Nada que seja significativo fica restrito a um determinado tempo ou
espaço. A NWOBHM, por exemplo. Pela sua relevância, ela deixou de ser um
fenômeno específico da Inglaterra do começo dos anos 80. Tanto que um dos
melhores discos do estilo foi gerado em outro país, na Holanda, em 1983.
Eternal Dark, do Picture é outro daqueles casos de discos que
miraculosamente foram lançados no Brasil. E que disco! Não é thrash, power,
black, death, ou sei lá o quê. É heavy metal. Puro, simples e autêntico heavy
metal! Da melhor categoria. Sabe aqueles riffs que, vez por outra, você
identifica em várias músicas de bandas diferentes? Estão todos aqui. E é por
isso que é bom. Heavy metal é isso, não é querer reinventar a roda, forçando
elementos desnecessários em uma música até deixá-la desinteressante.
Em vários momento do disco é perceptível uma influência muito forte de
Saxon. As introduções de Griffons Guard the Gold e Make You Burn remetem
diretamente ao grande ícone bretão. A tendência inglesa do som também não é
completamente um acaso ou fruto da influência. O vocalista Pete Lovell, que
estreou nesse álbum, é natural da ilha. Aliás, pode-se dizer que o Picture teve
muita sorte com seus vocalistas, pois Shmoulik Avigal, que gravou o também
clássico Diamond Dreamer, era igualmente excelente.
Tanto à época desse disco, quanto atualmente, os únicos membros
originais da banda eram os integrantes da cozinha, o baixista Rinus Vreugdenhil
e o baterista Laurens Bakker. São bons músicos, evidentemente, apesar de não
fazerem nada extraordinário (e nem isso é um demérito), mas souberam conduzir
bem a banda e sempre se cercaram de outros músicos de igual quilate. No Picture
nunca houve um membro que ofuscasse os demais. A qualidade da banda é baseada
na força do coletivo e é isso que se percebe em suas canções.
Quem poderia mencionar um exemplo de simplicidade e força tão eficaz
quanto o da faixa-título? Ela não tem nada de inusitado. São basicamente duas
linhas melódicas: o riff principal - que
também é a base de voz - que soa tal qual o ritmo de uma marcha, e o refrão
espetacular, e ainda assim é,
certamente, uma das melhores músicas já feitas nesse estilo.
A já citada Make You Burn é outro destaque do disco. É a terceira
música do disco e seu ritmo mais compassado não significa que foi dado ao
ouvinte um tempo para descanso. Cada faixa que se segue vai mantendo o
interesse em alta. A música The Blade tem algo que me faz lembrar de Twisted
Sister em seu andamento. Aqui e ali, em outros momentos do disco, escuto algo
que soa como Omen. Tantas comparações não significam falta de originalidade, e
sim que havia uma sintonia entre os grupos da época. Era uma geração de bandas
que faziam música boa e direta, lhe pegavam pelo pescoço e lhe diziam para
deixar de frescura, porra. Battle for the Universe e Power of Evil seguem o
mesmo padrão, demonstrando que havia um foco nas composições, um direcionamento
claro e definido.
Hoje é difícil localizar bandas novas que se arrisquem a fazer um som
tão tradicional. Convenhamos que é necessário um talento peculiar para se
arriscar nessa área. Uma coisa é conseguir arrancar o headbanging do público
quando se toca a sei lá quantas batidas por minuto... Ter o mesmo alcance de
satisfação, fazendo metal absolutamente tradicional, são outros quinhentos.
Fazer metal clássico está se tornando uma arte perdida e talvez, por isso
mesmo, quem ainda consegue ser bem sucedido nessa empreitada são os veteranos.
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