sábado, 16 de maio de 2015



BACAMARTE – DEPOIS DO FIM

As bandas de heavy metal – e seus fãs – carregam com orgulho o mérito de serem uma corrente musical underground. Correto. Outros gêneros, porém, podem, sob determinados aspectos, serem considerados da mesma forma. Bem ou mal, o metal é alimentado por uma cobertura midiática atuante, com revistas especializadas nas bancas de revistas e coisas do tipo. O rock progressivo, pelo menos no Brasil, não me parece ter uma base tão sólida de apoio.
Esse pensamento me ocorre quando eu escuto um disco como esse do Bacamarte. É sério: esse é um disco absolutamente brilhante de rock progressivo, devidamente reverenciado pelos fãs do estilo no exterior, mas, esse sentimento não parece ser o mesmo em nosso desmemoriado país. Pelo que percebo, o disco não é tão lembrado e ovacionado quanto deveria ser. Quem já o viu ser mencionado em alguma lista de melhores discos já feitos no Brasil, de rock ou de música em termos gerais? E eu tenho convicção de que ele deveria estar nelas.
Lançado de forma independente, em 1983, quando a banda, oriunda do Rio de Janeiro, já tinha aproximados dez anos de atividade, o álbum ajudou a revelar, para o cenário musical brasileiro, a cantora paraense Jane Duboc, que tinha, à época, 33 anos de idade. Intercalando faixas cantadas com números instrumentais, o disco aproxima-se bastante do som das bandas italianas do estilo. Há um inevitável clima de Renaissance, por conta dos vocais femininos, pouco comuns naquela época, além de momentos inspirados em Yes, Genesis e Jethro Tull que estão bem distribuidos ao redor de toda a audição. O acréscimo de uma flauta nos arranjos amplifica a influência desses dois últimos e, aliás, esse é um instrumento que casa muito bem com as propostas do rock progressivo. Assim como, da mesma forma, são coesos os momentos em que sonoridades mais abrasileiradas aparecem, como na faixa Mirante das Estrelas. O rock progressivo é um estilo muito amplo, muito receptivo aos mais diversos elementos externos que queiram acrescentar em suas levadas e, por isso, soam tão bem essas inserções.
O equilíbrio do disco, muito maduro para ser um trabalho de estréia, torna difícil apontar um momento específico de seu conteúdo. UFO, a música instrumental de abertura foi muito bem escolhida para introduzir as canções que se seguem. Jane Duboc se destaca em todas as suas aparições, principalmente nas composições Smog Alado e Último Entardecer, e é uma pena que ela não tenha mantido uma carreira paralela entre seus trabalhos solo de MPB e o prosseguimento com o Bacamarte, que poderia ter produzidos outros álbuns.

Tanto o rock progressivo quanto o heavy metal brasileiros cresceram muito desde então. O Bacamarte lançou sua estréia bem depois da primeira fase áurea de seu gênero em nossa terra, mas, considerando seu período de atividade anterior ao disco, ele foi contemporâneo de todas as nossas primeiras grandes bandas: O Terço, Terreno Baldio, Som Nosso de Cada Dia, Bixo da Seda, Recordando o Vale das Maçãs, Os Mutantes e tantas outras que nos orgulham. O Bacamarte ocupa um lugar de honra entre todas elas e, caso você ainda não o conheça, faça a si mesmo o favor de remediar isso.

2 comentários:

  1. Estou acompanhando o BLOG. Muito bom. Textos muito bem escritos. Não conhecia essa banda e realmente me surpreendi. Vou tirar o dia para ouvir esse disco!

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  2. Valeu! Obrigado pelo acesso! É recompensador o fato de que alguém se interesse pra ouvir um disco por conta de algo que escrevi!

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