ROLLING STONES – LET IT BLEED
Não se costuma ver, frequentemente, o nome dos Rolling Stones sendo
colocados ao lado de seus devidos pares, que seriam bandas como Led Zeppelin,
Cream ou Who. Uma boa parte deve discordar, mas essa é a minha opinião. Os
Stones não tinham, obviamente, a vontade de mergulhar nas jams instrumentais
que caracterizavam as duas primeiras, ou nas viagens temáticas que Pete
Townshend desenvolvia para a última, pois o foco do grupo sempre foi o
rock´n´roll e o blues. Sim, fizeram várias experimentações no decorrer de seu
longuíssimo trajeto, flertando com vários outros ritmos, como reggae e disco
music, mas nunca se desviaram da essência. Os Stones, no vinil ou no palco, é
uma formação que pode até ser igualada, mas dificilmente será superada.
A trinca de discos que começa em Beggar´s Banquet e termina em Sticky
Fingers representa, para mim, o ápice criativo do conjunto. O disco
intermediário, conhecido com Let it Bleed, é o meu preferido e, curiosamente, é
intermediário também no momento pessoal pelo qual a banda passava. Brian Jones
estava saindo e Mick Taylor estava chegando. Os dois participaram do álbum mas
nenhum chegou a gravá-lo por inteiro, fazendo apenas pequenas participações em
duas músicas cada um. Keith Richards fez, praticamente, todo o trampo sozinho. Eu
não me incluo entre as pessoas que, atualmente, elevam Keith a esse status de
semideus que parece ter retroalimentado o próprio ego do sujeito, apesar de que
ele é realmente genial, mas o fato dele ter tido tal desempenho nesse disco,
tão válido para mim, diz muito sobre o guitarrista, se é que tudo já não foi
dito.
E não há dúvidas de que os Stones eram uma superbanda. Os
comportamentos discretos de Charlie Watts e Bill Wyman eram pouco mais do
fachadas para dois músicos excepcionais, donos de talento e bom gosto, e tão
importantes para o grupo quanto o são Richards e Mick Jagger. É graças a eles
que as introduções de Live With Me e Monkey Man soam tão lindas. Aliás, todos
os arranjos desse álbum são algo além do sublime. É dura a tarefa de qualquer
música obter destaque em um disco que começa com Gimme Shelter e termina com
You Can´t Always Get What You Want, mas o repertório presente mantém no miolo o
carisma contido nas suas extremidades, inclusive porque canções como essas não
são simplesmente clássicos dos Stones, ou clássicos do rock. Elas vão muito
além disso: são clássicos da música universal, são clássicos da cultura humana,
que ultrapassarão nossa geração e serão cultuadas e celebradas muito depois que
os artistas não estejam mais aqui.
Um exército de músicos colaborou junto com a banda para a realização
desse disco, sendo que alguns, como Bobby Keys e Nicky Hopkins, eram parceiros
habituais. O mais célebre de todos, porém, era o pianista Ian Stewart, que foi
co-fundador do grupo mas, por questões empresariais, mantinha-se à parte dos
holofotes que incidiam sob o quinteto principal. A única participação de Ian
aqui foi na música que deu nome ao disco e foi a sua atuação que tornou a
canção aquilo que é. Desde o respeitoso tom concedido à cover de Love in Vain,
de Robert Johnson, até a intensidade de Midnight Rambler, estão explícitos os
alicerces que fazem com que a banda ainda seja atuante e relevante. Não nos
importemos com o fato de que algumas pessoas encontrem diversão fazendo piadas
com a faixa etária dos músicos porque, afinal, se não fosse por esse inevitável
fato, eles não encontrariam outros motivos para tecer críticas aos Rolling
Stones.
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