HELLOWEEN – THE TIME OF THE OATH
A concepção da
obra-prima deve ser o melhor acidente de percurso na trajetória de uma banda.
Ter o seu talento reconhecido, retratado em um momento específico da carreira
onde tudo convergiu para a criação daquele álbum que, doravante, permanecerá
perpetuado no seleto grupo de obras consideradas clássicas.
Mas o que deveria ser
júbilo acaba, por vezes, tornando-se transtorno. O mesmo fã que consagra é
aquele que constrange e delimita a carreira de seus ídolos. O álbum inovador
finda por tornar-se uma prisão criativa e as pessoas começam a cobrar por um
novo Bonded by Blood, um novo Painkiller, um novo Reign in Blood, um novo
Master of Puppets, deixando de dar o devido reconhecimento a discos seguintes,
que são diferentes, mas tão bons quanto os consagrados.
O Helloween fez a saga
Keeper of the Seven Keys e disparou para o topo do cenário do heavy metal. Revelou
um grande vocalista e criou uma sequência de canções que eternizou seu nome,
além de dar origem a uma leva de seguidores, que estudaram e – isso não é
necessariamente positivo – reproduziram suas idéias. Mas o que importa é que os
Keepers já foram feitos e ponto final. A banda não os refez com outro nome.
Criou dois novos discos que são, sim, muito bons, e que, até na arte das capas,
afastaram-se um pouco dos conceitos fantasiosos que fizeram sua fama.
Mas não eram os
Keepers.
E, mais na frente, no
futuro próximo, um pecado ainda maior: Michael Kiske está fora.
A banda tomou o rumo adequado e se
reconstruiu. Sabiamente, trouxeram um novo vocalista que não tinha nada a ver
com seu antecessor. Tudo bem, Kiske era um mestre em sua função, mas as
relações internas se deterioraram e ele saiu. Paciência, vamos andar para
frente e tentar algo novo, pois emular o passado seria cair no pastiche.
Ah, mas o vocalista novo tem voz de hard rock
e não alcança as notas que Kiske alcançava… Dane-se! Onde está o maldito livro
de regras que delimita os caminhos que uma banda escolhe seguir? E porque razão
essa banda deveria virar imitadora de seus imitadores? Nada disso! A banda
apostou no que tinha em mão e se deu bem. Lançou um primeiro trabalho ainda um
pouco acanhado, Master of the Rings, mas, na sequência, pegaram impulso e
lançaram um de seus melhores discos: The Time of the Oath.
Basta ouvir. Trata-se de uma
fantástica sequência de músicas em que cada uma soa individualmente como um
clássico. É o tipo de disco que pode ser tocado na íntegra em um show especial.
Desde a abertura com uma faixa curta e bombástica como We Burn, passando pelo
metal tradicional de Steel Tormentor e pela inusitada Wake Up the Mountain,
chega-se até o, provavelmente, maior clássico da fase Andi Deris: Power. Uma
música melódica, curta e direta, uma faixa tão importante, carismática e
essencial dentro da carreira da banda tal qual o são Ride the Sky ou Eagle Fly
Free.
Depois dessa perfeita sequência de
quatro canções, vem uma balada para dar uma variada no clima, mas mantendo o
nível do disco ainda no alto, pois Forever and One é uma das melhores – se não
a melhor – faixa desse estilo já feita pelo Helloween. Em seguida, a banda volta a carga com bastante
agressividade em Before the War, fechando uma espetacular marca de seis faixas
seguidas com absoluta perfeição.
Após toda essa catarse, o Helloween pôde
se dar ao luxo de incluir algumas músicas de menor impacto, mas, entre as
restantes, tem que se dar destaque ao hard rock de Anything My Mama Don´t Like,
as faixas tipicamente helloweenianas Kings Will Be Kings e Mission Motherland,
repletas de solos e passagens mais elaboradas e, por fim, a soturna
faixa-título, The Time of the Oath, que encerra o disco em padrão altíssimo.
Andi Deris, se consagrou e firmou
seu lugar na banda, independente de ainda haver viúvas do seu antecessor. Kiske
e Deris, cada um, a seu modo, são excelentes e realizaram trabalhos
insuperáveis dentro do Helloween. A banda prossegue, alternando acertos e
erros, mas olhando para a frente, sempre um passo a frente de seus eternos clones.
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