OPERATION MINDCRIME
Discos conceituais são algo complicado. Não em sua essência, mas em seu
funcionamento. Na minha opinião, é preciso um raro equilíbrio para que o
trabalho sobreviva como estória – já que é a isso que se propõe – mas que as
suas músicas possam também existir isoladamente, que façam sentido dentro de um
ambiente de show, intercaladas com outras canções dentro do setlist, sem a
sensação de serem algo dependente de outras partes, anteriores ou posteriores.
Dessa forma, creio que o Queensryche conseguiu conceber um dos melhores álbuns
conceituais de todos os tempos! Lançado no mesmo ano de dois outros marcos do
metal de alta patente, And Justice For All, do Metallica, e Seventh Son Of A
Seventh Son, do Iron Maiden, a sequência das músicas, nesse disco, quando se considera
que fazem parte de uma narrativa, soa tão natural que aparenta que a banda as
compôs naquela ordem. Caso você o pegue para escutar de uma só vez, é
perceptível a fluência, a coesão entre as faixas que soam realmente como um
contexto, rumo a um clímax. Por outro lado, se você pincelar uma canção
qualquer, ela também soará perfeita, com suas estrofes e refrão, única e plena
em sua individualidade.
Evolução é uma palavra pouco utilizada quando se fala do Queensryche. É
claro que ela existe, mas a discografia da banda, na fase em que contava com o
guitarrista Chris DeGarmo, apresenta um repertório de tão alto nível, desde seu
princípio, que os saltos evolutivos são mais discretos. Há diferenças, claro de
Warning até Promised Land, mas elas não soam bruscas ou descaracterizantes da
personalidade da banda. O Queensryche sempre pareceu estar em um patamar além.
Mesmo se analisarmos o grupo exclusivamente dentro do nicho do prog metal, eles
parecem existir em um espaço próprio, sem vínculo com as demais formações que
executam esse estilo. Assim, o destaque de Operation Mindcrime não poderia ser
outro que não fosse o carisma de cada música e é justamente por isso que não
posso citar faixas individuais. A qualidade é altíssima em toda a audição.
Lembrando que é um disco conceitual, pinçar uma música seria como dizer, por
exemplo, que o capítulo 7 de um livro é melhor do que o capítulo 12.
Depois de Operation, o Queensryche ainda concebeu dois grandes discos e
um equívoco – Hear in the Now Frontier – que marcou a saída de DeGarmo. Depois
disso, foi uma sequência de trabalhos medianos e sem luz própria, além de uma
tentaiva de retormar o sucesso de Operation, com uma continuação que mergulhou
na obscuridade, demonstrando que o sucesso da banda dependia da combinação de
talentos daquela formação, ao contrário do que demonstrou Geoff Tate, que, com
sua vaidade, fez com que o legado do Queensryche desmoronasse até que houvesse
a inevitável separação, cabendo à banda reiniciar suas atividades com outro
vocalista e, surpreendentemente, retomar os dias de glória. Casos como o do
Queensryche, ou do Accept, mostram que a imagem que um grupo projeta não está
necessariamente atrelada à figura de seu frontman e, dentro do heavy metal, as
coisas funcionam melhor assim.
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