GRAVE DIGGER - TUNES OF WAR
Como eu gosto desse disco!
O Grave Digger é aquele tipo de banda privilegiada que não possui
álbuns ruins. E é tão esperta que o único trabalho realmente questionável de
sua carreira foi registrado com outro nome: Digger, apenas.
Em Tunes of War a banda optou por investir em um lançamento conceitual,
o primeiro de sua trajetória, com canções em tons épicos, cheio daqueles corais
que caracterizam o estilo, mas sem deixar, um só momento, de soar como Grave
Digger, de apresentar o power metal alemão que os revelou para o mundo, capitaneados
pelo vocalista Chris Boltendahl que, nessa época, era escudado pelo guitarrista
Uwe Lulis e juntos compuseram e produziram o típico disco conceitual perfeito,
onde cada música tem vida própria, independente das restantes.
Toda a dinâmica do álbum segue a regra de narrativa cinematográfica,
com um início que prende sua atenção, em faixas como Scotland United, The Dark
of the Sun e William Wallace (Braveheart), dando uma respirada na parte
intermediária, e lhe preparando para o climax, que vai de The Truth até
Culledon Muir, tendo como destaque a já clássica Rebellion (The Clans Are
Marching). Tunes of War, lançado em 1996, é um disco que você pode esfregar na
cara de quem diz que os anos noventa não foram favoráveis ao metal tradicional.
Como eu tenho raiva desse disco!
Não é que o Grave Digger tenha pisado na bola ou coisa do tipo, mas
Tunes of War fez tanto sucesso, de uma maneira que a banda ainda não tinha
experimentado antes, que virou o canône do que o Grave Digger faria dali por
diante em sua carreira. De uma hora pra outra, tudo que a banda lançava tinha
que ser conceitual e épico. Tinha que ter refrões grandiosos e coisa e tal. Não
era ruim, mas a banda era bastante competente quando fazia seus discos,
digamos, normais. A coisa chegou a um tal ponto que os novos fãs receberam um
pouco a contragosto os discos posteriores em que a banda praticou sua pegada
clássica. Álbuns como o autoititulado The Grave Digger não tiveram vendas tão
boas justamente pelo fato de não haver músicas com os climas épicos. É
lamentável, porque a banda tem um catálogo excelente nessa sua linha mais
tradicional, com discos empolgantes como The Reaper e Heart of Darkness, sem
falar, é claro, nos dois clássicos absolutos que são Witch Hunter e Heavy Metal
Breakdown. Creio que os fãs mais antigos conseguem conviver bem com esses dois
modos do Grave Digger se expressar, mas fãs mais novos, em sua maioria, são
alienados em relação aos primeiros anos da banda.
Em síntese:
É óbvio que os questionamentos sobre as diretrizes definidas pela banda
não podem recair sobre um trabalho específico. Gostando-se ou não do que o
Grave Digger faz, isso não irá macular os méritos de um excelente álbum. O
Grave Digger alcançou, com Tunes of War, o ápice de sua popularidade e tem tido
a competência de mantê-la estável desde então. Encontraram um nicho em que
tornaram-se diferenciados sem perder a própria essência. Em um cenário tão
disputado quanto o é o da Alemanha, e sofrendo todas as mudanças de formação
que lhe afetam, não é fácil manter-se tão relevante. Que continuem em destaque.