colega Gary Rossington.
 A estreia do Lynyrd Skynyrd apresentou ao mundo uma banda absolutamente segura, com um som tão robusto quanto o era a sua formação em septeto, com três guitarristas dividindo as funções de solista ao longo das faixas. O grupo, originário da Florida, é um dos grandes baluartes e referências do rock sulista americano e fez um trabalho tão primoroso que sequer parecia que esse ainda era apenas o seu primeiro álbum. Como é característica de muitas bandas desse cenário, o Lynyrd Skynyrd não tem um vocalista com alcance além do extraordinário, tão prolíficos naquela década de setenta, mas tem, na figura icônica do saudoso Ronnie Van Zant, um vocalista inspirado, além de excelente letrista, adequado ao estilo que a banda executava, e com o tipo de voz que contribuía para deixar as músicas com aquele sabor especial de bourbon.
A origem da banda não poderia alienar os músicos de suas raízes, daquilo que já foi feito de melhor naquela região do país, que é o blues. Por isso soa mais que perfeita a dobradinha entre as canções Things Going On e Mississipi Kid, que mergulham fundo nesse tipo de sonoridade. Equilibrando o disco, ao lado das canções mais blues e das mais emotivas, está o lado hard rock da banda, representado nas faixas I Ain´t the One, Poison Whiskey e na também clássica Gimme Three Steps.

É claro que sempre vem à lembrança a tragédia que abalou o grupo anos depois e afetou a sua carreira, mas o Lynyrd deve ser lembrado, sempre com mais ênfase, no que proporcionou ao mundo em seus primeiros anos. Fazendo música pela música, de uma forma que apenas um seleto grupo de bandas, nas quais eu incluo Led Zeppelin, Free e Grand Funk Railroad, sabia executar, unindo emoção, simplicidade e dinâmica, formatando, em definitivo, as tendências musicais mais emblemáticas do rock no começo dos anos setenta. 

sábado, 12 de dezembro de 2015



TNT – KNIGHTS OF THE NEW THUNDER

Confesso que, em relação a esse disco, ocorreu uma lacuna na minha formação musical. Mas, também, não dá pra escutar tudo, não é? E se isso é verdade hoje, nos idos tempos também era.
Mas eu explico. Esse disco estava sempre na prateleira das lojas, esperando por quem o levasse. Eu o manuseava, admirava a capa, o título, tudo muito legal e de bom gosto, mas, no momento de disputar o salário de estagiário, ele sempre perdia a disputa com os nomes mais populares disponíveis, tipo Dio, Ozzy, Iron Maiden, AC/DC, Saxon, Scorpions, Black Sabbath, Accept ou Judas Priest. Além desse detalhe, pesou também o fato de que nenhum de meus amigos mais próximos, com os quais eu emprestava discos ou gravações, tinha esse album. Ele sequer era mencionado nas conversas e, portanto, a passagem do tempo fez com que eu acabasse por esquece-lo em definitivo.
Até que, vários anos depois, após o vento ter feito com que voassem as folhas do calendário, um de meus amigos mencionou o disco em um tópico do orkut, usando a palavra “discaço” para defini-lo. Foi o momento em que me voltou à lembrança a existência da banda e o fato de nunca ter escutado o disco. Felizmente, lapsos dessa natureza podem ser preenchidos a qualquer tempo e esse foi o caso. O disco, lançado pela banda norueguesa TNT, transita muito próximo do modo americano de fazer hard rock, puxando mais para o lado AOR do estilo do que para o lado espalhafatoso que muitas bandas do estilo gostam de praticar. Essa pegada mais sóbria já fica clara a partir da primeira música, Seven Seas, que é na verdade um hino, daqueles perfeitos para fazer o encerramento de um show.
Mas Knights of the New Thunder é também um disco de heavy metal e, quando a banda ataca com essa intenção, ela soa bem na linha Judas Priest, como fica transparente logo no começo de Ready to Leave. Essa faixa, por sinal, mescla o lado heavy metal com o hard rock, utilizado no refrão, de maneira muito inteligente, fazendo uma fusão natural, sem que pareça que são duas bandas distintas ocupando a mesma capa de disco.
Poucos povos tem mais autenticidade para falar de Thor do que os noruegueses, e essa herança cultural é responsável por uma das faixas que, só não é ainda melhor, porque é muito mais curta do que poderia ser. Thor with the Hammer é um destaque dentro do álbum e tem mais um refrão excelente. Assim o são também a hard Break the Ice e a rápida Deadly Metal, onde a influência do Judas Priest aparece de novo com bastante evidência. A última música do disco, Knights of the Thunder, faz o seu papel de encerramento com muita categoria, pois tem uma palhetada marcial, circundada pela melodia central, que transmite um clima épico carregado de dramaticidade.

 Não é, portanto, o caso de lamentar não ter tido contato com o álbum em sua época de lançamento, afinal, se isso fosse um problema, eu estaria lamentando por cada banda setentista que eu descobri, ou continuo descobrindo, tardiamente. Se ainda estamos falando em TNT, isso é resultado de eles terem concebido esse excelente disco. Ou melhor, esse discaço!

sábado, 5 de dezembro de 2015



OZ – FIRE IN THE BRAIN

Em algum momento, no começo dos anos noventa, a Finlândia, tal qual sua vizinha Suécia, ambas na região européia conhecida como Escandinávia, tiveram uma explosão de bandas que fez com que os radares do heavy metal mundial se voltassem para acompanhar o que estava acontecendo ali. A Suécia teve uma explosão maior, mas a Finlândia revelou nomes que hoje estão entre os mais lembrados do estilo, com uma forte base de fãs, tais quais Amorphis, Children Of Bodom, Impaled Nazarene, Nightwish, Sinergy, Sonata Arctica, Stratovarius e Turisas.
No entanto, lá no começo dos anos oitenta, na fase áurea do estilo, surgiu uma banda naquele país que, antes, só era lembrado em termos de música pesada por causa da existência do Rattus, grupo seminal do hardcore. A tal banda, denominada Oz, não extrapolou os limites do underground, mas fez um trabalho de qualidade, que é o foco aqui. Fire in the Brain, lançado em 1983, é o seu segundo disco, e é considerado o clássico de sua discografia.
A Primeira vez que eu tive contato com o grupo foi também nos anos 80, através de uma fitinha cassete gravada por um amigo, no formato de coletânea. Não me lembro de tudo que tinha na tal fita, mas sei que tinha Manowar, Trouble e Mercyful Fate, além do Oz. A música do Oz selecionada para a coletânea foi a faixa de abertura do disco Fire in the Brain, Search Lights, impossível de ser esquecida por causa do grunhido que marca sua introdução. A faixa era excelente, mas demorou quase vinte anos para que eu pudesse conhecer o resto do disco e, devo dizer, a espera valeu, pois todas as composições do álbum são de muito bom gosto. Metal tradicional em grande forma, lembrando fortemente o que os holandeses do Picture também estavam fazendo.
Não consigo vislumbrar nenhuma outra comparação, mais precisa do que a com o Picture, para poder situar quem ainda não conhece esse disco. A faixa Fortune é bem sintomática em relação a essa semelhança, mas isso em momento algum quer dizer que o Oz imitava aquela banda. Tanto uma, quanto a outra, soam dessa forma porque ambas trabalhavam em cima do que existia de melhor em termos de heavy metal naquele tempo. Mais precisamente falando, a escola britânica, conhecida como New Wave of British Heavy Metal, que agregava peso sem extremismo com melodia sem afetação.

