DEMON – NIGHT OF THE DEMON
Existem algumas atitudes alheias que me desanimam. Minha paciência, que
a cada ano fica menor, não aguenta mais determinadas posturas, embora eu me
cale a respeito porque, afinal, o que cada um opta por escutar ou não escutar
não é da minha conta.
Mas, na minha avaliação pessoal, eu entendo que não existe estilo ou
corrente musical que seja ruim por definição. E nem boa, diga-se. New (ou Nü,
sei lá) Metal não é necessariamente ruim tanto quanto Metal Tradicional não é
necessariamente bom.
Talvez eu leve pedradas por isso, mas – e é aqui que eu queria chegar –
não é só porque algo é feito sob a sombra das letrinhas NWOBHM que isso vai ser
bom, clássico, histórico ou essencial. Não. A NWOBHM foi um momento único,
fantástico, que formatou praticamente tudo o que veio depois em termos de heavy
metal, mas daí a dizer que todas, absolutamente t-o-d-a-s, as bandas que
fizeram parte daquele período são dignas de serem ouvidas ou sequer lembradas,
vai um longo caminho.
E pior, quando o assunto é aquele movimento, apenas uma minoria vai
citar bandas que não sejam Iron Maiden, Def Leppard ou Saxon, sendo que apenas
esta última manteve traços da sonoridade que os revelou. Felizmente, bandas
como Grim Reaper, Tygers of Pan Tang, Tank ou Diamond Head são esporadicamente lembrados
ou mencionados, mas pouco se recorda de bandas como Raven, Praying Mantis ou
Demon, que geralmente demandam uma busca mais profunda dentro da memória da
maioria. E não merecem isso. Qual seria a relação dos brasileiros com o Demon
se os seus dois primeiros discos não tivessem sido lançados aqui em vinil nos
anos 80? Mesmo nossas mais consagradas revistas especializadas não davam muita
pauta para o grupo naquele tempo e o fato da banda não ter alcançado o mesmo
nível de consagração mundial que aquelas outras obtiveram deixaram-nos na
situação de respeito dentro da cena doméstica de sua Inglaterra natal, mas sem
atravessar demais as fronteiras europeias.
Fato lamentávl, sem dúvida, mas que não esmoreceu o conjunto, que
persiste em atividade até nossos dias, tendo apenas o vocalista Dave Hill como
membro permanente. Em sua primeira fase, porém, ele teve o apoio do guitarrista
Mal Spooner nas composições e, juntos, criaram canções que mesclavam o metal
britânico com uma pegada hard muito evidente, resultando em faixas cativantes
com refrões marcantes. Não pense que a dita pegada hard os levou para um
caminho similar aquele que foi percorrido pelo Def Leppard. Não foi. O hard que
predomina nas composições do Demon tem toda a caracterização inglesa, bem longe
de qualquer tentativa de se adaptar para abocanhar fatias de mercado americano.
As duas primeiras faixas do álbum, Night of the Demon e Into the Nightmare
deixam isso bem evidente, através de melodias carregadas de carisma, que fazem
com que a pessoa se sinta naturalmente impelida a cantar junto sem que o
frontman tenha que ficar pedindo por isso. Como também não poderia deixar de
ser, o onipresente espírito do Judas Priest se mostra bem claro, principalmente
na última música do disco, que poderia estar em qualquer dos trabalhos da lenda
inglesa.
Night of the Demon, com sua brilhante capa, não é um disco que define o
estilo, mas o representa com todos os méritos. Foi lançado há 35 anos e sempre
será um prazer fazer a sua audição. A NWOBHM está dignificada aqui.
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