CLAMUS – FRONTIÈRE
É muita satisfação ser
conterrâneo de uma banda que concebe um trabalho assim. Lançado em 2009, esse
é, considerado por mim, um dos melhores discos de metal gerados naquele ano.
Sim, porque seria desrespeitoso, com a qualidade do mesmo, classificá-lo apenas
entre o que de melhor se fez no estado do Ceará, ou no Brasil. Frontière, do
Clamus, é um disco que exemplifica o que nós já sabemos com propriedade: o
cenário de nossa música pesada não deve nada a qualquer outro cenário, em
qualquer perfil geográfico imaginado. Temos bandas profissionais, maduras e,
melhor de tudo, com criatividade suficiente para explorar o estilo sem se
prender as amarras das influências, reverenciando o passado mas olhando para o
futuro do estilo.
É sintomático,
portanto, quando a gente fala em transposição de espaços territoriais, ou de
limites musicais, que o nome do disco seja Fronteira, na tradução para o
português. Este é o segundo album da banda e seu lançamento marcou os dez anos
de atividade do conjunto. De cara, a primeira característica que salta aos
olhos em seu trabalho, além da apresentação gráfica bem concebida da capa e do
encarte, é o fato do - à época quarteto - dividir seus arranjos vocais entre
três dos músicos, revezando-se na função e utilizando, para tanto, três línguas
diferentes! As composições passeiam entre o inglês, o francês e o português com
uma naturalidade ímpar, como se aquilo fosse a coisa mais corriqueira do mundo,
e dão a sensação de estar ocorrendo um verdadeiro debate coletivo de idéias em
cada faixa, amplificado pela fúria com que as letras são proferidas. Essa
inusitada atuação enriquece ainda mais a performance instrumental, que percorre
a linha do thrash/death metal, com composições tão bem trabalhadas que perpetuam
a relevância do trabalho.
O riff meio épico que
começa a primeira música, Pétrea, é rapidamente substituído pelo death metal
que prevalece na composição e prossegue, com mais fúria, na música seguinte,
Abstratas Demandas, que tem um riff excelente na sua parte intermediária. O
andamento thrash está em primeiro plano na terceira faixa, Irruption, também
marcada pelas mudanças de andamento e pelas viradas na sua metade.
As duas próximas
músicas são Mersault e Entr`Acte, sendo, essa última, um número instrumental, com bastantes variações. Passando
por La Frontière e Desir, chega-se em Sympatia Malevolens, cujos primeiros
versos, cantados na língua portuguesa, dão um toque hardcore à composição. A
última música, Mid-Term, tem um ótimo refrão pontuando a sua duração e, quem
prestou atenção durante toda a audição do disco, pode ter percebido que a banda
utiliza com parcimônia o recurso de inserir refrões em suas faixas, fazendo-o
apenas em uma ou outra, o que não deixa de ser um posicionamento desafiador. Abre-se
mão de uma ferramenta legítima na estruturação dos arranjos, mas compensa
criando harmonias e mudanças tão fortes e variadas que mantém incólume a força
e o carisma das músicas.
Influences, o primeiro
album do Clamus, depois do seu EP de estréia, também é excelente e merece ser
conhecido, mas foi realmente a partir de Frontière que eu me tornei fã e
aguardo, sempre com muita expectativa, cada novo lançamento dessa banda que
sempre corresponde com louvor ao alto nível que reina em sua terra de origem. Árida,
no clima, mas rica na musicalidade.
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