SOUNDGARDEN – BADMOTORFINGER
Não sei, e nem me importo em saber, se o Soundgarden, ou qualquer banda
que seja, está inserto em determinada corrente ou subestilo musical. Já estou
muito velho pra me autoimpor esse tipo de pré-restrição e, portanto, desde
algum tempo me convenci que existem apenas dois gêneros de música: a que eu
considero boa e a que eu não considero boa. Independente de estilo. Seja punk,
progressivo, southern, hardcore, o que seja: vai ter artistas que me agradam e
outros que não. Não tem isso de estilo bom ou ruim. O que existe são artistas
com ou sem carisma ou domínio da linguagem que querem exprimir e, do outro
lado, a nossa sensibilidade própria para absorver, ou não, o que eles tem a
oferecer.
De qualquer forma, eu sequer consigo associar a sonoridade do Soundgarden
com o nicho no qual ele é constantemente classificado. É uma boa banda de rock
e ponto. Isso é suficiente para mim, mas cada um segue o que lhe agrada mais.
Dito isto, este é um disco que me pegou em cheio logo na primeira audição. Não
é, nem de longe, um disco de metal, mas tem a medida de peso suficiente para me
chamar a atenção e, dentro da discografia da banda, não encontra similaridade
na comparação com os demais trabalhos. Talvez a produção do renomado Terry
Date, que já trabalhou com bandas do naipe de Overkill, Pantera, Metal Church,
Machine Head e Prong, tenha algo a ver com isso. A banda exibiu a sua
assinatura personalíssima, mas o produtor ajudou a carregar nas tintas.
O álbum, lançado no ano de 1991, tornou-se um dos símbolos do começo
daquela década, junto a alguns outros discos emblemáticos como No More Tears de
Ozzy Osbourne, Gothic do Paradise Lost, Black Album do Metallica e Sailing the
Seas of Cheese do Primus. A qualidade das composições faz de Badmotorfinger um
disco bem mais dinâmico e variado do que seu subsequente, o bem sucedido, em
termos de vendas, Superunknown. Esse último trabalho prezava por mais melodias
nas canções. Badmotorfinger, por outro lado, tem bastante melodia, mas tem uma
pegada mais distorcida, com uma dose um pouco maior de comedida agressividade,
seja musical ou seja lírica. A primeira música, Rusty Cage já demonstra isso
logo aos primeiros segundos. Uma excelente faixa que começa rápida, termina
cadenciada e é marcada por uma linha de baixo acentuada em seu trecho
intermediário.
Outshined foi a música de maior sucesso entre as demais e tem muitos
elementos de stoner setentista, presentes desde a densidade absurda contida em
seu riff inicial, mas também são caracteristicamente stoner as faixas Slaves
and Bulldozers, Holy Water e Room A Thousand Years Wide. A melhor de todas,
porém, é, disparadamente, Jesus Christ Pose. É a maispesada e dinâmica de todo
o disco e, quiçá, de toda a carreira do Soundgarden. Chris Cornell é um
vocalista extremamente privilegiado e faz uso pleno de todo o seu alcance nessa
canção, principalmente quando tem que se posicionar frente aos gritos da
guitarra no refrão. Chris se destaca, mas não chega a se distanciar tanto assim
da performance de toda a banda. No Soundgarden não tem nenhum músico que
ofusque os demais. Há um equilíbrio e é isso que os torna grandes como banda.
É lamentável que a imprensa tenha hipervalorizado tanto a cena em que
bandas como o Soundgarden surgiram. Isso teve lados positivos e negativos, pois
pretendeu-se dar ares de gigantismo a algo que não nasceu para esse fim. Pelo
mundo afora está cheio de bandas que fazem discos sensacionais sem precisar
arrombar as barreiras do mainstream. O Soundgarden talvez seja uma que
habitaria tranquilamente essa zona intermediária e isso não os diminui em
nenhuma medida. Muito pelo contrário.