![](http://www.backtoblackvinyl.com/images/album-artwork/big/motorhead-no-sleep-til-hammersmith-front.jpg)
MOTORHEAD –
NO SLEEP ´TIL HAMMERSMITH
Esse foi o
primeiro disco do Motorhead que eu ouvi. Tá certo que a banda tem uma
infinidade de clássicos, mas não consigo imaginar melhor porta de entrada para
sua discografia do que esse ao vivo. Tudo que você precisa saber sobre
Motorhead está aqui e, de certa forma, tudo o que você precisa saber sobre um
show de metal, principalmente para quem, naquela idade e naquela época, ainda
não tinha vivenciado isso.
A
doutrinação já começava pela capa, exibindo uma foto da formação clássica em
trio, envolta por centenas de luzes que, curiosamente, não iluminam os músicos,
envoltos em penumbra, ameaçadores, flagrados em um momento em que você sente
que algo muito intenso está acontecendo ali em cima do palco. Para alguém que
nunca tinha assistido uma banda de metal tocando ao vivo – e nem imaginava que
algum dia iria assistir – aquela capa fazia viajar na intensidade de como seria
esse tipo de evento. Discos ao vivo tinham esse poder, que hoje foi diluído, de
lhe transpotar para o centro daquele momento e de lhe fazer imaginar o que
estaria ocorrendo ao longo da apresentação, quantas pessoas estariam
assistindo, como seria a reação delas...
E para ingressar
no local, junto com aquele público, bastava colocar a agulha no disco! Nesse
momento eu tenho que inverter a ordem natural e começar pelo lado B, da forma que
eu conheci o álbum. Há um breve e suave momento de silêncio e então:
tugudumtugudumtugudumtugudum... a mais onomatopéica de todas as levadas de
bateria passa por cima de você, abrindo caminho para uma linha cíclica de
baixo, com o agudo no máximo, até a explosão do começo de Overkill. Não importa
que Lemmy fique repetindo que o Motorhead toque rock´n´roll porque, sejamos
sensatos, isso não é rock´n´roll nem aqui nem em lugar qualquer! Isso é metal,
extremamente intenso! Thrash ou pré-thrash, tanto faz, mas é metal! Era o ano
de 1981 e Lemmy já era o ícone que conhecemos - sem que a imprensa precisasse
ficar repetindo isso o tempo todo – acompanhado por dois outros caras tão
icônicos quanto: Fast Eddie Clarke e Philthy Animal Taylor, compondo o trio que
mostrou, com mais propriedade, que não haviam limites para a extrapolação. A
música pode ser mais alta, o ritmo pode ser mais rápido, a melodia pode ser
mais agressiva.
Até hoje eu
não absorvi plenamente o impacto dessa faixa. Eu sempre vou me impressionar a cada audição. Eu sempre vou querer que os
seus falsos finais e recomeços se estendam por mais vezes do que as duas que
ocorrem. Após o seu último acorde, um urro de Taylor é a deixa para We Are The
Roadie Crew, transição necessária para que cheguemos até Capricorn, uma canção
com um ritmo mais diferenciado dentro da discografia do Motorhead, com um leve
toque de psicodelia lisérgica, amplificada pelo eco colocado na voz de Lemmy. A
partir daí, o andamento torna a acelerar, com Bomber e o encerramento com
Motorhead, música criada antes que o grupo nascesse, cuja primeira versão foi
gravada pelo Hawkwind.
Passando
agora para o lado A, o baixo de Lemmy é a primeira coisa que se escuta, na
introdução de Ace of Spades, faixa-título do disco cuja divulgação gerou o
presente show. Ela é imediatamente seguida por Stay Clean, onde Lemmy novamente
passa à frente, com um solo de baixo histórico, deixando, a partir de então,
que o concerto flua intercalando entre faixas cadenciadas, como Metropolis e
Iron Horse, e faixas mais rápidas, como The Hammer e No Class.
Ao final,
não importando em que ordem você escutar, fica a satisfação da participação
virtual em uma apresentação da banda. Experiência que só era obtida na época em
que os discos ao vivo faziam alguma diferença, principalmente, de certa forma,
para nós brasileiros que naquele tempo éramos um ponto distante das rotas das
turnês. Hoje, podemos vivenciar os shows in loco, e os discos desse tipo
acabaram perdendo uma parte de sua força, ou pelo fato de terem se tornado
meras peças de souvenir, ou por serem tão manipulados em estúdio que desvirtuam
seu propósito. De qualquer forma, No Sleep ´Til Hammersmith não se enquadra
nessas categorias e permanece histórico e essencial. Um documento que registra
o poder e os efeitos da submissão a uma força da natureza chamada Motorhead.
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