Esse não é um daqueles discos que mudaram o curso das coisas, apontaram novos caminhos para o estilo ou qualquer outro tipo de quebra de padrões. É um disco honesto de metal. De bom heavy metal, do tipo que hoje em dia só se encontra em bandas revivalistas. Portanto, nunca deixe de explorar o passado, ao mesmo tempo em que percorre o presente, pois a fonte é infinita e tudo acaba por se mesclar. Se duvidar, ouça o disco e veja que músicas como Black Candle, Gambler ou Megalomaniac não envelhecem. Soam tão bem como devem ter soado trinta anos atrás, em um país que almejava ser visto no mapa mundi do heavy metal.

sábado, 28 de novembro de 2015



METAL CHURCH – THE DARK

O Metal Church tem, em sua carreira, um grande clássico: o álbum de estréia auto-intitulado. Um disco tão maduro, tão bem composto, arranjado e produzido que mal parece ser o primeiro trabalho de uma banda iniciante. Não creio que qualquer ser vivente que seja fã do estilo tenha passado incólume ante a qualidade e a vibração deste disco, que marcou e marca até hoje qualquer um que o tenha escutado.
Eu quase concordo com tudo que foi escrito acima.
O parágrafo, porém, contém em seu teor uma falha que o torna impreciso. O Metal Church não tem apenas um grande clássico.
Ele tem dois grandes clássicos! É um erro crasso considerar The Dark um disco inferior em relação ao álbum de estreia mas, infelizmente, muita gente tem essa opinião.
The Dark é o único disco que ainda mantém a mesma formação do primeiro álbum e é tão bom quanto este. É diferente? Claro que sim! Ele parece soar um pouco mais retilíneo do que a estreia, que tinha mais exercícios de mudanças de andamento, mas é dotado do mesmo grau de excelência. Talvez a mudança mais facilmente identificável esteja na forma como está atuando o baterista Kirk Arrington, já que no primeiro álbum, ele executa muitas viradas e, em The Dark, se mantém mais contido, mais fixo ao ritmo, sem, porém, deixar de apresentar uma atuação soberba no instrumento.
Amparado por uma capa simples e genial, o disco abre, de cara, com Ton of Bricks, faixa de título perfeito, onde a banda já demonstra o que pretende, com uma música curta e direta, mas que soa absolutamente como Metal Church. Talvez, justamente pelo fato de ser curta, ela evidencie a diferença entre esse disco e o anterior, que iniciava com duas músicas mais longas. De qualquer forma, desde que a ouvi pela primeira vez, Ton of Bricks ingressou para minha lista de músicas favoritas da banda.
Assim como também o é a faixa seguinte, Start the Fire, outra música cativante, de ritmo preciso e com um refrão forte, entoado pelos backing vocals. Clássico instantâneo, ao lado de Line of Death e, pricipalmente, a emocionante Watch the Children Pray, provavelmente a faixa mais conhecida do disco, graças ao primeiro vídeo clip produzido pela banda, bastante sóbrio e bem feito, condizente com a canção.
Embora o guitarrista Kurdt Vanderhoof pudesse fazer o papel de líder da banda, as parcerias de composições são bem distribuídas entre todos, concentrando mais no trio entre Vanderhoof, o também guitarrista Craig Wells e o saudoso vocalista David Wayne, mas com participações esporádicas dos demais membros. Talvez venha daí a diversidade que o disco contém e que é representada não só na faixa-título, mas também na rapidez de Psycho e nas levadas de Over My Dead Body, Burial at Sea e, com destaque, na fluidez de Method to your Madness, uma música pesada e vibrante, mas ao mesmo tempo dotada de um carisma absurdo, que faz você querer reouvir por diversas vezes.

Infelizmente, é necessário reconhecer que o Metal Church é outra daquelas bandas cuja dinâmica interna truncou o seu caminho para os níveis mais elevados de popularidade. Trocas infinitas de membros, em momentos cruciais da carreira, como esse início de passos certeiros, tendem a alienar a boa vontade de alguns fãs. Não foi o meu caso e provavelmente também não o foi para muitos, mas apesar de apreciar o disco seguinte, com o vocalista Mike Howe, me parece que algo foi gradativamente se perdendo, e o que era uma curva ascendente passou a apontar para baixo. O Metal Church, porém, nunca perderá seu lugar na memória dos fãs e essa perenidade é cortesia do que foi realizado em seus dois primeiros discos.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015



LOUDNESS – DISILLUSION

Sempre, durante a semana anterior ao lançamento de uma nova resenha, eu dedico algum tempo para reescutar o disco sobre o qual pretendo escrever, para ver que ideias ele me desperta. Essa é, indubitavelmente, a melhor parte de todo o processo. Eu nunca escrevi sobre algum disco de que não gostasse, mas por conta daquelas desconhecidas razões que a gente não explica, tem certos discos que acabam sempre sendo um pouco mais especiais, trazendo lembranças que mesmo outros preferidos da casa não despertam. É o caso desse álbum do Loudness, uma das minhas primeiras aquisições de fita cassete vinda de algum lugar do país. Foi uma escolha aleatória, entre diversas opções de um catálogo repleto de nomes até então desconhecidos para mim, portanto eu não posso reclamar da sorte.
Se tem algo que eu curto bastante é a chance de escutar meu estilo de música favorito nos mais diversos sotaques. Nada daquela coisa de inserir forçosamente trechos típicos das melodias folclóricas locais para expor sua etnia: “olhem como eu sou espanhol” ou ”olhem como eu sou francês”, e por aí vai. Eu prefiro que a música me soe espanhola, francesa ou japonesa apenas pelo fato de estar sendo tocada por espanhóis, franceses ou japoneses. Assim é como é feito pelo Baron Rojo, pelo Trust e assim é como é feito pelo Loudness.
Em qualquer dos casos, porém, passado o estranhamento inicial, os ouvidos se acostumam e a gente desfruta plenamente de um excelente disco de heavy metal. Um daqueles que nos traz a satisfação íntima de conhecer o estilo e ter a chance de apreciar um trabalho tão bom, tão inspirado. O guitarrista Akira Takasaki, compositor de todas as faixas, que tiveram letras do vocalista Minoru Niihara, demonstrou um talento absurdo para criar músicas pesadas e ganchudas ao mesmo tempo. Akira, como pode ser percebido pelas instrumentais Anthem e Exploder, navegava bem próximo daquela pegada que viria a fazer a fama de Yngwie Malmsteen. Traços de Scorpions, Van Halen e Accept também podem ser identificados aqui e ali. Que me perdoem os fãs da fase mais americana da banda, cujo grande marco inicial é a música Crazy Nights, mas essa canção tem respaldo apenas para ser lado B de qualquer outra música deste Disillusion.
Tá certo que Crazy Nights é uma música legalzinha e tal, mas todo o repertório de Disillusion se encontra bem além dessa definição. Eu não consigo estabelecer uma ordem de preferência entre Esper, Dream Fantasy, Ares Lament, Milky Way, Crazy Doctor, Butterfly, Revelation ou Satisfaction Guaranteed. São todas exemplos do heavy metal mais puro e original, sem misturas, sem tendências, sem subestilos. Apenas heavy metal. Recomendadíssimo principalmente para aqueles que são mais chegados na pegada do comecinho dos anos 80.

Escrever isso me fez lembrar que eu nunca procurei conhecer melhor outras bandas daquele país, como Earthshaker, Bow Wow, EZO e Anthem, sendo que as duas últimas tiveram até discos lançados no Brasil. Todas estão entre as primeiras bandas japonesas, contemporâneas do Loudness, então dá pra ouvir sem medo de esbarrar com essa modinha atual de j-rock. Vou, portanto, aproveitar a deixa para preencher essa lacuna e lembrar sempre o quanto essa é uma forma de expressão universal.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015



