KREATOR - ENDLESS PAIN
Não é de se admirar que o thrash metal se tornou a potência de estilo
que é. Todas, praticamente todas as grandes bandas dessa linha estrearam com
discos no mínimo explosivos: Kill´em´All, Fistful of Metal, Show no Mercy,
Power from Hell, Fear of Tomorrow, Killing is my Business, Sentence of Death...
Uma sequência de lançamentos violentos na qual inclui-se com louvor (ou seria
melhor dizer com maldição) esse Endless Pain. Cada um dos artistas responsáveis
por essas obras iria evoluir no futuro, fazendo experimentações ou
acrescentando mais técnica ao seu trabalho, mas a crueza de seus debutes
marcaria para sempre a expectativa que cada novo álbum geraria no futuro.
Graças ao recrudescimento que o fator agressividade obteve no heavy
metal ao longo dos anos, os discos mais brutais, mais diretos, da primeira fase
do thrash, sofreram menos o impacto do tempo, permanecendo atuais até os
presentes dias. É o caso de Endless Pain. Alguns discos de metal extremo
daquela época poderiam, atualmente, quase serem considerados como metal
tradicional, mas a estréia do Kreator ainda é brutal. E o impacto já é evidente
nos primeiros segundos, na faixa título, que inicia tão rápida que praticamente
explode na sua cara. Os riffs das duas músicas seguintes, Total Death e Storm
of the Beast, soam hoje, para mim, como algo semelhante ao estilo de Mike, do
Destruction. Nada demais, afinal as duas bandas são contemporâneas e do mesmo
país, além de seus integrantes terem tido as mesmas influências, então
quaisquer afinidades são creditadas à cena em que surgiram. As diferenças
evidentes entre cada um iriam se reforçar com o passar dos anos, mas, em
músicas como Tormentor e Flag of Hate, elas saltam aos olhos, pois essas são as
que provavelmente melhor refletem a personalidade que o Kreator desenvolveu e
talvez por isso mesmo são as que permanecem no repertório dos shows. Merecidamente,
aliás, pois posso afirmar por experiência própria que não importa o quão
cansado você esteja, nem quanto álcool tenha consumido, essas duas músicas,
geralmente executadas juntas no final do bis, são capazes de lhe arrancar
qualquer resquício de energia para agredir as vertebras do pescoço.
O outro grande diferencial dessa fase da banda, e que poderia ser
mantido até os dias atuais com doses homeopáticas, era a divisão dos vocais
entre as músicas. Mille canta cinco das dez músicas e Ventor as outras cinco.
No disco seguinte essa proporção já seria reduzida e, no terceiro álbum,
completamente deixada de lado. É uma pena, porque eu gostava bastante das
performances de Ventor, que tinha uma vocalização mais brutal, um pré-gutural,
digamos, ao contrário de Mille, que cantava suas faixas com um timbre mais
rasgado, quase viperino. Ao longo do tempo, Mille dominou completamente os
vocais e modificou sua forma de cantar, estabelecendo o padrão definitivo para o
estilo Kreator de fazer metal, mas se Ventor continuasse se aventurando em uma
faixa aqui e outra acolá, seria um bônus deveras interessante para o perfil do
grupo.
Entre as músicas ainda não citadas, vale destacar a faixa Cry War,
também comandada por Ventor. As demais, como Bone Breaker, Son of Evil e as
restantes mantém o padrão de agressividade e soco na cara que permeia todo o
disco. Nada mal para uma banda que acreditava que esse seria o único disco que
conseguiriam gravar e, hoje, está merecidamente entre as mais importantes e
influentes que já existiram, sendo headliners de festivais e ocupando,
merecidamente, a posição de destaque que tem no thrash metal, na Alemanha e no
mundo.
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