sábado, 3 de outubro de 2015



ALICE IN CHAINS – DIRT

A cada dia que passa surge uma nova banda de stoner no mundo. Por mais que eu goste do estilo, é meio estranho usar as palavras “nova” e “stoner” em uma mesma frase, pois, na grande maioria dos casos, as bandas emulam cada timbre, cada arranjo, que o Black Sabbath já fez ao longo de sua trajetória. Isso não é de todo mal, afinal estamos falando de Black Sabbath e não se poderia pedir uma influência melhor, mas tem momentos em que a dita influência é usada com tanta enfâse que você não consegue identificar traços de originalidade no trabalho dos artistas.
O que eles estão trazendo de relevante para sua música, além de soar como bandas covers? Covers não de músicas, mas de estilo. Fazem músicas originais na forma, mas não na essência, e a gente acaba assimilando porque apreciamos aquela essência, fomos doutrinados por ela.
Isso não contradiz o fato de que um pouco de características pessoais sempre vai fazer um diferencial, pelo menos para mim. Eu considero o Alice In Chains uma ótima banda de stoner rock. São claramente identificáveis as influências de Black Sabbath, de Led Zeppelin e da sonoridade típica de seu estado de origem, mas também há elementos muito próprios em sua música. O Alice in Chains não é, e nem nunca se insinuou ser, uma banda de heavy metal, mas não é por isso que deixa de ser pesada. Passagens doom e psicodélicas estão espalhadas por todo o disco, desde a primeira música, Them Bones, que mistura a tensão explosiva de seu arranjo com as harmonias vocais cativantes, cortesia da principal dupla de compositores do grupo, Jerry Cantrell e Layne Staley, guitarrista e vocalista, respectivamente.
É, porém, do trio de instrumentistas, uma das melhores, e mais sinistras músicas do disco, Rain When I Die. Essa música não virou single, e nem poderia mesmo ser, visto o seu andamento carregado e com alguns toques que lembram Kashmir. Pelos lados sabáticos, tem a faixa Junk Head e na área mais personal, eu destacaria Damn That River e Hate to Feel como algumas das melhores faixas. Aproximando-se do final do disco, a dobradinha Angry Chair e Down In a Hole faz um bom equilíbrio entre uma canção de mais peso com outra um pouco mais melódica, apesar de carregada de profunda melancolia.

Em algum momento do álbum há uma pequena vinheta gravada por Tom Araya, mas nada do tipo que valha a pena procurar ouvir, pois é muito curta e pouco impactante. O disco tem valor pelo trabalho da formação, que além de Staley e Cantrell, ainda tinha o falecido baixista Mike Starr e o excelente baterista Sean Kinney, e que gravaram apenas esse disco e o seu antecessor. Tais discos, ouvidos hoje em dia, não soam datados e nem como se fossem retratos estáticos de uma época ou de um cenário específico. São tão bons e relevantes agora como o foram na época de lançamento, há mais de vinte anos atrás e esse é o retorno obtido por quem coloca suas marcas pessoais no trabalho. Pode-se optar por seguir à risca passos que já foram percorridos ou usar esses referenciais como uma bussola que lhe permita chegar aos mesmos lugares por vias distintas. São esses últimos que nos propiciam novas opções de paisagens.

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