JOURNEY – ESCAPE
Não deve existir um subestilo mais datado do que o AOR. Falo isso sem
submeter à palavra “datado” a carga pejorativa que geralmente lhe acompanha.
Datado, aqui, é apenas referência ao auge do estilo, lá no intervalo entre 1976
e 1982. Sempre que eu escuto esse tipo de música, minhas recordações são
arremessadas para essa época.
Não sei de onde se originou a denominação AOR, mas ela soa um pouco
prepotente. Rock orientado para adultos? Há um certo grau de esnobismo
desnecessário aqui. Uma insinuação de que o restante do que se faz sob a
denominação rock seria voltado apenas para adolescente, o que não é bem
verdade. O AOR é caracterizado pela sonoridade cruzada entre o progressivo, o
hard e o pop, com uma tendência maior para o primeiro, mas sem se ater às longas
suítes que o caracterizam. Algo como um progressivo mais apto às FMs, no tempo
em que estas eram mais, digamos, ousadas. É um nicho musical onde podemos
inserir bandas como Styx, Asia, Survivor, Toto, Boston, Kansas e, com boa
vontade, até o Supertramp. Dentro desse rol, o Journey tem uma posição de
destaque. Algo mais ou menos semelhante com o status que o Iron Maiden tem
dentro do heavy metal.
Nada surpreendente quando vemos que o guitarrista Neal Schon formou a
banda depois de passar uma temporada na companhia de Carlos Santana, com quem
gravou dois discos, incluindo o progressivo Caravanserai. Depois de três álbuns
de seu novo projeto, Schon iria receber o apoio do cantor Steve Perry e um novo
capítulo da história do rock seria escrito.
Steve Perry é dono daquele timbre de voz que convencionamos chamar de
angelical, podendo tranquilamente ser colocado em paralelo à Jon Anderson do
Yes. Chamá-lo de vocalista é reducionista. Perry é um cantor, no mais estrito
sentido denotativo da palavra. A partir de sua entrada, o Journey alcançou
novos limites artísticos e comerciais, mas em Escape, as coisas tomaram outros
rumos. Não vou dizer que Don´t Stop Believin seja a melhor música de sua
carreira. Isso é muito subjetivo. Mas o certo é que essa canção ganhou vida
própria, além do alcance de seus autores. É aquele tipo de canção que vira um
fenômeno da cultura popular e todos conhecem, mas uma boa parte ignora de quem
seja.
Todo o disco foi composto a partir das parcerias de Schon, Perry e do
tecladista Jonathan Cain, que estreou aqui e permanece até hoje, sendo o
segundo integrante mais longevo da formação, depois de Schon, firmando sua
posição de destaque no grupo, tanto como compositor quanto como tecladista, em
um gênero onde esse instrumento tem tanta importância nos arranjos quanto a
guitarra. Escape não seria um trabalho clássico se se sustentasse apenas em
Don´t Stop Believin e, portanto, tem várias outras canções que merecem ser
referenciadas como Stone in Love, Still They Ride, a faixa título e, principalmente,
a balada Open Arms. Em qualquer uma delas se percebe que, apesar da excelência
de seus integrantes, ninguém parece brilhar sozinho. As músicas chamam a
atenção pelo que são, não pelo guitarrista ter feito um solo extraordinário ou
pelo vocalista ter quebrado uma taça de cristal. É por isso que, mesmo sendo um
estilo ligado a um determinado período de tempo, a música do Journey não
envelhece e permanece atual e relevante.
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