JUDAS
PRIEST – HELL BENT FOR LEATHER
Novamente
se trata daquela benção, de possuir um catálogo tão privilegiado, que qualquer
pessoa tem que refletir um pouco antes de nomear qual é o disco mais clássico
entre os outros clássicos. Ter um acervo onde até os trabalhos menos inspirados
ou mais polêmicos são essenciais e relevantes. Hell Bent For Leather,
juntamente com Stained Class, me passam a impressão de serem meio como pérolas
perdidas dentre a discografia da banda. Qual o melhor disco do Judas Priest?
Rapidamente alguém vai citar British Steel, Screaming for Vengeance,
Painkiller, Sin After Sin ou algum outro, mas aqueles dois são pouco lembrados
no momento de uma resposta mais imediata. Não descarto a possibilidade de que
essa seja uma impressão equivocada, sob uma ótica brasileira, gerada pelo fato
desses dois álbuns terem sido lançados muito tardiamente por aqui.
Hell
Bent for Leather é o álbum que fecha o ciclo dos cinco discos lançados antes do
ao vivo Unleashed in the East, que antecede o lançamento de British Steel e faz
a divisória entre o Judas dos anos 70 e o dos anos 80. Eu sempre considerei a
obra do Judas Priest como algo muito coeso. Não existem oscilações extremas de
identidade. Do Turbo ao Painkiller, de Sad Wings ao Defenders, tudo soa como
Judas Priest. A presença de Rob Halford, vocalista-mor do heavy metal, e o
trabalho siamesco desenvolvido por Glen Tipton e K. K. Downing são selos que
revelam não apenas a personalidade da banda, mas as bases que fundamentam todo
o estilo. Se o Judas passeou com desenvoltura do hard quase glam de Turbo até o
thrash de Painkiller, é porque os artistas mais emblemáticos desses subestilos
já utilizavam elementos da banda inglesa em suas composições.
Hell
Bent for Leather foi lançado em 1978, mas é o disco menos setentista de seu
período. Em termos de desempenho, o disco antecede, quase como um prólogo, o
que seria apresentado em British Steel, com faixas mais concisas e diretas,
além da variedade intrínseca. A formação era a que continha o praticamente
inalterado quarteto, com o acréscimo do baterista Les Binks, cuja passagem pela
banda desenvolveu-se justamente no período dos três discos entre Stained Class
e Unleashed in the East .
A
faixa título é a grande sobrevivente do repertório do álbum, nos setlists dos
shows, seguida esporadicamente por The Green Manalishi, mas como seria
prazeroso se eles ainda pudessem encontrar espaço para executar clássicos como
Running Wild ou Delivering the Goods. Há um forte gancho na melodia de faixas
como Evening Star, Take On the World, Rock Forever e da balada Before the Dawn,
colaborando para o potencial de vendas do disco, sem que o mesmo descambe para
o mero comercialismo, e balanceando com o clima mais hard setentista de músicas
como Killing Machine, Burnin Up e Evil Fantasies.
Quando
eu comecei a escutar heavy metal, o Judas já era uma lenda. Do ano de sua
estréia até o British Steel, passaram-se seis anos, que totalizaram seis discos
de estúdio. Às vezes eu fico imaginando como deve ter sido a experiência de
quem acompanhou o conjunto em sua época, comprando os discos no momento de seu
lançamento e vibrando com o fato de que cada um era melhor do que o outro. Não
seria diferente da experiência que tive com Metallica ou Slayer, que de certa
forma foram meus contemporâneos, mas esses últimos, embora inaugurassem a
linguagem thrash, nasceram sob a égide de uma cultura heavy metal já
estabelecida.
Na
época do Judas, eles estavam criando essa cultura.
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