LOUDNESS – DISILLUSION
Sempre, durante a semana anterior ao lançamento de uma nova resenha, eu
dedico algum tempo para reescutar o disco sobre o qual pretendo escrever, para
ver que ideias ele me desperta. Essa é, indubitavelmente, a melhor parte de
todo o processo. Eu nunca escrevi sobre algum disco de que não gostasse, mas
por conta daquelas desconhecidas razões que a gente não explica, tem certos
discos que acabam sempre sendo um pouco mais especiais, trazendo lembranças que
mesmo outros preferidos da casa não despertam. É o caso desse álbum do
Loudness, uma das minhas primeiras aquisições de fita cassete vinda de algum
lugar do país. Foi uma escolha aleatória, entre diversas opções de um catálogo
repleto de nomes até então desconhecidos para mim, portanto eu não posso reclamar
da sorte.
Se tem algo que eu curto bastante é a chance de escutar meu estilo de
música favorito nos mais diversos sotaques. Nada daquela coisa de inserir
forçosamente trechos típicos das melodias folclóricas locais para expor sua
etnia: “olhem como eu sou espanhol” ou ”olhem como eu sou francês”, e por aí
vai. Eu prefiro que a música me soe espanhola, francesa ou japonesa apenas pelo
fato de estar sendo tocada por espanhóis, franceses ou japoneses. Assim é como
é feito pelo Baron Rojo, pelo Trust e assim é como é feito pelo Loudness.
Em qualquer dos casos, porém, passado o estranhamento inicial, os
ouvidos se acostumam e a gente desfruta plenamente de um excelente disco de
heavy metal. Um daqueles que nos traz a satisfação íntima de conhecer o estilo
e ter a chance de apreciar um trabalho tão bom, tão inspirado. O guitarrista
Akira Takasaki, compositor de todas as faixas, que tiveram letras do vocalista
Minoru Niihara, demonstrou um talento absurdo para criar músicas pesadas e
ganchudas ao mesmo tempo. Akira, como pode ser percebido pelas instrumentais
Anthem e Exploder, navegava bem próximo daquela pegada que viria a fazer a fama
de Yngwie Malmsteen. Traços de Scorpions, Van Halen e Accept também podem ser
identificados aqui e ali. Que me perdoem os fãs da fase mais americana da
banda, cujo grande marco inicial é a música Crazy Nights, mas essa canção tem
respaldo apenas para ser lado B de qualquer outra música deste Disillusion.
Tá certo que Crazy Nights é uma música legalzinha e tal, mas todo o
repertório de Disillusion se encontra bem além dessa definição. Eu não consigo
estabelecer uma ordem de preferência entre Esper, Dream Fantasy, Ares Lament,
Milky Way, Crazy Doctor, Butterfly, Revelation ou Satisfaction Guaranteed. São
todas exemplos do heavy metal mais puro e original, sem misturas, sem
tendências, sem subestilos. Apenas heavy metal. Recomendadíssimo principalmente
para aqueles que são mais chegados na pegada do comecinho dos anos 80.
Escrever isso me fez lembrar que eu nunca procurei conhecer melhor
outras bandas daquele país, como Earthshaker, Bow Wow, EZO e Anthem, sendo que
as duas últimas tiveram até discos lançados no Brasil. Todas estão entre as
primeiras bandas japonesas, contemporâneas do Loudness, então dá pra ouvir sem
medo de esbarrar com essa modinha atual de j-rock. Vou, portanto, aproveitar a
deixa para preencher essa lacuna e lembrar sempre o quanto essa é uma forma de
expressão universal.
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