domingo, 15 de fevereiro de 2015



MOTORHEAD – NO SLEEP ´TIL HAMMERSMITH

Esse foi o primeiro disco do Motorhead que eu ouvi. Tá certo que a banda tem uma infinidade de clássicos, mas não consigo imaginar melhor porta de entrada para sua discografia do que esse ao vivo. Tudo que você precisa saber sobre Motorhead está aqui e, de certa forma, tudo o que você precisa saber sobre um show de metal, principalmente para quem, naquela idade e naquela época, ainda não tinha vivenciado isso.
A doutrinação já começava pela capa, exibindo uma foto da formação clássica em trio, envolta por centenas de luzes que, curiosamente, não iluminam os músicos, envoltos em penumbra, ameaçadores, flagrados em um momento em que você sente que algo muito intenso está acontecendo ali em cima do palco. Para alguém que nunca tinha assistido uma banda de metal tocando ao vivo – e nem imaginava que algum dia iria assistir – aquela capa fazia viajar na intensidade de como seria esse tipo de evento. Discos ao vivo tinham esse poder, que hoje foi diluído, de lhe transpotar para o centro daquele momento e de lhe fazer imaginar o que estaria ocorrendo ao longo da apresentação, quantas pessoas estariam assistindo, como seria a reação delas...
E para ingressar no local, junto com aquele público, bastava colocar a agulha no disco! Nesse momento eu tenho que inverter a ordem natural e começar pelo lado B, da forma que eu conheci o álbum. Há um breve e suave momento de silêncio e então: tugudumtugudumtugudumtugudum... a mais onomatopéica de todas as levadas de bateria passa por cima de você, abrindo caminho para uma linha cíclica de baixo, com o agudo no máximo, até a explosão do começo de Overkill. Não importa que Lemmy fique repetindo que o Motorhead toque rock´n´roll porque, sejamos sensatos, isso não é rock´n´roll nem aqui nem em lugar qualquer! Isso é metal, extremamente intenso! Thrash ou pré-thrash, tanto faz, mas é metal! Era o ano de 1981 e Lemmy já era o ícone que conhecemos - sem que a imprensa precisasse ficar repetindo isso o tempo todo – acompanhado por dois outros caras tão icônicos quanto: Fast Eddie Clarke e Philthy Animal Taylor, compondo o trio que mostrou, com mais propriedade, que não haviam limites para a extrapolação. A música pode ser mais alta, o ritmo pode ser mais rápido, a melodia pode ser mais agressiva.
Até hoje eu não absorvi plenamente o impacto dessa faixa. Eu sempre vou me impressionar  a cada audição. Eu sempre vou querer que os seus falsos finais e recomeços se estendam por mais vezes do que as duas que ocorrem. Após o seu último acorde, um urro de Taylor é a deixa para We Are The Roadie Crew, transição necessária para que cheguemos até Capricorn, uma canção com um ritmo mais diferenciado dentro da discografia do Motorhead, com um leve toque de psicodelia lisérgica, amplificada pelo eco colocado na voz de Lemmy. A partir daí, o andamento torna a acelerar, com Bomber e o encerramento com Motorhead, música criada antes que o grupo nascesse, cuja primeira versão foi gravada pelo Hawkwind.
Passando agora para o lado A, o baixo de Lemmy é a primeira coisa que se escuta, na introdução de Ace of Spades, faixa-título do disco cuja divulgação gerou o presente show. Ela é imediatamente seguida por Stay Clean, onde Lemmy novamente passa à frente, com um solo de baixo histórico, deixando, a partir de então, que o concerto flua intercalando entre faixas cadenciadas, como Metropolis e Iron Horse, e faixas mais rápidas, como The Hammer e No Class.
Ao final, não importando em que ordem você escutar, fica a satisfação da participação virtual em uma apresentação da banda. Experiência que só era obtida na época em que os discos ao vivo faziam alguma diferença, principalmente, de certa forma, para nós brasileiros que naquele tempo éramos um ponto distante das rotas das turnês. Hoje, podemos vivenciar os shows in loco, e os discos desse tipo acabaram perdendo uma parte de sua força, ou pelo fato de terem se tornado meras peças de souvenir, ou por serem tão manipulados em estúdio que desvirtuam seu propósito. De qualquer forma, No Sleep ´Til Hammersmith não se enquadra nessas categorias e permanece histórico e essencial. Um documento que registra o poder e os efeitos da submissão a uma força da natureza chamada Motorhead.

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