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VÊNUS
Eu não tenho certeza e nem tenho como aferir isso, mas gosto de
imaginar que esse disco, filho único da banda Vênus, de nosso querido estado
vizinho, o Piauí, teve alguma sobrevida e alcance extra por conta do destaque
maior que teve o Avalon, segunda empreitada dos guitarristas Ico e Thyrso.
Essa perspectiva, é claro, não tem nenhuma relação com a qualidade da
obra em si, mas baseia-se apenas nas minhas próprias lembranças de como eram as
coisas em 1986, ano de lançamento do disco. Quando eu o conheci, na casa de
amigos meus, não tinha absolutamente nenhuma referência anterior do mesmo.
Nunca tinha ouvido falar da banda e, pior, nunca vi uma linha de publicação
sobre seu trabalho. Talvez alguém tenha feito, mas eu não vi.
Pode ser que pelo fato da banda ser de um estado próximo, isso tenha
facilitado sua repercussão aqui. Não era o modo ideal das coisas, mas era
assim. Do mesmo modo, eu fico imaginando quantos trabalhos de locais mais
distantes, como o Amazonas, Paraná, Goiás, ou qualquer outro, não repercutiram
para além de suas fronteiras e talvez permaneçam até hoje como pérolas
escondidas.
Esse disco do Vênus merece ser mais conhecido. A produção é precária,
mas o resultado criativo é excelente. Torno a lembrar que era 1986 e, para quem
viveu o período, havia uma influência quase onipresente de Iron Maiden. O Vênus
ia por outro caminho. Não sei se é a produção, o timbre que o disco reproduz,
que me faz pensar assim, mas eu não consigo escutar o Vênus sem que a minha
mente me remeta ao som que fazia a Patrulha do Espaço. E creia-me: eu digo isso
com a convicção de que é um grande elogio.
E apenas para fechar a questão sobre a produção, o que eu digo é que,
se ela lhe incomoda, talvez seja por você ser muito jovem. Ouvir um disco
assim, aciona recordações de minha vida tanto quanto ocorre quando sentimos
cheiros ou gostos que nos remetem à nossa juventude... A única restrição que eu
faço ao álbum é o título da faixa de abertura. Não dava pra elaborar outro
nome? Tinha que ser Babão????
Ainda bem que a música é boa, e, melhor ainda, o que vem pela frente
eleva o trabalho como um todo. Não vou ficar na chateação de citar música por
música, mas Existência é a típica canção que nos faz aumentar o volume! Digo
mais: é, provavelmente, uma das melhores faixas de heavy metal em português de
sua época. Tem um trabalho melódico que prende nossa atenção desde o primeiro
acorde e, por sinal, o que a dupla de guitarrista faz é um ponto positivo do
disco por inteiro. Não, ninguém vai encontrar nada de extraordinário. É simples
e é básico, mas é tudo concebido com extremo bom gosto. Melodias e riffs de
guitarra que lhe fazem lembrar que existem melodias e riffs de guitarra.
Quantos e quantos discos nós ouvimos que, apesar de bem feitos, não lhe fazem
sentir aquela necessidade de parar pra curtir melhor algum elemento específico
da música? O trabalho da dupla Ico e Thyrso teve esse efeito sobre mim. Eu
realmente foco minha atenção no que as guitarras estão fazendo.
O outro grande destaque do disco é a faixa denominada Metal, e que,
diga-se, honra o seu título, inclusive pela presença, em sua parte
intermediária, de algumas notas que me fizeram lembrar de Beyond the Realms of
Death do Judas Priest.
Enfim, esse é um disco que não é fácil de ser encontrado, mas que vale
a procura. É um disco que não aparece nas listas das grandes revistas, mas que
representa um grande momento do cenário nordestino. Tem valor histórico
múltiplo pois, não obstante a primazia de seu conteúdo, representa o esforço de
lançar um álbum numa época em que isso não era tão simples quanto hoje se
tornou. Lembra-nos que, antes de bater cabeça fisicamente, foi preciso que
muita gente batesse cabeça metaforicamente.
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