SAXON – WHEELS OF STEEL
A Inglaterra é
considerada a pátria-mãe do heavy metal. O Saxon, talvez, nunca tenha chegado
ao status de maior banda do estilo, mas, para mim, não existe nenhuma banda, de
rock pesado ou não, que seja mais associada ao território bretão. Mesmo
considerando Beatles, Kinks, Iron Maiden, Sex Pistols, Clash, Led Zeppelin e
outras, considero o Saxon como a mais inglesa de todas bandas.
O motivo para isso eu
não sei. Talvez seja a associação, feita na juventude, entre o nome – Saxão – e
os livros de história, que esclareciam que aquela era uma tribo que iria,
juntamente com os Anglos, formar o que viria a ser, séculos depois, o reino da
Inglaterra.
Tendo surgido no
levante de bandas que ficou conhecido como NWOBHM, o Saxon nunca se afastou
essencialmente da sonoridade que caracterizou aquele momento. Se o Iron Maiden
se tornou a maior banda do movimento, e, na sequência, a provável melhor banda
de todo o heavy metal,gradualmente distanciando-se do som que fazia em sua
origem, o Saxon fincou os pés em suas características e é a maior banda dentre
as poucas que ainda soam essencialmente como NWOBHM. Teve altos e baixos
criativos, é claro, como qualquer grupo com tanto tempo de estrada, mas não tem
nenhum disco especificamente ruim, nenhum disco experimental. São a pura
essência do peso britânico.
Escolher Wheels of
Steel, para falar sobre, não foi uma decisão fácil. Nem sei se seria a mesma em
outro dia ou outro momento. Wheels of Steel e os dois discos que vieram em
seguida, Strong Arm of the Law e Denim and Leather, são, para mim, uma das mais
coesas trilogias já feitas. Discos trigêmeos, lançados no espaço de tempo
compreendido entre um ano e cinco meses. Há tantas semelhanças entre eles que
não admira que tenham sido a base do repertório que gerou, logo em seguida, um
dos melhores discos ao vivo de heavy metal: The Eagle Has Landed.
Tal qual suas
contemporâneas, o Saxon fundiu a agressividade do punk, combinando velocidade
motorheadiana e linhas melódicas de guitarra, inspiradas no que já vinham
praticando bandas como Judas Priest e UFO. Na tendência dessas últimas referências
mencionadas, temos, no disco, as maravilhosas 747 (Strangers in the Night) e
Suzie Hold On. Pelo lado das primeiras, praticamente todo o restante:
Motorcycle Man, Street Fighting Gang, Machine Gun, Freeway Mad, Stand Up and Be
Counted, See The Light Shining e Wheels
of Steel são músicas para exercício de vértebras cervicais. A banda, em seus anos
iniciais, com sua primeira formação clássica, já soava entrosadíssima.
O reconhecimento da influência do Saxon deveria ser mais exposto, mais
declarado, mas dizer que é influenciado por eles é o similar perfeito da frase
“eu toco heavy metal” e, portanto, sua projeção salta mais aos olhos nas bandas
que se empenham em executar o estilo na sua forma mais pura. Bandas como
Exciter, Running Wild, Armored Saint e até novatos na cena, como o Enforcer,
prosseguem com o legado do gigante insular que ainda está de pé, dando sangue,
longe de pensar em se deitar sobre seus louros, mas construindo novos alicerces
para a música que ajudou a consagrar.