PARADISE LOST – GOTHIC

Para a maioria das pessoas, e a imprensa musical em geral, Draconian Times é o grande disco do Paradise Lost, o ápice da carreira. Concordo que é um grande álbum, sem dúvida nenhuma, mas eu me tornei fã da banda após a audição, e consequente aquisição, de Gothic, seu segundo disco, sendo que esse ainda é para mim o melhor trabalho deles, seguido de perto por Icon, Shades of God, e só então Draconian Times, necessariamente nessa ordem.
Draconian Times deu um impulso forte na carreira dos ingleses, não só pela qualidade evidente, mas também pela exposição massiva que o mesmo teve através da exibição de clips na MTV. A crítica que eu faço ao álbum é pelo fato dele me soar muito influenciado pelo Metallica. Parece-me que a voz de Nick Holmes está, nesse disco, com um timbre excessivamente semelhante ao de James Hetfield e esse tipo de coisa sempre costuma me incomodar bastante. Nada contra Metallica ou Hetfield, evidentemente, mas o Paradise Lost já surgiu com seu estilo bem definido, com características perceptíveis que ecoam até hoje em seus discos e era, assim, desnecessário emular aspectos tão evidentemente individuais de outros artistas.
Em Gothic, o clima era bem outro, mais espontâneo. Tudo que você precisa saber sobre a banda Paradise Lost já está presente nos primeiros minutos da faixa título, que abre o álbum. O timbre gutural na voz se foi, amenizado ao longo dos álbuns e voltando a se fazer presente nos dias mais recentes, esporadicamente de acordo com os arranjos, mas o clima gótico e melódico, que mescla drama e agressividade, tristeza e melancolia, sempre continuou, mesmo quando a banda fez experimentos mais modernos.
Junto de Nick Holmes, a outra cabeça pensante da banda, na divisão das composições, é o guitarrista Gregor Mackintosh, responsável pelas melodias executadas com o apoio do também guitarrista Aaron Aedy. O quinteto, completado pelo baixista Stephen Edmondson e pelo baterista Matthew Archer conceberam um clássico que foi imediatamente galgado para o coletivo de discos que abriram as portas do doom metal gótico. Além da faixa de abertura, músicas como Shattered, The Painless, Falling Forever e Eternal, surgiram como um sopro de novidade naquele começo da década de noventa, quando os conjuntos de heavy metal estavam meio que perdidos entre a explosão de bandas alternativas, a explosão de bandas extremas e a desorientação dos artistas clássicos do gênero, que não sabiam para onde deveriam atirar. Embora o que o Paradise Lost fez acabou se multiplicando como uma espécie de praga, fenômeno que ocorre sempre que algum artista se destaca com força ao incorporar ou misturar novos elementos em algo que já vinha sendo realizado, isso não desmerece sua obra e seu legado.
Tanto que a banda continua ativa e se renovando até os presentes dias, mantendo uma solidez na formação, com exceção do posto de baterista, que sofreu alterações ao longo do tempo. O Paradise Lost tornou a crescer na medida em que foi paulatinamente retornando à sua sonoridade genuína e natural, até chegar no ponto atual, onde soa como o cruzamento entre Gothic e Draconian Times. Execelente! Agradou à mim e agrada a maioria das pessoas.



sexta-feira, 6 de novembro de 2015



KISS - CREATURES OF THE NIGHT

1982. Em março é lançado The Number of the Beast; em abril, Blackout; em julho, Screaming for Vengeance. Nesse mesmo mês de julho, o Kiss entra em estúdio pra gravar seu novo disco. Não é novidade que a banda vinha de uma fase meio problemática, com três discos que não foram muito bem sucedidos (Dynasty, Unmasked, Music from the Elder). Havia terreno para recuperar e, como pode ser percebido pelo começo do parágrafo, o rock pesado estava se impondo com força no mercado fonográfico. E isso olhando apenas pelo lado europeu, pois, em casa, na América, bandas como o Van Halen já dominavam com força as vendagens de discos.
Provavelmente, então, de olho na concorrência, o Kiss concebeu um de seus discos mais pesados, para recuperar terreno e se impor em pé de igualdade perante tantas bandas que surgiam. Não que o Kiss fosse um grupo de heavy metal. Não é, apesar de transitar aqui e ali, com desenvoltura pelo estilo e, para provar isso, gerou esse álbum. War Machine, Killer, Creatures of the Night, Rock and Roll Hell e Danger são, sim, heavy metal da melhor qualidade. Qualquer resquício de dúvida poderia ser expurgado apenas pela audição da balada do disco. I Still Love You é uma música densa, com um tipo de intensidade que passa longe, muito longe, do acento mais pop de canções como Beth ou Sure Know Something.
Como se não bastasse a excelência musical, o pacote se completava com a capa icônica e bem produzida e com os shows da primeira vinda da banda ao país, despedindo-se temporariamente das famosas máscaras. Sangue, explosões e a bateria gigante montada em cima de um canhão! Não estive lá, evidentemente, mas pude assistir a turnê de aniversário do Alive em 2008 e, posso dizer, mesmo com 26 anos de diferença entre os dois eventos, I Love it Loud, o carro-chefe do disco, cujo coro é absolutamente inconfundível, continua empolgante.
Nem tudo são flores porém. Uma característica do Kiss como banda, ou talvez seja melhor dizer como empresa, que pode vir a incomodar os mais puristas, é a tendência de gravar os seus álbuns com músicos que não pertencem à formação. Ace Frehley está na capa do disco, e no clip de divulgação, mas é só. Você não ouvirá uma nota sequer gravada por ele, pois na maior parte das músicas quem faz o serviço é aquele que viria a ser o seu substituto, Vinnie Vincent. Além dele, outros músicos também participaram, inclusive gravando partes de baixo. 

Isso pode vir a criar questionamentos do Kiss como banda, mas nunca do Creatures of the Night como produto finalizado. O disco é um dos ápices de uma carreira que teve poucos baixos. Quer você queira considerá-los como banda ou empresa, essa sempre será uma discussão inócua quando música boa estiver no meio da equação, inclusive porque, quando você se apaixona por um álbum, o que importa é, e sempre será, as canções nele contidas. Detalhes de produção são coisas que só interessam a quem já formou uma opinião e quer se aprofundar. Dificilmente modificariam a opinião sobre a música propriamente dita. Com tanta bobagem presunçosamente intelectualizada rolando, é bom que ainda esteja entre nós uma banda cuja maior pretensão seja ser divertida. Nesse quesito, o Kiss dificilmente é superado.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015



JUDAS PRIEST – PAINKILLER

Não me canso de dizer o quanto o Judas Priest significou – e significa – para mim. Digo com sinceridade, e sem querer fazer qualquer alarde barato, que gosto de todos os discos da banda. Todos. Imagino que, quando se diz isso, a primeira idéia que vem na cabeça da maioria é “até o Turbo?”. Sim, gosto muito do Turbo, é um disco com músicas excelentes e que, na minha opinião, pecou apenas pelo lado da produção. As mesmas músicas, com uma produção mais crua, extraindo modismos desnecessários como as tais guitarras sintetizadas e tirando aquele eco da bateria, revelariam ao mundo um disco que, claro, não seria o melhor na discografia, mas também não faria feio perante outros álbuns.
De qualquer modo, para a opinião geral, Turbo passou longe de ser uma unaminidade e, em reação, o disco seguinte veio procurando resgatar a sonoridade típica da banda. Ram it Down é um ótimo álbum, tem músicas fantásticas, mas se não fosse a comparação com o trabalho anterior, provavelmente seria mais um na discografia.
Cheguei até aqui para dizer que, quando fui ouvir o Painkiller na loja, esperava escutar mais um bom disco do Judas, uma continuação de Ram it Down pelo menos. Um disco que empolgaria, sem necessariamente precisar lhe arrebatar. Nunca poderia imaginar o que viria pela frente. A loja estava cheia de gente, amigos meus conversando, mas quando Painkiller começou eu me perdi completamente de qualquer acontecimento ao redor.
De bandas veteranas, a gente espera discos bons, com qualidade e tal, mas dificilmente elas surgem com algo que exale tanta fúria, tanto impacto. O Judas Priest já completava dezesseis anos e onze discos desde sua estreia fonográfica, então um certo nível de acomodação chega a ser aceitável, principalmente para quem já fez tanto na carreira, mas Painkiller surgiu para bater de frente, e até sobrepujar, muitos trabalhos de gerações mais novas.
Esse resultado não teria sido atingido se não tivesse havido alguns ajustes na formação, mais precisamente no posto de baterista. Dave Holland era um grande baterista e fez um trabalho de destaque no British Steel, mas depois disso foi ficando mais e mais acomodado e burocrático. Painkiller não teria sido o que foi se não tivesse havido a integração de Scott Travis, baterista egresso do Racer X, e que dá início ao álbum com uma virada de bateria que já nasceu clássica, reconhecível aos primeiros segundos. E o mais incrível no disco é que o fôlego que ele tem no começo não arrefece em nenhum momento! Depois de Painkiller, vem Hell Patrol, All Guns Blazing e uma sequência de músicas tão fortes e marcantes que, mesmo em A Touch of Evil, um pouco mais melódica, o álbum não sofre perda de intensidade. Todo o repertório é tão privilegiado que qualquer música poderia ter sido usada para divulgar o trabalho, no lugar das escolhidas Painkiller e A Touch of Evil, e o resultado teria sido inalterado.

