domingo, 12 de abril de 2015



HELLOWEEN – THE TIME OF THE OATH

A concepção da obra-prima deve ser o melhor acidente de percurso na trajetória de uma banda. Ter o seu talento reconhecido, retratado em um momento específico da carreira onde tudo convergiu para a criação daquele álbum que, doravante, permanecerá perpetuado no seleto grupo de obras consideradas clássicas.
Mas o que deveria ser júbilo acaba, por vezes, tornando-se transtorno. O mesmo fã que consagra é aquele que constrange e delimita a carreira de seus ídolos. O álbum inovador finda por tornar-se uma prisão criativa e as pessoas começam a cobrar por um novo Bonded by Blood, um novo Painkiller, um novo Reign in Blood, um novo Master of Puppets, deixando de dar o devido reconhecimento a discos seguintes, que são diferentes, mas tão bons quanto os consagrados.
O Helloween fez a saga Keeper of the Seven Keys e disparou para o topo do cenário do heavy metal. Revelou um grande vocalista e criou uma sequência de canções que eternizou seu nome, além de dar origem a uma leva de seguidores, que estudaram e – isso não é necessariamente positivo – reproduziram suas idéias. Mas o que importa é que os Keepers já foram feitos e ponto final. A banda não os refez com outro nome. Criou dois novos discos que são, sim, muito bons, e que, até na arte das capas, afastaram-se um pouco dos conceitos fantasiosos que fizeram sua fama.
Mas não eram os Keepers.
E, mais na frente, no futuro próximo, um pecado ainda maior: Michael Kiske está fora.
A banda tomou o rumo adequado e se reconstruiu. Sabiamente, trouxeram um novo vocalista que não tinha nada a ver com seu antecessor. Tudo bem, Kiske era um mestre em sua função, mas as relações internas se deterioraram e ele saiu. Paciência, vamos andar para frente e tentar algo novo, pois emular o passado seria cair no pastiche.
 Ah, mas o vocalista novo tem voz de hard rock e não alcança as notas que Kiske alcançava… Dane-se! Onde está o maldito livro de regras que delimita os caminhos que uma banda escolhe seguir? E porque razão essa banda deveria virar imitadora de seus imitadores? Nada disso! A banda apostou no que tinha em mão e se deu bem. Lançou um primeiro trabalho ainda um pouco acanhado, Master of the Rings, mas, na sequência, pegaram impulso e lançaram um de seus melhores discos: The Time of the Oath.
Basta ouvir. Trata-se de uma fantástica sequência de músicas em que cada uma soa individualmente como um clássico. É o tipo de disco que pode ser tocado na íntegra em um show especial. Desde a abertura com uma faixa curta e bombástica como We Burn, passando pelo metal tradicional de Steel Tormentor e pela inusitada Wake Up the Mountain, chega-se até o, provavelmente, maior clássico da fase Andi Deris: Power. Uma música melódica, curta e direta, uma faixa tão importante, carismática e essencial dentro da carreira da banda tal qual o são Ride the Sky ou Eagle Fly Free.
Depois dessa perfeita sequência de quatro canções, vem uma balada para dar uma variada no clima, mas mantendo o nível do disco ainda no alto, pois Forever and One é uma das melhores – se não a melhor – faixa desse estilo já feita pelo Helloween.  Em seguida, a banda volta a carga com bastante agressividade em Before the War, fechando uma espetacular marca de seis faixas seguidas com absoluta perfeição.
Após toda essa catarse, o Helloween pôde se dar ao luxo de incluir algumas músicas de menor impacto, mas, entre as restantes, tem que se dar destaque ao hard rock de Anything My Mama Don´t Like, as faixas tipicamente helloweenianas Kings Will Be Kings e Mission Motherland, repletas de solos e passagens mais elaboradas e, por fim, a soturna faixa-título, The Time of the Oath, que encerra o disco em padrão altíssimo.

Andi Deris, se consagrou e firmou seu lugar na banda, independente de ainda haver viúvas do seu antecessor. Kiske e Deris, cada um, a seu modo, são excelentes e realizaram trabalhos insuperáveis dentro do Helloween. A banda prossegue, alternando acertos e erros, mas olhando para a frente, sempre um passo a frente de seus eternos clones.

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