ARTILLERY - FEAR OF TOMORROW
Na década de 80, quando cada nova banda que surgia era completamente
diferente da outra – em oposição à clonagem em série que existe hoje – a
Dinamarca apresentou ao mundo três maravilhas que se destacavam pelo seu som
original: Mercyful Fate, Pretty Maids e Artillery. Em divergência da miríade de
bandas que brotavam nos outros países do bloco escandinavo, a Dinamarca teve
uma produção razoavelmente tímida, não chegando a gerar uma prole tão extensa
quanto a Noruega ou a Suécia.
É claro que, para afirmar isso, eu estou relevando a provável
infinidade de pequenas bandas que não obtiveram maior destaque e que devem ser
conhecidas apenas no ambiente doméstico daquela região. Entre as que
conseguiram alcançar alguma relevância, houve também as lendárias Evil e Maltese
Falcon e, em tempos mais recentes, grupos como LeFay, Iron Fire e Royal Hunt.
Não deixa, porém, de ser uma cena diminuta, apesar de extremamente relevante e
influente.
Os três grandes nomes mencionados lá no começo apontaram, cada um, para
um modo diverso de fazer heavy metal. O Artillery enveredou para o thrash metal
e fez isso com muita personalidade. Seu álbum de estréia me surpreende até
hoje: é rápido, pesado, criativo e muito agressivo, ou seja, perfeito! Logo de
cara chama a atenção o vocal de Flemming Ronsdorf, de características únicas.
Por diversas ocasiões, escutei amigos dizendo que o Artillery soava melhor com
o vocalista Carsten Lohmann, que gravou sua primeira demo tape, mas
infelizmente eu não pactuo com essa corrente. Carsten era um vocalista bom, mas
soava melódico em demasia para o que o Artillery precisava.
E o que o Artillery precisava era do rosnado original de Flemming
Ronsdorff. Sua voz casa bem melhor com a proposta da banda e contribui para
deixá-la mais original e violenta. A sua ausência é demasiado percebida nos
lançamentos mais recentes do Artillery. Os vocalistas que o substituíram são
talentosos e carismáticos, mas são mais do mesmo no meio do cenário, enquanto
Flemming se diferenciava de imediato. Evidente que a banda não se sustenta
apenas na figura de Flemming. O trabalho instrumental está à altura, compondo
uma unidade sonora violentíssima, ao mesmo tempo em que é carregada de um clima
sinistro e maléfico. A banda fez, de seu álbum de estréia, uma peça clássica do
estilo. A sequência inicial com Time Has Come, The Almighty, Show Your Hate,
King Thy Name Is Slayer e Out Of The Sky é absolutamente impecável! Não dá pra
pular um segundo de música. Não dá para sequer desviar a atenção. Essa primeira
metade do album é tão impactante que ameaça ofuscar as canções restantes Into
the Universe, The Eternal War, Deeds of Darkness e, a melhor entre elas, Fear
Of Tomorrow, mas a obra, como um todo, é essencial e não perdeu, mesmo após
trinta anos de seu lançamento, o frescor contido. Ainda soa atual, sem aqueles
ranços cronológicos que fazem com que alguns discos pareçam ficar presos à sua
época de lançamento.
Em seu trabalho seguinte, o Artillery conseguiu soar ainda mais thrash,
e no terceiro álbum buscaram uma variedade maior nas composições, mas Fear of
Tomorrow sempre terá um lugar especial para mim. Talvez seja pelo fato da banda
soar como se fosse um cruzamento de Anvil e Slayer. O que poderia ser melhor?
Anvil + Slayer + personalidade própria = Artillery!
Nenhum comentário:
Postar um comentário