METAL CHURCH – THE DARK
O Metal Church tem, em sua carreira, um grande clássico: o álbum de
estréia auto-intitulado. Um disco tão maduro, tão bem composto, arranjado e
produzido que mal parece ser o primeiro trabalho de uma banda iniciante. Não
creio que qualquer ser vivente que seja fã do estilo tenha passado incólume
ante a qualidade e a vibração deste disco, que marcou e marca até hoje qualquer
um que o tenha escutado.
Eu quase concordo com tudo que foi escrito acima.
O parágrafo, porém, contém em seu teor uma falha que o torna impreciso.
O Metal Church não tem apenas um grande clássico.
Ele tem dois grandes clássicos! É um erro crasso considerar The Dark um
disco inferior em relação ao álbum de estreia mas, infelizmente, muita gente
tem essa opinião.
The Dark é o único disco que ainda mantém a mesma formação do primeiro
álbum e é tão bom quanto este. É diferente? Claro que sim! Ele parece soar um
pouco mais retilíneo do que a estreia, que tinha mais exercícios de mudanças de
andamento, mas é dotado do mesmo grau de excelência. Talvez a mudança mais
facilmente identificável esteja na forma como está atuando o baterista Kirk
Arrington, já que no primeiro álbum, ele executa muitas viradas e, em The Dark,
se mantém mais contido, mais fixo ao ritmo, sem, porém, deixar de apresentar uma
atuação soberba no instrumento.
Amparado por uma capa simples e genial, o disco abre, de cara, com Ton
of Bricks, faixa de título perfeito, onde a banda já demonstra o que pretende,
com uma música curta e direta, mas que soa absolutamente como Metal Church.
Talvez, justamente pelo fato de ser curta, ela evidencie a diferença entre esse
disco e o anterior, que iniciava com duas músicas mais longas. De qualquer
forma, desde que a ouvi pela primeira vez, Ton of Bricks ingressou para minha
lista de músicas favoritas da banda.
Assim como também o é a faixa seguinte, Start the Fire, outra música
cativante, de ritmo preciso e com um refrão forte, entoado pelos backing
vocals. Clássico instantâneo, ao lado de Line of Death e, pricipalmente, a
emocionante Watch the Children Pray, provavelmente a faixa mais conhecida do
disco, graças ao primeiro vídeo clip produzido pela banda, bastante sóbrio e
bem feito, condizente com a canção.
Embora o guitarrista Kurdt Vanderhoof pudesse fazer o papel de líder da
banda, as parcerias de composições são bem distribuídas entre todos,
concentrando mais no trio entre Vanderhoof, o também guitarrista Craig Wells e
o saudoso vocalista David Wayne, mas com participações esporádicas dos demais
membros. Talvez venha daí a diversidade que o disco contém e que é representada
não só na faixa-título, mas também na rapidez de Psycho e nas levadas de Over
My Dead Body, Burial at Sea e, com destaque, na fluidez de Method to your
Madness, uma música pesada e vibrante, mas ao mesmo tempo dotada de um carisma
absurdo, que faz você querer reouvir por diversas vezes.
Infelizmente, é necessário reconhecer que o Metal Church é outra
daquelas bandas cuja dinâmica interna truncou o seu caminho para os níveis mais
elevados de popularidade. Trocas infinitas de membros, em momentos cruciais da
carreira, como esse início de passos certeiros, tendem a alienar a boa vontade
de alguns fãs. Não foi o meu caso e provavelmente também não o foi para muitos,
mas apesar de apreciar o disco seguinte, com o vocalista Mike Howe, me parece
que algo foi gradativamente se perdendo, e o que era uma curva ascendente
passou a apontar para baixo. O Metal Church, porém, nunca perderá seu lugar na
memória dos fãs e essa perenidade é cortesia do que foi realizado em seus dois
primeiros discos.
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