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JUDAS PRIEST - NOSTRADAMUS
É extremamente fácil, hoje em dia, o sujeito dizer
que não gosta de um disco. Existe música demais, disponível demais, e então, naquele
determinado momento, faz-se uma audição de um trabalho que não agrada de
imediato. Em tempos idos, quando o acesso à música não era tão facilitado como
é atualmente, comprava-se um disco e ouvia-se várias e várias vezes, mesmo que
não tivesse gostado de primeira, porque alguém dificilmente teria um acervo
grande e variado o suficiente para poder se dar ao luxo de escantear
rapidamente uma nova aquisição. Hoje, porém, ....
Hoje, ninguém quer se dar ao trabalho de ouvir e reouvir
e reouvir um disco. Se não foi assimilado logo, tem outras coisas à disposição
e, para piorar ainda mais, o tal disco que não foi imediatamente aceito é
duplo. Ou seja, exige mais tempo, e tempo é algo que as pessoas não estão
querendo mais dedicar à pura fruição de música. Muitas obras podem se perder
nessa premissa, pois existem discos que necessitam de audições adicionais para
serem plenamente absorvidos.
Nostradamus, disco conceitual lançado pelo Judas
Priest, é um que foi recebido com má vontade por muita gente, antes que
assimilado ou sequer escutado. Foi rapidamente taxado de progressivo, reclamaram
por ter vinhetas entre as músicas, sem que, nenhuma dessas coisas, por si só,
deprecie o trabalho. Tem vinhetas? Tem. Mas essas vinhetas são também pequenas
músicas, cantadas ou instrumentais. Bem diferente do que o Manowar, por
exemplo, fez no disco também conceitual que foi lançado mais ou menos na mesma
época, Gods of War. Ali, as vinhetas eram sons de batalha, de cavalgada ou de
discursos vikings, algumas mais extensas do que deveriam ser. No caso do Judas,
as tais vinhetas, ou, melhor dizendo, intervenções, são passagens melódicas que
interligam a narração e servem também para que a voz de Rob Halford seja mais
bem apreciada. Rob, reconheça-se, já não tem mais o desempenho de sua
juventude, mas os anos não estão pesando tanto para ele. Ainda é um intérprete
fenomenal.
Soar progressivo, em momento nenhum, me parece ser
o problema. Quem entende que a inserção de passagens mais suaves ou climáticas
seja um equívoco cometido pela banda, então, por favor, tente desconsiderar o
que eles fizeram no período entre os álbuns Rocka Rolla e Stained Class, que
estão repletos de momentos assim. Nostradamus é um disco que eu realmente adoro
e, ao meu ver, ele se legitima em tudo que a banda já fez em sua discografia.
Prophecy, a primeira grande faixa do álbum, após a
abertura Dawn of Creation, é puro Judas Priest. Empolgante e bombástica, com
Halford à frente e a dupla de guitarristas siameses, Tipton e Downing, fazendo
o espetáculo de sempre, em bases e solos, com o mesmo punch e a mesma
assinatura sonora que os tornou um dos principais duos do heavy metal, com a solidez
tradicional já escancarada logo na primeira melodia dobrada.
Revelations é uma música mediana, mas o acompanhamento
feito por Scott Travis se destaca nela, além do excelente refrão. Refrões, por
sinal, são um dos pontos fortes desse disco: outras faixas, como Exiled e
Visions, iniciam dando a entender que não são canções que irão deslanchar, mas,
quando entram os seus refrões tudo muda! New Beginnings quase que poderia ser
outra a se juntar à descrição dessas, mas ela tem o bônus de trazer alguns
momentos que remetem ao Pink Floyd, principalmente nas guitarras, o que leva a
canção para outro nível.
Se essas músicas se salvam por esses detalhes, o mesmo não
posso dizer de War. Essa é a faixa menos interessante. Tem um andamento
grandioso, mas está aquém das demais. E as demais estão entre o melhor que a
banda já produziu, como Pestilence and Plague, onde Rob canta parte da letra em
italiano, como a balada Lost Love, como a faixa Death, com seu clima tenebroso,
e como as excelentes Conquest, Alone e Persecution.
Nostradamus, penúltima música, é marcante e
dinâmica. Poderia perfeitamente encerrar o disco, e o faria em grande estilo,
como se fosse o clímax, mas Future of Mankind assume essa função, como se fosse
os créditos finais de um filme, arrebatando uma grande obra, marcante para a
banda não apenas pelo desafio inédito em sua carreira, mas também por conter as
últimas notas gravadas por KK Downing com o conjunto, e eu fico satisfeito que
ele tenha concluído sua trajetória com esse álbum. Se, no futuro, Nostradamus
vai, ou não, receber o status de clássico, pouco importa. O que importa é que
ele, como trabalho artístico, vai além da mera contemplatividade, gerando
reações e interpretações, da mesma forma que se poderia obter da leitura das
centúrias do profeta francês.
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