MACHINE HEAD – UNTO THE LOCUST
Tem épocas que bate um desânimo desgraçado. Tudo parece estar meio
morno, sem vida, sobrevivendo apenas no piloto automático. Os medalhões da
música seguem ativos, mas lançando discos que são bons e.... e só. São bons mas
não impulsionam o gênero para diante, não instigam como faziam no passado.
Escuta-se uma vez, duas e esquece-o na prateleira.
Não existe nada de errado com isso, muito pelo contrário, afinal,
repita-se, são discos bons, mas de vez em quando é bom receber uma chacoalhada.
Ter contato com algo que foi feito pensando-se, como se diz atualmente, fora da
caixa. Quando isso acontece proveniente de um artista novo é ótimo, claro, mas
para mim a satisfação é quintuplicada quando as viradas de mesa vem de um
veterano.
Robb Flynn é a figura central do Machine Head, mas já atua no cenário
desde 1985, quando estava junto do Forbidden. Não chegou a gravar o disco de
estréia, mas cravou três faixas de sua autoria nele. Formou, na sequência o
Vio-Lence, onde ocupava apenas a função de guitarrista, e alcançou o ápice de
sua trajetória, como líder de uma banda, no Machine Head. O álbum de estréia deste último, chamado Burn
My Eyes, foi lançado em 1994 e é bem representativo do thrash metal daquela
época.
Ocorre que, depois do segundo disco, a banda entrou numa montanha-russa
estilística e enveredou com força na tendência nu-metal antes de fazer a
guinada para o que está praticando hoje em dia. Nada contra o nu-metal em si,
mas ficou claro a tentativa de pegar carona naquela onda, principalmente quando
comparamos o resultado dos trabalhos com o dos primeiros discos. De qualquer
forma, o que viria depois foi o suficiente para compensar qualquer tipo de
pecados. Desde o disco Through the Ashes of Empire que o Machine Head vem num
crescendo de técnica, composição e criatividade que chegou às raias do
fantástico nesse Unto the Locust. Permitindo-me a liberdade de tentar definir o
conteúdo do disco, eu diria que o Machine Head faz prog thrash. Eu creio que a
palavra thrash, colocada junto a prog, vai alterar o conceito desta última,
principalmente para quem compreende o termo prog em sua forma mais ortodoxa. Me
parece, às vezes, que boa parte das pessoas só interpreta o prog, ou
progressivo, em seu significado mais reducionista. Ser prog não é apenas fazer
viagens instrumentais de 20 minutos, baseadas em conduções de teclado. Ser
progressivo significa propor avanços, fusões, experimentações. E o Machine
Head, em sua atual fase, veio pródigo nesse sentido, apresentando músicas
fortes, pesadas, rápidas, mas também cheias de variações, detalhes e soluções
de arranjo que, reconheça-se, mantiveram sua sonoridade noventista mas, ao
mesmo tempo, incorporaram elementos atemporais, apresentando-se como um passo
evolutivo do thrash metal. Robb Flynn resgatou seu parceiro de seis cordas da
época do Vio-Lence, Phil Demmel, e a química entre os dois trouxe o Machine
Head até essa atual posição, como uma banda que resgatou um sentimento que vai
cada vez mais escasseando em mim: a expectativa e a ansiedade por cada novo
disco.