sábado, 23 de janeiro de 2016



ARTILLERY - FEAR OF TOMORROW

Na década de 80, quando cada nova banda que surgia era completamente diferente da outra – em oposição à clonagem em série que existe hoje – a Dinamarca apresentou ao mundo três maravilhas que se destacavam pelo seu som original: Mercyful Fate, Pretty Maids e Artillery. Em divergência da miríade de bandas que brotavam nos outros países do bloco escandinavo, a Dinamarca teve uma produção razoavelmente tímida, não chegando a gerar uma prole tão extensa quanto a Noruega ou a Suécia.
É claro que, para afirmar isso, eu estou relevando a provável infinidade de pequenas bandas que não obtiveram maior destaque e que devem ser conhecidas apenas no ambiente doméstico daquela região. Entre as que conseguiram alcançar alguma relevância, houve também as lendárias Evil e Maltese Falcon e, em tempos mais recentes, grupos como LeFay, Iron Fire e Royal Hunt. Não deixa, porém, de ser uma cena diminuta, apesar de extremamente relevante e influente.
Os três grandes nomes mencionados lá no começo apontaram, cada um, para um modo diverso de fazer heavy metal. O Artillery enveredou para o thrash metal e fez isso com muita personalidade. Seu álbum de estréia me surpreende até hoje: é rápido, pesado, criativo e muito agressivo, ou seja, perfeito! Logo de cara chama a atenção o vocal de Flemming Ronsdorf, de características únicas. Por diversas ocasiões, escutei amigos dizendo que o Artillery soava melhor com o vocalista Carsten Lohmann, que gravou sua primeira demo tape, mas infelizmente eu não pactuo com essa corrente. Carsten era um vocalista bom, mas soava melódico em demasia para o que o Artillery precisava.
E o que o Artillery precisava era do rosnado original de Flemming Ronsdorff. Sua voz casa bem melhor com a proposta da banda e contribui para deixá-la mais original e violenta. A sua ausência é demasiado percebida nos lançamentos mais recentes do Artillery. Os vocalistas que o substituíram são talentosos e carismáticos, mas são mais do mesmo no meio do cenário, enquanto Flemming se diferenciava de imediato. Evidente que a banda não se sustenta apenas na figura de Flemming. O trabalho instrumental está à altura, compondo uma unidade sonora violentíssima, ao mesmo tempo em que é carregada de um clima sinistro e maléfico. A banda fez, de seu álbum de estréia, uma peça clássica do estilo. A sequência inicial com Time Has Come, The Almighty, Show Your Hate, King Thy Name Is Slayer e Out Of The Sky é absolutamente impecável! Não dá pra pular um segundo de música. Não dá para sequer desviar a atenção. Essa primeira metade do album é tão impactante que ameaça ofuscar as canções restantes Into the Universe, The Eternal War, Deeds of Darkness e, a melhor entre elas, Fear Of Tomorrow, mas a obra, como um todo, é essencial e não perdeu, mesmo após trinta anos de seu lançamento, o frescor contido. Ainda soa atual, sem aqueles ranços cronológicos que fazem com que alguns discos pareçam ficar presos à sua época de lançamento.
Em seu trabalho seguinte, o Artillery conseguiu soar ainda mais thrash, e no terceiro álbum buscaram uma variedade maior nas composições, mas Fear of Tomorrow sempre terá um lugar especial para mim. Talvez seja pelo fato da banda soar como se fosse um cruzamento de Anvil e Slayer. O que poderia ser melhor? Anvil + Slayer + personalidade própria = Artillery!


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