Painkiller, o disco, foi um ponto tão marcante na carreira do Judas que até hoje ainda é usado como parâmetro de comparação para o que veio depois. Infelizmente, como Rob Halford deixou a banda depois da turnê, nunca poderemos saber como teria soado a sua sequência natural, mas nem precisa. Painkiller não envelheceu um dia sequer. Soa tão pesado, rápido e agressivo hoje como soou no começo da década de 90. E, pelo visto, manterá esse status por muito tempo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015



LED ZEPPELIN - HOUSES OF THE HOLY

Qualquer coisa que eu escreva aqui será uma bobagem redundante, pois essa banda já foi estudada e esmiuçada com muita precisão ao longo do tempo. E o que eu poderia trazer de novo sobre o Led Zeppelin ou sobre seu álbum Houses of the Holy? Nada, eu creio, mas essa nunca foi minha intenção. Fico feliz em poder simplesmente dizer algo sobre o que esse ou aquele disco significou – e significa – para mim.
Há algo de sobrenatural na existência do Led Zeppelin… Formações como essa, como o Black Sabbath ou o Who foram reunidas por algo mais do que o mero acaso e, se magia - aquela magia que era objeto de estudo de Jimmy Page - for um conceito concreto, ele está presente em nosso mundo, materializado nesses círculos negros conhecidos como discos.
Minha afeição por este álbum é acrescida pela lembrança de que este foi o primeiro cd que eu comprei, mesmo antes de ter um cd-player. Não foi algo aleatório, foi planejado mesmo: “Houses of the Holy vai ser meu primeiro cd”! Por qual razão? Não sei. Apenas ficou fixada na minha cabeça a idéia de que tinha que ser assim. Para a maioria, talvez o ápice da discografia do grupo seja o quarto álbum, que antecedeu esse, mas, na minha predileção, Houses of the Holy sempre será o primeiro que lembrarei na hora de pegar algo para escutar.
Não sei se dá pra estabelecer que algo lançado pelo Led Zeppelin não tenha atingido o nível em que consideramos que um disco pode ser chamado de clássico, mas é indubitável que clássicos do Led Zeppelin são simultaneamente clássicos da música popular. Os momentos menos espetaculares da banda são mais relevantes do que muito do que se fez e ainda se faz. De cara, o disco abre com The Song Remains the Same, que tem uma das melhores intros de todos os tempos, e é seguida, em sua dinâmica, pela melodia calma de The Rain Song. A diferença entre essas duas já exemplifica o que eu aprecio nesse trabalho: nenhuma canção se parece com a outra, mas todas ressoam a identidade do Led Zeppelin. Embora seja mais comumente classificado como hard rock, o grupo experimentou diversas sonoridades, diversas formas de levada ou de solução de arranjo. E é por isso que encontramos aqui desde canções mais folks, como Over the Hills and Far Away, até ritmos mais inesperados, como funk em The Crunge e reggae, em D´yer Mak´er
E é, inclusive, após essa última, que tem o clima ensolarado típico do estilo, que vem o ponto mais alto, para mim, de todo o disco, e quiçá um dos pontos mais altos de toda a discografia do grupo: No Quarter! Uma faixa em que a banda abraça de forma explícita o rock progressivo e, em divergência sinestésica com a música anterior, transmite frio absoluto, em seu ritmo, em seus vocais, em seus timbres.

Enfim, um álbum repleto de momentos inclassificáveis de música, mas que confirmavam a característica do Led Zeppelin em ser assim. A maior banda de todos os tempos? Não sei e não me importa. Tem e sempre terá um lugar especial na minha coleção e isso basta. 

sábado, 17 de outubro de 2015



VOIVOD - DIMENSION HATROSS

A água do Canadá é especial! Não conheço nenhuma banda ruim que tenha vindo de lá: Anvil,  Exciter, Rush, Slaughter, Triumph, Annihilator, Razor… São tantas e, cada uma, com suas características bem definidas, mas uma em especial se destacou pela sonoridade única e desafiadora: Voivod!
Tendo começado sua carreira lançando discos impecávelmente brutais, onde predominava um thrash metal extremamente sujo, com evidente influência do Venom, o Voivod avançou aos poucos para um som que - com mais propriedade do que muitas outras bandas do mercado - pode ser definido como progressive metal. Sim, porque poucos mesclaram tanto as influências de King Crimson e Van der Graaf Generator com o mais puro thrash metal, e as bandas que o fazem hoje, tal qual Tool e Messhugah, são aquelas que já foram influenciadas pelos canadenses. O experimentalismo das composições do grupo marcou-o como um combo a frente de seu tempo e, portanto, muitas vezes incompreendido ou mesmo deixado de lado por quem prefira composições mais retas. A música do Voivod se desenvolve através de inúmeras passagens instrumentais e riffs intrincados, marcados pelo acordes dissonantes do saudoso guitarrista Piggy, fazendo a base perfeita para o mundo de ficção científica explorado nas letras das canções. A temática lírica do grupo navega em um mundo futurista, bem distante, porém, da assepsia de paredes brancas de um filme como 2001, e mais próximo da barbárie pós-apocalíptica de um Mad Max, com máquinas gigantes colidindo.
Não seria possível, para mim, falar sobre as músicas do disco sem correr o risco de cometer alguns erros, por conta da complexidade de seu thrash cerebral, que faz com que se alterne momentos de headbanging com espaços para contemplação dos elaborados arranjos. Dá mesma forma, seria injusto apontar destaques em um trabalho tão nivelado. A minha única ressalva seria para a ordem de sequência das faixas, onde eu creio que a clássica Tribal Convictions deveria ocupar a posição de música de abertura. Seu início transmite um clima de tensão, de uma ameaça se aproximando e que seria mais apropriado para abrir o disco.
Ao contrário de diversas bandas que conseguem gravar músicas com pegadas bem distintas em seus discos, e fazem isso com muita competência, o Voivod tem um trabalho que soa bastante regular, com variações e idéias diversas, mas sem sair de seu próprio universo musical. Daí a consistência que faixas como Technocratic Manipulators, Microsolutions to Megaproblems e Psychic Vaccum tem. Ao contemplarmos a estrutura sonora que a banda constrói, seria injusto deixar de mencionar aquele que eu considero ser o outro grande pilar do que o Voivod se tornou, junto com Piggy, que seria o injustiçado baterista Away, não apenas um músico talentoso, como também um excelente artista gráfico, responsável pela identidade visual da banda, em todas as suas capas de discos e demais ilustrações dos encartes.

A ameaça do Voivod se consolidou e se tonou lendária dentro da música underground, alcançando aquele patamar onde não soam como nada que não seja Voivod e, sintomaticamente, onde nenhuma outra banda soa como eles. São únicos, e hoje, apesar da perda de um membro-chave, mereceram o direito de prosseguir fazendo sua música, pois, quando pararem, não haverá nenhum substituto a altura do serviço.

