MOONSPELL – WOLFHEART
Correndo o risco de cair em erro, por não conhecer o cenário mais
profundamente, creio que o Moonspell seja a maior banda de metal surgida em
Portugal. É uma sensação que provavelmente pode ser análoga ao que ocorreu com
o Sepultura, quando despontou para o mercado mundial. Na crença de muitos
estrangeiros, o Sepultura seria a única banda de metal do Brasil, o que estava
muito longe de ser verdade. Antigamente essa atitude poderia até ser
interpretada como desrespeito ou desdém, vindo de lá pra cá, mas quando a gente
se coloca no outro lado, como podemos fazer agora em relação às bandas
portuguesas, vemos que não é bem assim. Estamos, de certa forma, condicionados
ao que a mídia especializada adota para divulgar e nos acomodamos um pouco com
essa fonte de informações, sem dedicarmos nosso tempo – já tão escasso – para
rastrear, por conta própria, coisas novas ou diferentes.
Porém, de modo algum isso deve ser dito como sugestão de que o
Moonspell não merece o destaque que tem. Merece, e muito! E esse mérito não tem
nada a ver com sua origem. Nesses vinte anos percorridos entre o lançamento
desse seu primeiro disco, precedido apenas por um EP datado do ano anterior,
até hoje, a banda é um ser em constante evolução, inovando e desafiando limites
sem, porém, nunca se afastar de seu estilo.
E o estilo dos lusitanos é uma mescla bem dosada de metal gótico, com
acréscimo de doses de black metal, tudo emoldurado por elementos da cultura
portuguesa, reforçados pelo fato da banda utilizar tanto o idioma pátrio quanto
o bretão em suas canções. Todas essas características já se fazem presentes na
primeira música, Wolfshade (A Werewolf Masquerade), sendo que os toques de
black metal podem ser identificados na interpretação do vocalista Fernando
Ribeiro, que também alterna suas performances com momentos mais melódicos,
fazendo uso de seu timbre naturalmente grave.
A partir desse álbum, a formação do Moonspell se estabilizou, havendo
rotatividade apenas no posto de baixista, que por algum período chegou a ser
ocupado pelo brasileiro Sérgio Crestana. Apesar disso, o que se percebe a
partir desse álbum de estreia, é o entrosamento de uma banda bem direcionada,
com talento e carisma suficiente para tornar grandiosas músicas de estruturas
razoavelmente simples. Wolfheart chama atenção logo a partir da capa,
agressiva, fria e bela, e que lhe incita a querer conhecer o conteúdo musical
nela contido. Gostando-se ou não de metal com elementos góticos, não há como
ficar impassível ante canções tão fortes quanto Alma Mater, An Erotic Alchemy
ou Vampiria, todas tão cativantes que acabam por parecerem ser mais curtas do
que realmente são. A música Of Dream and Drama (Midnight Ride) apresenta alguns
elementos de interpretação que remetem a algumas coisas feitas por Glenn
Danzig, quase como se esse estivesse cantando alguma canção dos primórdios do
Paradise Lost.
Eu compreendo, e na maioria das vezes concordo, que os rótulos gothic
metal e black metal tendem a afastar o interesse de alguns. No entanto, na
forma como eu vejo, o Moonspell não está preso a esses nichos, e nem a nenhum
outro. É uma banda criativa e que, a cada ano, consegue avançar e incorporar
novos elementos dentro de suas propostas. Merece, por isso, ser conhecida,
antes de ser pré-julgada. Wolfheart ainda é a melhor porta de entrada para a
sua discografia.
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