ALTA TENSÃO – PORTAL DO INFERNO
O heavy metal existe em todos os lugares do mundo.
Seja no Oriente Médio, no continente africano, na Oceania ou no extremo leste
europeu, sempre há uma banda, amadora ou profissional. Trazendo a perspectiva
para o nosso território, mantemos a mesma premissa. Existem bandas em todos os
estados da nação, mas, apenas recentemente, o cenário pôde deixar de ser
polarizado em termos de mídia e de divulgação.
Digo isso, porque sempre me pareceu que o Alta
Tensão não teve o tratamento justo que merecia. Ouça Portal do Inferno e veja
se a música ali contida não está em pé de igualdade com as bandas mais
lendárias daqueles anos intermediários da década de 80. Mesmo assim, o Alta
Tensão não chegou a alcançar a popularidade que as bandas de São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul atingiram naquele período inicial. Eu
imagino se isso não ocorreu por conta da banda não ter surgido com o reforço de
uma cena local que colocasse o Mato Grosso do Sul, estado de origem, em pé de
igualdade com os outros estados. Não sei afirmar se haviam ou não outras bandas
atuando junto com o Alta Tensão, naquele local e época, mas, se haviam, elas
não despontaram para a conjuntura nacional e o Alta Tensão não pôde desfrutar
do apoio de um cenário doméstico que chamasse atenção para a sua região.
Basta ver que a banda, que estava ativa desde 1981,
lançou sua estreia no mesmo ano em que foram lançados o Ultimatum, o Live do
Vulcano e o split do Sepultura com Overdose, sendo que apenas no ano anterior
tinha sido lançado o SP Metal, ou seja, era a efervescência da explosão do
heavy metal nacional e o Alta Tensão acompanhou o movimento alguns passos atrás
da bandas que assumiram a dianteira.
Esse Portal do Inferno não é o disco de estreia. É
o segundo álbum, mas tem exatamente aquela sonoridade típica do período, que
você deve estar imaginando. Desde a primeira nota, Black Sabbath, Judas Priest
e Iron Maiden vão se fazer evidentemente presentes entre as influências. Tirando
a faixa Sacrifice, o disco é completamente cantado em português, sendo que esse
era um recurso de composição autêntico, que, diga-se, ainda é praticado de
forma honesta por muitos, mas que, em diversos casos, serve apenas para
mascarar uma desnecessária nostalgia forçada. De qualquer forma, o disco já se
destacaria pela presença da faixa O Silêncio que, salvo engano, é a mais longa
música dessa fase do metal brasileiro, com seus 09:24. Alguém pode contestar
citando Anjos do Apocalipse, do Overdose, que tem 10:07 e foi lançada dois anos
antes, mas, se retirarmos os efeitos sonoros, imitando barulho de vento, restam
apenas 09:05 de música efetivamente. O Silêncio também ganha na qualidade da
composição, pois se Anjos do Apocalipse se baseia em sei-lá-quantas mudanças de
andamento, O Silêncio é uma música mais homogênea, sem tantas mudanças, e,
mesmo assim, consegue fazer com que seus nove minutos transcorram como se
fossem apenas três!
O restante do disco é completamente homogêneo. Não
há destaques entre Portal do Inferno, Cortina de Ferro, Chacal, Judas Iscariot
e Thanatous. Se você é íntimo com as obras do período, sabe que vai encontrar
uma produção não muito boa, meio abafada, mas feita com paixão suficiente para
fazer com que o disco atravessasse décadas e, hoje, ainda estarmos falando
dele. Som digital, alta definição e coisas do gênero são um fenômeno pordemais
recente. Essa geração passava por cima de um milhão de dificuldades e
prosseguia, porque música, para alguns, não é algo pra curtir. Música é sangue
e oxigênio, vitais para a existência.
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