sábado, 10 de outubro de 2015



INFERNAL OVERKILL

É meio complicado falar de Infernal Overkill, sem fazer vínculos com o EP de estréia, principalmente quando consideramos a edição em CD, que unificou os dois trabalhos, mas tanto um quanto o outro tem força individualmente e Infernal Overkill, no caso, tem os méritos de confirmar e ampliar o que Sentence of Death prometia.
Eu tento entender exatamente o que diferencia o thrash americano do alemão. Me parece que o primeiro é um pouco mais técnico, enquanto o segundo é mais bruto, mais sujo. Ambos são thrash e são excelentes, mas a sonoridade das bandas alemãs tinha aquele “quê” de agressividade, de malignitude, que as colocava no centro da gênese dos estilos black e death metal, em um amálgama de influências recíprocas.
No caso do presente disco, que mantém o pé enfiado no acelerador o tempo todo, a brutalidade já dá as caras na primeira faixa. Não tem intro, dedilhado, barulhinho de vento, … nada! Invincible Force já entra escancarando a ânsia de quem está escrevendo os primeiros capítulos de uma nova história, ou, melhor dizendo, de um novo estilo! Velocidade, peso, rifferama, ataque de bumbos, vocais gritados… a música do Destruction casava perfeitamente com seu visual, carregado de balas! Se hoje o Kreator é a maior banda de thrash da Alemanha, deve-se em parte ao intervalo que o Destruction sofreu na carreira, pois certamente poucas bandas possuem um pacote tão completo do que é a experiência do heavy metal.
Tudo o que o Destruction representa pode ser resumido na forma de uma única música: Bestial Invasion. Essa merece um parágrafo só pra ela. A sensação de presenciar a execução dessa faixa, estando na frente do palco, é a de entender que metal é, antes de mais nada, energia. Pode se estar cansado, bêbado, já querendo que o show termine, mas quando ela é tocada, com aquele dedilhado veloz, com a paradinha no refrão, você descobre forças que não sabia ter e bate a cabeça como um alucinado. Sabiamente, ela é reservada para o momento do bis, fazendo com que os shows terminem tão insanos quanto no começo. Bestial Invasion é parte da trinca mais sagrada de canções do Destruction, junto com Mad Butcher e Total Disaster. Outras faixas, como Curse the Gods e Eternal Ban, que surgiriam no futuro, são continuações das idéias que foram apresentadas nessa primeira fase.
Na linha dessas músicas, o outro destaque do disco é Tormentor, de riffs mais secos, não tanto na linha de riffs fraseados típica de Mike, mas que soa excelente do mesmo modo e apresenta um carisma diferenciado de The Ritual, sua antecessora na ordem das músicas do disco, que tem uma levada um pouco diferente, no meio do caminho entre a rapidez e a cadência.
O fato do Destruction ser um trio ajuda a passar a sensação de força compacta, de riffs retos, com notas uníssonas, que não são meramente tocadas, mas sim marteladas nos instrumentos. Três caras, executando uma música que não se caracteriza por grooves, fazem com que qualquer excesso seja excluído em função de um ataque mais contundente.
Os anos seguintes apresentaram bandas que talvez superem o Destruction em peso, agressão e velocidade, mas as experimentações sempre são mais simples, mais fluidas, depois que os pioneiros escreveram os manuais de regras de um estilo e, se você não reconhece a influência desses alemães, então o thrash metal não é para você.

sábado, 3 de outubro de 2015



ALICE IN CHAINS – DIRT

A cada dia que passa surge uma nova banda de stoner no mundo. Por mais que eu goste do estilo, é meio estranho usar as palavras “nova” e “stoner” em uma mesma frase, pois, na grande maioria dos casos, as bandas emulam cada timbre, cada arranjo, que o Black Sabbath já fez ao longo de sua trajetória. Isso não é de todo mal, afinal estamos falando de Black Sabbath e não se poderia pedir uma influência melhor, mas tem momentos em que a dita influência é usada com tanta enfâse que você não consegue identificar traços de originalidade no trabalho dos artistas.
O que eles estão trazendo de relevante para sua música, além de soar como bandas covers? Covers não de músicas, mas de estilo. Fazem músicas originais na forma, mas não na essência, e a gente acaba assimilando porque apreciamos aquela essência, fomos doutrinados por ela.
Isso não contradiz o fato de que um pouco de características pessoais sempre vai fazer um diferencial, pelo menos para mim. Eu considero o Alice In Chains uma ótima banda de stoner rock. São claramente identificáveis as influências de Black Sabbath, de Led Zeppelin e da sonoridade típica de seu estado de origem, mas também há elementos muito próprios em sua música. O Alice in Chains não é, e nem nunca se insinuou ser, uma banda de heavy metal, mas não é por isso que deixa de ser pesada. Passagens doom e psicodélicas estão espalhadas por todo o disco, desde a primeira música, Them Bones, que mistura a tensão explosiva de seu arranjo com as harmonias vocais cativantes, cortesia da principal dupla de compositores do grupo, Jerry Cantrell e Layne Staley, guitarrista e vocalista, respectivamente.
É, porém, do trio de instrumentistas, uma das melhores, e mais sinistras músicas do disco, Rain When I Die. Essa música não virou single, e nem poderia mesmo ser, visto o seu andamento carregado e com alguns toques que lembram Kashmir. Pelos lados sabáticos, tem a faixa Junk Head e na área mais personal, eu destacaria Damn That River e Hate to Feel como algumas das melhores faixas. Aproximando-se do final do disco, a dobradinha Angry Chair e Down In a Hole faz um bom equilíbrio entre uma canção de mais peso com outra um pouco mais melódica, apesar de carregada de profunda melancolia.

Em algum momento do álbum há uma pequena vinheta gravada por Tom Araya, mas nada do tipo que valha a pena procurar ouvir, pois é muito curta e pouco impactante. O disco tem valor pelo trabalho da formação, que além de Staley e Cantrell, ainda tinha o falecido baixista Mike Starr e o excelente baterista Sean Kinney, e que gravaram apenas esse disco e o seu antecessor. Tais discos, ouvidos hoje em dia, não soam datados e nem como se fossem retratos estáticos de uma época ou de um cenário específico. São tão bons e relevantes agora como o foram na época de lançamento, há mais de vinte anos atrás e esse é o retorno obtido por quem coloca suas marcas pessoais no trabalho. Pode-se optar por seguir à risca passos que já foram percorridos ou usar esses referenciais como uma bussola que lhe permita chegar aos mesmos lugares por vias distintas. São esses últimos que nos propiciam novas opções de paisagens.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015



OMEN – WARNING OF DANGER

Artistas talentosos, que tem a infelicidade de morrer jovens, deixam-me um sentimento de saudade pelo que eles não fizeram. Saudade de uma obra inacabada, cujos frutos nunca serão conhecidos, mas especula-se que seriam grandiosos. Evidentemente que não me refiro a caras com Ronnie James Dio ou David Byron. Esses fazem falta e sempre farão, mas deixaram trabalhos suficientes para acalentar a sede por boa música e ocuparem definitivamente o panteão de ídolos eternos. Dimebag Darrel e David Wayne (Metal Church) são alguns que ficam em um espaço intermediário. Conseguiram registrar uma quantidade considerável de obras significativas, mas ainda poderiam ter feito muito mais.
Entre aqueles que incontestavelmente foram para outro plano antes da hora, estão caras como Randy Rhoads e Cliff Burton. Esses são sujeitos que sempre ficaremos apenas a imaginar os rumos que tomariam, o que ainda teriam para nos mostrar. É certo que a contribuição, para a música, de J. D. Kimball, vocalista falecido do Omen, não chegou a ter o mesmo impacto midiático que esses outros, e o fato do mesmo ter abandonado a carreira alguns anos antes de seu falecimento pode ter sido um indício de desinteresse com a mesma, mas isso não diminui sua contribuição e nem torna menos lamentável sua morte.
Eu considero que o Omen é o tipo de banda em que o coletivo é o grande destaque. Não havia um músico que se evidenciasse de forma extraordinária em relação aos demais, mas a voz de J. D. Kimball, com seu timbre pendendo para o lado grave, colaborou para que a banda se tornasse uma referência entre as que navegavam pelas águas do metal épico norte-americano. Não deve ser à toa que a perda de popularidade da banda coincida com a saída do vocalista de sua formação. Lançaram três grandes discos no intervalo de três anos e qualquer um deles poderia estar aqui, mas Warning of Danger tem aquela pequena vantagem de ter sido lançado no Brasil, o que sempre fortifica os laços que o público pátrio estabelece para preferir um ou outro álbum.
Warning of Danger é o segundo da discografia, e, ao som das primeiras notas da faixa-título, salta aos olhos a influência fortíssima de Manilla Road. Difícil apontar melhor indicativo para uma banda que prima pelas temáticas medievais. No álbum, além da música de abertura, também se destacam as faixas Ruby Eyes (Of The Serpent), que tem muitos toques de Iron Maiden, e Hell´s Gate, sendo que essa última é uma verdadeira oração viking em forma de música, transmitindo uma emoção sóbria e solene, totalmente aversa a qualquer gritaria espalhafatosa que caracteriza noventa por cento do que se faz nesse estilo hoje em dia.
Don´t Fear the Night tem um solo curto, mas muito bem feito pelo guitarrista Kenny Powell, que é o responsável por prosseguir com o legado da banda, mas a melhor faixa do álbum, juntamente com a já citada Hell´s Gate, é, de longe, Terminator. Essa música é um pequeno tutorial de três minutos e meio sobre o que é, de fato, heavy metal! Bateria incisiva, guitarra seca e um vocal cuspido marcam a obra-prima, que é a única do álbum que Kimball assina, em parceria com Kenny Powell.
O fato do Omen nunca ter transposto a barreira que o manteve entre as bandas do terceiro escalão do metal não significa nada para quem está sempre em busca de boa música. Seus discos estarão sempre conosco e, cada vez que os pegamos para ouvir, J. D. Kimball nos ajuda a lembrar o quanto é bom estarmos vivos.

