POSSESSED –
SEVEN CHURCHES
De forma alguma eu começaria esse texto falando sobre quem, de fato,
criou o death metal. Isso é uma discussão parcialmente inócua e sem um
resultado preciso a ser alcançado, pois estilo algum pode se originar de uma
fonte individual. Qualquer estilo, qualquer tendência musical, é consequência
de colaborações coletivas, geograficamente espalhadas, e de natural evolução
cronológica da música.
Dito isso, posso agora afirmar que independente da origem, a certeza que
eu tenho é de que este disco definiu para mim o que seria death metal e tudo
que eu ouvi do estilo desde então, passou pelo crivo do que aprendi com Seven
Churches. Em suma, eu uso uma espécie de “padrão Possessed” para avaliar o que
é e o que não é death metal para mim.
A capacidade para fazer death metal exige do compositor o dom de
transmitir determinadas sensações com sua música. Tem que ter peso? Confere;
tem que ter rapidez? Não necessariamente. Mas é fundamental que haja a sensação
de malignitude. De medo e de asco. A música tem que ser, literalmente,
tenebrosa. Quando Seven Churches chegou até nós, dava para perceber ali os
espectros do Venom e do Slayer, mas havia a inserção de diferenciais, nos
timbres, nas batidas, na voz. Em The
Exorcist, primeira música, após a mais do que óbvia introdução retirada da
composição de Mike Oldfield, que serviu de trilha sonora para o filme de mesmo
nome, a melodia de guitarra, que pontua o intervalo entre as estrofes, aumenta
a tensão da música, passando a sensação de embate que a letra da mesma sugere.
Quando se fala em Possessed, o primeiro nome que vem à lembrança é o de
Jeff Becerra, por ser o frontman, o letrista e por suas tragédias pessoais,
além do fato de não ter se rendido aos traumas causados por estas e estar
capitaneando a banda atualmente. Em seguida, vem Larry LaLonde, que chama a
tenção pela reviravolta sem precedentes que deu em sua carreira, saindo do
Possessed para o Primus. O nome de Mike Torrao nem sempre é devidamente
mencionado, mas é necessário, por justiça, trazer à tona a sua contribuição,
afinal ele não é apenas o fundador da banda, mas, principalmente, o compositor
de todas as músicas. Torrao assina sozinho o álbum inteiro, excetuando apenas a
faixa-título feita em parceria com LaLonde. Por essa razão, o sujeito merece
ser um verbete de destaque na história da criação do gênero, afinal sairam de
sua mente faixas clássicas como Pentagram e principalmente, a música que definiu
tudo: Death Metal. Não apenas pela associação que seu nome gera, mas essa
composição é para mim o mesmo que Black Metal é para o Venom e para o estilo de
mesmo nome. Um grito seco, proferido sobre uma base extrema que, por ser a
ultima faixa do disco, resume tudo que lhe antecede. Resume a velocidade de
Burning in Hell, resume a guitarra e o baixo dobrados no final de Fallen Angel,
resume a capa minimalista, resume, por fim, o pioneirismo de uma banda que
agregou suas influências, colocou a sua marca, e passou a ser influente, pois
foi um dos baluartes do estilo que, até hoje, apesar de suas infinitas variáveis
– brutal death metal, deathcore, etc... – ainda é a fronteira não ultrapassada
da música pesada. É o metal da morte, afinal, e, depois dessa, não há mais
alternativas.
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