PINK FLOYD -
THE WALL
Lá nos
primórdios de minha paixão por música – e dá pra tranquilamente substituir a
palavra “música” por ”heavy metal”, pois era tudo que eu ouvia e foi quando a
música passou a ser realmente algo importante para mim – um grupo de amigos inventou de passar um
carnaval acampado na praia. Facilitou muuuuito a vida da gente o fato de, na
tal praia, ter uma barraca - ou boteco, sei lá - de frente para o mar, onde
dava pra tomar café da manhã. De uma forma meio precária, mas dava. Eu não me
lembro se era alguém do grupo que levava as fitas pra tocar no som da barraca
ou se elas eram do proprietário da mesma, mas sei bem que rolava constantemente
Led Zeppelin e Pink Floyd. Do Zeppelin, não consigo me recordar qual era o
disco, mas do Floyd eu nunca vou esquecer: era o The Wall.
Como foi
dito, eu nunca tinha ouvido Pink Floyd antes. Eu só escutava heavy metal.
Beatles, Stones e quetais só vieram a me despertar interesse bem depois que eu
já estava íntimo de Slayer, Venom e Metallica. Sim, é claro que eu já conhecia
a música Another Brick in the Wall, mas é porque ela sempre tocava no rádio.
Daí, o fato do Floyd ter chamado mais a minha atenção do que o Led Zepellin,
naquele momento. A linguagem musical era mais estranha para mim, requeria um
pouco mais de atenção para ser absorvida por meus ouvidos doutrinados por outro
tipo de batida. Era uma música hipnótica e diversas coisas aconteciam ao seu
redor. Explosões, helicópteros, gente conversando, telefones, gritos, tudo
emoldurando as músicas, ampliando a sensação onírica que a obra do Pink Floyd
transmite. Roger Waters não é nenhum virtuoso do baixo, mas é um compositor
extraordinário. Sua posição na banda tem paralelo com o status de Pete
Townshend no Who: não é o músico mais habilidoso do quarteto, mas é o motor
criativo. No Floyd, as ideias de Waters eram ampliadas pelas performances de
Nick Mason e – em maior grau – David Gilmour e Richard Wright. Esses dois
últimos conseguiam elevar a fusão de beleza e escuridão que caracteriza a
música da banda. Comfortably Numb, uma das melhores faixas do disco e de toda a
carreira do Pink Floyd traz, em seu título, a melhor definição para as impressões
transmitidas pela audição de seus discos. Não é por acaso que um dos solos mais
conhecidos de David Gilmour está justamente nela.
E Comfortably
é apenas a cereja do bolo. A coleção de canções de The Wall deixa transparecer
os motivos pelos quais esse disco, juntamente com The Dark Side of the Moon,
consegue se sustentar em uma apresentação apenas com suas faixas. Não dá pra se
satisfazer menos com uma sequência com pérolas como In the Flesh, Mother, Hey
You, Run Like Hell, Young Lust, Nobody Home e a já mencionada Another Brick in
the Wall, cujas levadas de guitarra e baixo tem uma inusitada proximidade com a
black music.
A palavra
viagem, tão banalmente utilizada quando se fala de rock progressivo, teve uma
definição mais exata para mim a partir daquele momento. Foi-me aberto o
interesse por um novo campo musical, um novo universo para ser explorado, com
inúmeras bandas para conhecer, das quais eu apenas ouvia falar, tais qual
Jethro Tull, Yes, Marillion, etc. Alguns
dias depois de ter retornado do carnaval, eu me dirigia para as lojas de discos
do centro da cidade, procurando novas coisas do Pink Floyd. Tinha um disco com
uma capa bem interessante, com um porco voando, mas isso já é outra história...
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