Tão vivos quanto ele ainda nos soa.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015



RAMONES – ROCKET TO RUSSIA

Meu primeiro contato efetivo com os Ramones foi através de uma coletânea dupla em vinil, chamada Ramones Mania, adquirida na saudosa loja Francinet Discos. Devo confessar que o que ouvi me deixou um pouco confuso. O Ramones era uma banda punk e, efetivamente, encontrei isso no disco, mas havia algo inesperado naquelas músicas.
Minhas primeiras audições do que seria punk rock vieram com as bandas seminais brasileiras. Ratos de Porão,Cólera e Olho Seco principalmente, além, inclusive, de Mercenárias e Replicantes. Entre as bandas estrangeiras, a primeira que me lembro de ter tido contato foi o Sex Pistols. Tanto por um lado, como pelo outro, havia uma pegada bastante agressiva em todas elas, com guitarras fortemente distorcidas. O Ramones tem músicas bastante agressivas, sem dúvida, mas o que me chamou atenção mesmo foram as canções – e elas me pareceram ser maioria – com aquele clima dos grupos vocais de rock´n´roll e pop music que atuaram na virada das décadas de cinquenta e sessenta. Beach Boys, The Ronettes e rockabilly no geral são o embrião de inúmeras músicas como Ramona, I Wanna Be Well, Here Today Gone Tomorrow, Rockaway Beach e até mesmo, apesar do título, Sheena Is a Punk Rocker. Todas são músicas que escancaram a fonte em que o Ramones bebeu, bem como o empenho que eles tiveram para voltar ao básico do rock. Faixas curtas, sem nenhuma enrolação, direto ao ponto da melodia e do refrão. Músicas de uma época em que o rock podia ser naturalmente radiofônico. Não estou me referido a essa bobagem de que o progressivo e o AOR estavam dominando as radios, na década de setenta,  e o rock perdeu sua essência, blábláblá… Eu detesto esse tipo de argumento frágil em que um gênero tem que culpar o outro pela sua eventual perda de exposição. Existe gosto para tudo e as pessoas sempre vão ter preferência por um tipo ou outro de som, o que não faz com que nenhum deles passe a ser “melhor” do que o outro.
Tampouco eu creio que os Ramones queriam encabeçar algum revival do tipo. Eles apenas se empenharam em fazer a música que gostariam de escutar e isso basta para que se atinjam os objetivos almejados. Rocket to Russia foi o terceiro disco da carreira e o último com a formação original, contendo o baterista Tommy Ramone. A capa minimalista e eficiente replica em parte as intenções da capa do album de estréia. Uma foto em preto e branco da banda como ela é, mais afinada com o conceito de gangue do que de família, tão direta quanto as músicas contidas em sua embalagem. Nesse clima, faixas como Cretin Hop, Teenage Lobotomy ou We´re a Happy Family se adequam mais ao conceito de punk rock que ocupa meu imaginário, bem como, pela parte lírica, I Don´t Care comparece como exemplo perfeito de poesia punk.

Se os Ramones são repetitivos, que sejam dados os parabéns por essa característica, pois os coloca ao lado das melhores bandas do mundo, como AC/DC, Motorhead, ou até mesmo Rolling Stones, que são repetitivos no sentido de terem uma assinatura musical tão forte que rapidamente os identifica. Isso não é repetição, é personalidade, é foco. A música dos Ramones tem esse traço e nunca soa enfadonha. Somente os grandes podem ser assim.

sábado, 12 de setembro de 2015

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NEVERMORE – DREAMING NEON BLACK

Para a maioria dos fãs de heavy metal, preemente os mais antigos, a palavra modernidade nem sempre soa muito bem, em oposição ao carinho demandado perlo termo tradição. É fato que muita coisa que tenta soar moderna, na tentativa de sobrepor algumas regras básicas do estilo,  acaba gerando um som maçante, genérico e estéril. Não faltam, porém, bandas que consigam casar com sucesso a modernidade e a tradição. O Machine Head é um grande exemplo, mas a minha preferida nessa seara é o Nevermore.
Tendo lançado seu primeiro disco em 1995, logo após a implosão do grunge ocorrida com a morte de Kurt Cobain, o Nevermore, que coincidentemente é natural da mesma cidade de Seattle,  agregou toda a tradição do metal mais clássico praticado por sua encarnção anterior, o Sanctuary, com as tendências que caracterizaram a música feita nos anos noventa. O som do Nevermore pode ser definido na palavra monstruoso, no sentido de ser denso, emocional, agressivo, pesado e massivo como poucos conseguem ser. Tem alguns toques de melancolia, mas passando bem longe de ser considerado gótico, da mesma forma que as partes mais agressivas aproximam-se muito do thrash, mas não cruzam as delimitações do estilo. Em suma, a banda desenvolveu uma característica própria, sem muitas possibilidades de comparação, dificultando até mesmo apontar com precisão quais seriam os artistas que os influenciaram mais fortemente.
Muitos dos méritos da musicalidade obtida são da cozinha formada pelo baterista Van Williams e pelo baixista Jim Sheppard, mas o destaque da banda está, longe de dúvida, na linha de frente. Não há adjetivos suficientes para explicar como Warrel Dane e Jeff Loomis são icônicos em suas respectivas funções. Se as composições tivessem mais ganchos de acessibilidade, os dois estariam no topo do heavy metal mundial, mas não foi o caso. Arrisco, inclusive, a dizer que Jeff é o guitarrista mais genial dessa geração noventista.
Nos seus três primeiros discos, houve uma evolução gradual que culminou com esse album que, junto com o disco seguinte, Dead Heart in a Dead World, são o ápice da carreira do Nevermore. O disco abre em alta com Beyond Within, mas encontrará seus maiores clássicos na dobradinha I Am The Dog e Dreaming Neon Black, essa última com interpretação soberba de Warrel Dane, e prossegue em evidência com o peso da levada de Deconstruction. The Lotus Eaters e Poison Godmachine formam juntas outro momento em que a faceta mais melódica se encontra lado a lado com a pura agressividade, tensionada como uma explosão segundos antes de ser detonada.

Forever é a última faixa e encerra o disco com um toque de tristeza. Não mencionei todas as músicas do disco aqui, mas o album completo é soberbo e sua oscilação de climas casa com o fato de suas canções narrarem uma história de perda da pessoa amada. Tal qual o Nevermore prosseguiu com o legado do Sanctuary, o ciclo se fechou e, hoje, o reformado Sanctuary prossegue com o legado do Nevermore. No fundo são apenas trocas de nomes impostas por questões empresariais. O que importa é aquela característica de compor que permanece presente sob a condução de Warrel e Jim Sheppard. Resta torcer para que tornem a se entender com Jeff Loomis e tragam de volta à ativa essa que é uma das mais competentes bandas que o metal gerou. Resta torcer que, para o Nevermore, não exista o conceito de nunca mais.

