sábado, 19 de dezembro de 2015



LYNYRD SKYNYRD – PRONOUNCED LĚH-NÉRD SKIN-NÉRD

Vou começar invertendo a sequência natural das coisas e falando logo de Freebird e do que ela me transmite. Antes de mais nada, tem que ser registrado que Freebird é uma daquelas músicas que transcedem da existência de seus criadores, tornando-se um ser independente da banda. Ela está acomodada tranquilamente entre tantas outras canções que viraram hinos da música. E talvez nem fosse assim caso ela soasse de outra forma, distinta de como soa. Freebird é, para mim, uma espécie de milagre de produção. Eu não consigo escutá-la e absorver a idéia de que foi gravada no ambiente frio de um estúdio, provavelmente em takes diversos. Ela soa muito viva, muito livre, com a permissão do trocadilho. A interpretação da música, perpetuada nesse primeiro disco do Lynyrd Skynyrd, tem espontaneidade e emoção condizentes com a de uma performance ao vivo, em uma noite inspirada, e o fato de possuir aquele que é, para mim, um dos cinco melhores solos de guitarra já registrados para uma canção, a torna ainda mais grandiosa.
O que eu disse para Freebird pode também ser lido para Simple Man e Tuesday Gone, que são os outros dois grandes clássicos desse disco. Das três, Simple Man é a mais compacta, em termos de duração, mas Freebird e Tuesday Gone ultrapassam o formato radiofônico e assumem as características de jams. Ambas são parcerias do vocalista Ronnie Van Zant com o guitarrista Allen Collins, embora ele só assuma o solo na primeira, deixando o solo da segunda com o colega Gary Rossington.
 A estreia do Lynyrd Skynyrd apresentou ao mundo uma banda absolutamente segura, com um som tão robusto quanto o era a sua formação em septeto, com três guitarristas dividindo as funções de solista ao longo das faixas. O grupo, originário da Florida, é um dos grandes baluartes e referências do rock sulista americano e fez um trabalho tão primoroso que sequer parecia que esse ainda era apenas o seu primeiro álbum. Como é característica de muitas bandas desse cenário, o Lynyrd Skynyrd não tem um vocalista com alcance além do extraordinário, tão prolíficos naquela década de setenta, mas tem, na figura icônica do saudoso Ronnie Van Zant, um vocalista inspirado, além de excelente letrista, adequado ao estilo que a banda executava, e com o tipo de voz que contribuía para deixar as músicas com aquele sabor especial de bourbon.
A origem da banda não poderia alienar os músicos de suas raízes, daquilo que já foi feito de melhor naquela região do país, que é o blues. Por isso soa mais que perfeita a dobradinha entre as canções Things Going On e Mississipi Kid, que mergulham fundo nesse tipo de sonoridade. Equilibrando o disco, ao lado das canções mais blues e das mais emotivas, está o lado hard rock da banda, representado nas faixas I Ain´t the One, Poison Whiskey e na também clássica Gimme Three Steps.

É claro que sempre vem à lembrança a tragédia que abalou o grupo anos depois e afetou a sua carreira, mas o Lynyrd deve ser lembrado, sempre com mais ênfase, no que proporcionou ao mundo em seus primeiros anos. Fazendo música pela música, de uma forma que apenas um seleto grupo de bandas, nas quais eu incluo Led Zeppelin, Free e Grand Funk Railroad, sabia executar, unindo emoção, simplicidade e dinâmica, formatando, em definitivo, as tendências musicais mais emblemáticas do rock no começo dos anos setenta. 

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