CELTIC FROST - MORBID TALES
A prova de que a falta de uma técnica mais apurada pode
ser completamente suprida pela criatividade. Um disco histórico, influente e
brutal, de uma banda tão intensa que praticamente forçou a imprensa,
estrangeira e nacional, a reverem suas negativas impressões iniciais,
sarcásticas e ofensivas, e renderem-se ao carisma maléfico desse grupo,
sintonizando-se com o nascente culto que espalhava-se entre os fãs de metal
mais apensos a descobrir novos artistas.
E o culto ao Celtic Frost não era gratuito, nem era um
fenômeno localizado. Hoje, qualquer pessoa pode gerar uma música e rapidamente
espalhá-la pelo mundo, podendo a mesma ter ou não alguma evidência, para o bem
ou para o mal. Trinta anos atrás, as coisas eram bem diferentes e não é pelo
fato da banda ser originária da Suécia que as coisas seriam radicalmente
facilitadas. O heavy metal, em 1984, estava no auge de sua propagação, mas o
que o Celtic Frost fazia era a extrapolação do estilo, a guinada, junto com
Sodom, Venom e Bathory para o obscurantismo, lírico e musical. Se, mesmo hoje,
qualquer suposição de malignidade gera algum desconforto e polêmica, em tempos
mais ingênuos a reação era mais acentuada. Algo tão aprofundado no underground
só poderia, portanto, crescer através de pequenos fanzines, do boca-a-boca de
fãs, da troca de fitas, e na intensa realização de apresentações, em locais tão
tenebrosos quanto o seu som, embora não se deva olvidar da popularidade
anteriormente obtida através das atividades iniciais sob o nome de Hellhammer.
Tom Warrior, Martin Ain e os bateristas que os
acompnhavam, seja no Hellhammer ou no Celtic Frost, criaram uma assinatura
musical extremamente bem definida. Formas de vocalização, maneiras de tocar
guitarra ou até mesmo variações de andamento que, quando reinterpretadas, são
facilmente associadas à sua origem. E, ao contrário de tantos álbuns
contemporâneos de música extrema, Morbid Tales não mantinha o pé no acelerador
o tempo todo. Sua mescla de partes rápidas e partes arrastadas formou um
resultado em que cada uma dessas levadas evidenciava a outra. Após os sons de
inumanidade que abrem o disco, como lamentos de caos espectral, temos a
velocidade de Into the Crypts of Rays, Morbid Tales e Nocturnal Fear, que fazem
contraponto com a densidade mais latente de Procreation of the Wicked, Return
to the Eve, Visions of Mortality e Dethroned Emperor, sendo que essa última,
juntamente com a faixa título, foram incluídas apenas na versão americana do
disco, que é, originalmente, um EP. Porém, entre tantos momentos de destaque,
evidencia-se uma faixa que não é necessariamente uma música. Danse Macabre
aproxima-se mais de uma experimentação de estúdio, uma colagem de sons, mas
quem consegue pular a mesma? O fascínio macabro que esta exerce é do tipo que
mantém o ouvinte atento e com a respiração suspensa, tentando compreender o que
está acontecendo.
Não deixando de lado o que Martin fez pela banda, a
verdade é que Tom Warrior é a força criativa que continua levando o legado do
Celtic Frost para o futuro. Tudo o que ele fez é reverenciado e assim merece
ser, mas apenas Tom Warrior é capaz de ir além de sua própria obra. O Triptykon
existe para comprovar isso. Não é o Celtic Frost em nomenclatura por razões
diversas, mas é o Celtic Frost em espírito. É o Celtic Frost da forma como esse
soaria se ainda existisse e, por isso, torçamos para que Tom Warrior ainda
permaneça muito tempo entre nós, para podermos ver quanto limites ele ainda
pode atravessar dentro da escuridão.
E da morbidez.
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