sábado, 5 de setembro de 2015



ARMORED SAINT – MARCH OF THE SAINTS

1984 foi provavelmente o grande ano do heavy metal. O ápice, com discos que determinam as regras de avaliação, até hoje, do que é bom e do que não é. Em meio a tantos lançamentos antológicos e também em meio a explosão do surgimento do thrash metal, veio ao mundo o primeiro álbum do Armored Saint. Excelente banda, que executa um heavy metal tradicionalíssimo, mas que nunca teve a notoriedade merecida.
Talvez, se tivesse estreado um par de anos antes, a banda teria tido outro destino. Em nenhum momento eu pretendo sugerir que o Armored Saint, ou seus trabalhos, não tenham força suficiente. Muito pelo contrário. O Armored Saint é uma banda de excelência inquestionável e tem uma discografia absolutamente impecável, mas surgiu no meio de um turbilhão de qualidade e, por não ter se firmado no primeiro escalão o tempo e o mercado acabaram por convertê-la de atividade principal para projeto paralelo. O baixista Joey Vera e o vocalista John Bush chegaram, em momentos distintos da carreira, a ser cogitados para integrar o Metallica, mas o primeiro acabou por se envolver com o Fates Warning, e o segundo com o Anthrax, sendo até hoje considerado por muitos como o melhor vocalista na trajetória daquela banda. Tantas atividades paralelas também podem ser um dos motivos de estagnação da banda original, que ainda teve que lidar com o impacto da morte de um de seus membros. Essa, aliás, foi a única causa de alteração na formação da banda: o falecimento de David Pritchard e sua substituição por Jeff Duncan, o que demonstra um forte vínculo entre os músicos.
Nesse primeiro disco, que ainda tem o mérito de apresentar uma capa belíssima, de muito bom gosto, o Armored Saint, como o próprio nome já poderia sugerir, investiu em uma temática medieval, inclusive nas roupas de palco, mas com a sabedoria de não permitir que isso se tornasse uma prisão criativa. Temas diversificados são executados com absoluta naturalidade. Uma pequena intro instrumental é o ponto de partida para a clássica faixa-título, March of the Saint, uma música absurdamente empolgante, do tipo que você acompanha o refrão logo na primeira tacada. Todo o carisma típico da melhor tradição européia de bandas como Judas Priest ou Picture, temperados pelo modo americano de fazer heavy metal, dominam o repertório do trabalho. Existem muitas semelhanças com o que o Savatage fazia no começo da carreira e, também, um forte acento de hard rock sobrevoando as canções. O timbre de voz de John Bush soa muito natural, sem impostações forçadas, e transita facilmente entre climas diversos.

Seguindo March of the Saint, a banda insere de imediato mais duas composições que também tornariam-se clássicas em seu acervo: Can U Deliver e Mad House. Uma trinca de apresentação pra segurar o ouvinte e mantê-lo com o interesse em alta para todas as demais faixas, passando por Seducer, Mutiny on the World, até concluir tudo em False Alarm.  O fato do grupo ter retomado suas atividades sem muito estrondo reforça sua característica de cult. O prolongamento de sua carreira parece dar-se por dois motivos extremamente simples: amor à música e amor aos companheiros. Quando se tem os motivos certos, só se pode esperar grandes resultados e os fãs terão tanto a ganhar quanto os músicos.

sábado, 29 de agosto de 2015


DANZIG – DANZIG

É uma pena que o Danzig não tenha progredido para alguns degraus acima do status que estava ocupando. E realmente eu digo “estava”, pois, tal qual tantas e tantas outras bandas, o Danzig se enroscou na espiral de trocas infinitas de membros e acabou por perder a sua identidade. Deixou de ser reconhecido como uma banda e passou a ser visto apenas como Glenn e os seus músicos contratados.
Também não foi muito útil, para a carreira da grupo, o fato de Glenn ter uma postura inclinada para a arrogância. Sua tendência para se meter em brigas acabou por afastar o interesse de algumas pessoas que se deixam influenciar por motivos extramusicais. No entanto, o foco aqui é música e não a personalidade ou vida pessoal dos músicos e, nessa perspectiva, é mais do que óbvio que o vocalista era a figura principal ali, como o próprio nome da banda deixa bem claro. Não poderia mesmo ser de outra forma, afinal, ele já era dono de certa notoriedade, pela sua carreia como membro do Misfits e, posteriormente, do Samhain. Mas, apesar de sustentar-se em uma figura central, o Danzig funcionava perfeitamente como uma banda. Tinha uma ótima formação e obteve uma solidez capaz de gerar quatro excelentes discos, lançados no intervalo de seis anos, sendo esse presente álbum a sua estréia.
O Danzig criou uma identidade própria a partir de uma inusitada mistura de influências. A banda soava, na maior parte do tempo, como se fosse um cruzamento entre Black Sabbath e The Doors. Um doom metal com acento fortíssimo de blues e com letras em um tom macabro mais aprofundado, em oposição ao macabro no estilo filme trash que a banda inicial do cantor praticava e ainda pratica.
Nessa primeira fase de sua carreira, a formação da banda era a mesma que encerrou a carreira do Samhain, e foi também desse período que eles trouxeram a faixa de abertura, que se tornaria o primeiro clássico da nova empreitada, a música Twist of Cain. Essa faixa, com seu arranjo simples e andamento moderado, já diz o que deve se esperar do Danzig. Um tipo de hard metal setentista, pré-NWOBHM, sem arroubos de velocidade ou gandiosidade, mas com bastante feeling e eficiência. Duas ótimas músicas surgem na sequência: Not of this World e She Rides, sendo, essa última, bastante tendente para o blues, influência já anteriormente mencionada, e isso deixa tanto essa, como outras faixas, bem cantáveis. São pesadas, mas são dotadas de uma dose de melodia que as torna acessíveis para o ouvinte médio, apesar da obscuridade lírica.
The Hunter e Am I Demon são outros destaques, mas, em termos de evidência, ficam um pequeno passo atrás de Possession, que também foi aproveitada do Samhain, e Mother, provavelmente a faixa mais conhecida do Danzig. Daí pra frente, cada novo disco seria um passo adiante, em termos de composição e produção, até o infeliz equívoco que foi Blackacidevil. Não tenho nada contra o estilo industrial, muito pelo contrário, mas não compreendo a empreitada de um artista em remanejar o curso de sua carreira para um caminho sobre o qual não tem domínio ou intimidade. O resultado disso foi que o restante da banda não embarcou no projeto e Glenn acabou sozinho, afetando a trajetória ascendente que aos poucos galgava. Felizmente, o rumo da musicalidade foi reajustado em álbuns posteriores e a formação atual mantém o legado de uma banda com muita, muita personalidade.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015



IRON MAIDEN – PIECE OF MIND

O Iron Maiden, nos seus primeiros anos, era um ser em constante evolução. A cada novo disco, havia algum acréscimo em termos de arranjo, de pegada, que reafirmava e ao mesmo tempo melhorava o que tinha sido feito em seu passado. Catorze meses após ter explodido com The Number of the Beast, a banda lança o seu quarto álbum, Piece of Mind.
Não parecia haver limites que eles não pudessem extrapolar. As composições surgiam cada vez mais densas, mais elaboradas, com mais ênfase nas passagens instrumentais. Basta ver que a música que abre o disco, Where Eagles Dare, é, simultaneamente, uma típica faixa de início de álbum e, contraditoriamente, não é. Ela era impactante, mas também era muito instrumental e isso, em mãos inábeis, poderia ter diminuído a força da mesma. A força que uma música de abertura precisa ter. Nos seus seis minutos de duração, há um espaço de três minutos e meio, intercalando as aparições de Bruce Dickinson, ocupados por solos e variações ritmicas. Logo de cara, Steve Harris apresentou mais uma das fantásticas composições que criou sozinho, à altura de Phantom of the Opera, Hallowed be thy Name e, dentro desse mesmo disco, posicionada de forma a cercar todo o repertório, o épico To Tame A Land. Essa derradeira faixa é uma peça magnífica, inspirada no livro Duna. O fato de To Tame a Land estar posicionada no final do álbum, e ter o tipo de arranjo elaboradíssimo que tem, faz com ela soe para mim como se fosse a primeira música do álbum seguinte, tal a afinidade que tem o que ainda viria no futuro.
Se Harris veio com Where Eagles Dare, que ainda tem o bônus de conceder ao estreante Nicko McBrain a honra de executar os segundos iniciais de música do disco, Bruce Dickinson marcou de forma espetacular a sua primeira composição em um disco do Iron Maiden, com Revelations. São quase sete minutos de beleza, dramaticidade e dinamismo que confirmariam, mais uma vez, que ele era a pessoa certa no lugar certo. E para reafirmar isso, a música seguinte, feita em parceria com Adrian Smith, relativamente curta dentro do repertório do álbum, tornou-se uma das melhores canções da banda: Flight of Icarus é uma canção certeira, sem excessos, mas que tem todas as suas partes extremamente bem resolvidas, bem amarradas: introdução, estrofes, refrão, encerramento, tudo concebido com talento ímpar de composição.
As duas faixas seguintes são semelhantes no ritmo acelerado, mas Die With Your Boots On não teve a mesma sorte de The Trooper, eternizada nos setlists. Em todo caso, o melhor ainda estava por chegar e é curioso ver que Dave Murray, que assina tão poucas composições na banda, é co-responsável pela minha música preferida do Iron Maiden: Still Life. Somente uma banda com um repertório tão rico em opções pode se dar ao luxo de deixar em escanteio uma música como Still Life, também – e injustamente – ausente dos shows. O começo sutil, que evolui aos poucos, para a levada explosiva que a caracteriza, até a catarse do refrão, descrevem esse clássico. Até então, Murray só tinha crédito em Charlotte the Harlot e em Twilight Zone, mas Still Life é um salto imenso de qualidade sobre uma obra que, mesmo pequena, já era dotada de evidente excelência.

Das três últimas faixa, tirando a exuberância da já citada To Tame A Land, o destaque é Quest For Fire, que não nega ter sido composta também por Harris, visto a magnífica linha de baixo da mesma, que domina toda a sua duração. O Iron Maiden já era merecedor do status de banda da qual se espera muito e Piece of Mind correspondia a essa expectativa. Powerslave, o título do disco seguinte, era, de certa forma, um mero jogo de palavras que descrevia uma realidade evidente: A escravidão já tinha sido deflagrada.

sábado, 15 de agosto de 2015



ONSLAUGHT - THE FORCE

Acho incompreensível que essa obra de arte da agressividade quase nunca seja lembrada como um dos melhores discos de thrash metal já feitos. Perfeito, perfeito e absolutamente perfeito, eu o ranquearia entre os dez, cinco, ou até mesmo três melhores trabalhos concebidos nesse estilo. Esse é um daqueles álbuns que eu me lembro exatamente em qual loja comprei, lembro que era de manhã, lembro de tirá-lo de dentro do saco, dentro do ônibus, pra poder olhar a capa e o encarte e, principalmente, lembro de ouvi-lo muitas e muitas vezes, sem cansar, porque até hoje eu ainda não consegui cansar desse disco.
Eu não sei o que houve na Inglaterra que, depois de ter concebido a primeira e segunda geração de bandas de heavy metal, influentes em tudo até hoje, estagnou-se no período pós-NWOBHM. Tá certo que de lá ainda vieram o Skyclad, Anathema, Napalm Death, Benediction, Evile, Paradise Lost, Carcass e Dragonforce, entre alguns outros, mas ainda assim é uma contribuição acanhada considerando as três décadas e meia já passadas após o surgimento de Iron Maiden, Saxon, Venom e um monte de outros nomes mitológicos. Talvez seja realmente algo que tenha que ocorrer, pontualmente e intensamente em cada nação que abrace o estilo e, daí, o bastão foi passado para a América, Alemanha e Suécia, sem deixar de mencionar que o Brasil também teve o seu momento de explosão de surgimento de bandas.
O Onslaught é um dos destaques dessa leva de bandas citada acima e, talvez, se não tivesse tido uma carreira tão errática, trocando de vocalista toda hora, tivesse tido uma melhor sorte na cena. No primeiro disco, o responsável pelas vozes era o baixista Paul Mahoney, provavelmente cumprindo a função enquanto ainda estavam tentando configurar uma formação; no terceiro disco, chamaram o consagrado Steve Grimmett para cantar, mas o estilo do conjunto sofreu alterações no processo. No segundo disco, esse The Force, o vocalista foi Sy Keeler e, com ele, a formação alcançou o status de ser considerada a “clássica”, dentro de sua história. A voz de Sy caiu como se fosse mais um instrumento dentro dos arranjos, agressiva na medida certa, sem exageros, e subindo para agudos esporádicos, acentuando diversas passagens das músicas. Sy está longe de ser um cantor virtuoso e, por isso, se integrou tão bem, já que no Onslaught ninguém é virtuoso. São bons músicos que, juntos, conseguem extrair o melhor possível de suas colaborações.
Sendo portanto esse o álbum mais efetivo da primeira fase da banda, não foi à toa que o retorno deu-se com a presença de Sy, único membro que permanece até o presente, junto com o guitarrista Nige Rockett. Ao abrir o disco, o som da guitarra surge em um riff seco e preciso, que evolui gradativamente em intensidade quando os demais instrumentos aparecem para a execução da faixa Let There Be Death, uma mais do que explícita declaração de inequívoca paixão ao baluarte AC/DC, sendo que essa homenagem acabaria ficando mais escancarada no disco seguinte, mas isso é outra história. Essa música, juntamente com Fight With The Beast e Flame of The Antichrist são os grandes destaques do álbum, bem como o são também de todo o acervo do thrash metal.
Pensando bem, não importa se a Inglaterra já não concebe tantas bandas como o fez no passado. O que importa é que o que sai de lá ainda é relevante e tem qualidade incontestável. As bandas não precisam ficar se preocupando em recriar a roda, mas sim em honrar o legado deixado por aqueles que firmaram os fundamento do heavy metal, e isso o Onslaught faz com grande margem de excelência.

sábado, 8 de agosto de 2015



AND JUSTICE FOR ALL

Muito se debate sobre como o Metallica soaria se Cliff Burton não tivesse morrido. Em relação ao conteúdo do Black Album e seus lançamentos seguintes, não sei opinar, mas, em relação ao And Justice for All, eu creio que, com uma ou outra característica pontual, o disco não teria soado radicalmente diferente do resultado que conhecemos. Burton, apesar de ser peça-chave no som da banda, e de exercer certo grau de influência sobre os demais membros, não participava tão ativamente das composições, conforme pode ser percebido nos créditos do disco anterior, Master of Puppets, onde ele co-assina duas faixas apenas.
Creio, portanto, que a música do Metallica já estava correndo para aquela direção. Não à toa, quando o último disco – Death Magnetic – surgiu, anunciando a intenção da banda em tornar a tocar um estilo mais pesado, ele remeteu justamente a essa fase da carreira. 
Ao contrário também da crítica generalizada de que as músicas estavam muito complexas, com muitas partes, etc, eu também me oponho. É isso que faz o disco ser tão bom! Músicas que precisam ser absorvidas aos poucos e, a cada nova audição, vão revelando seus detalhes, crescendo para o ouvinte. Ressalte-se também que qualquer traço de intenções comerciais passou bem longe daqui: o álbum, no geral, tem o clima mais dark entre qualquer coisa já feita pelo Metallica, soando bem thrash, sem dúvida, mas não aquele thrash explosivo do começo, e sim algo mais cerebral, mais denso. E a produção, bem seca, evidencia a sensação de que a banda está executando tudo ao vivo, juntos no estúdio.
James Hetfield, que ainda não tinha se preocupado em aprender a cantar, estava cantando melhor do que nunca, com vocalizações bem rasgadas, no auge do cruzamento entre amadurecimento e crueza. Lars Ulrich, a outra metade da força motriz que dá vida à banda, também estava em ótima fase. Não obstante a sonoridade um pouco polêmica da timbragem dos instrumentos no disco – e mantendo-me à parte do já saturado debate sobre o som do baixo – Lars é, ou era, um baterista muito criativo, acrescentando, em todo o álbum, diversas viradas de bateria não apenas memoráveis, mas que chegam a ser quase cantáveis.
Em termos de sobrevida no setlist, One é o grande destaque do trabalho. Mais uma de uma sequência de falsas baladas, que começam bem melódicas e terminam como escavadeiras aceleradas. Apesar de um certo ar de previsibilidade nessa fórmula, a qualidade e o carisma das composições se sobrepõe à possibilidade de críticas. Das demais faixas, Blackened, And Justice For All e Harvester of Sorrow são as mais frequentes, marcando presença vez por outra nas apresentações. To Live is To Die merece ser mencionada por ser a música instrumental do álbum, intercalada brevemente pela recitação de alguns versos escritos por Cliff Burton, e Dyers Eve encerra o disco com a levada mais acelerada entre todas.

Embalado por sua capa icônica, And Justice For All cumpriu com êxito o papel de transição dentro da discografia do conjunto. Mesmo os arranjos complexos não alienaram os fãs mais tradicionais, já que esses, em sua maioria, abraçaram a tendência que a banda apontava. Surpreendentemente, ou talvez não, o Metallica deu uma guinada na carreira e percorreu um caminho inesperado, agradando alguns e desagradando outros, mas esse disco tem todos os méritos para ser a sequência natural da - assim chamada - tríade clássica de seus primeiros anos.