JANIS JOPLIN – PEARL
Na medida do possível, eu tento escrever essas linhas mantendo o meu
lado de fã em modo de suspensão. Na medida do possível, porque tem vezes que
não dá pra conter a paixão e deixar de mandar a imparcialidade para o inferno!
Janis Joplin foi, é e sempre será a maior cantora que já passou por esse mundo.
E nem quero que me falem em Doro, Tarja, Adele, Amy, ou seja lá quem for: todas
essas ainda precisam comer muito feijão para poder calçar os sapatos de minha
querida, eterna Janis Joplin.
Além de que Janis também fez cair por terra essas
idéias de que, para ter uma boa voz, é necessário sei lá quantos cuidados,
porque, todo mundo sabe, ela tinha uma vida pra lá de desregrada. Até quando um
fator iria entrar em colisão com o outro, nós não sabemos, pois o tempo não nos
permitiu acompanhar essa evolução.
Pearl, o último disco de uma carreira curtíssima,
foi lançado postumamente, mas registrou a performance da artista em seu auge. O
clássico dos clássicos, Mercedes Benz, traz a mesma praticamente à capela e
basta. Não falta nada, é uma música completa e foi suficiente apenas o registro
vocal para imortalizá-la.
Move Over, a música que abre o disco, é uma das poucas
canções originalmente compostas por Janis e a sua leve inclinação para o hard
rock demonstra que a cantora estava sintonizada com o que estava acontecendo ao
seu redor. Quando eu ouço essa música, consigo, sem esforço, imaginá-la sendo
interpretada pelo Deep Purple em sua primeira fase com Ian Gillan, que naquele
mesmo ano de 1971 estava lançando seu álbum Fireball.
Não poderia haver melhor forma de começar a obra, mas
a paixão de Janis sempre foi primordialmente o blues, e a faixa seguinte, Cry
Baby, traz uma interpretação explosiva da mesma. Poucas vezes a gente tem a
oportunidade de presenciar tanta entrega, tanta emoção em uma música. Tal qual
ocorre também em A Woman Left Lonely e, a não ser que você seja abstêmio, não
existe outra justificativa para não servir uma dose generosa de bourbon durante
a audição dessa faixa. O restante do disco, porém, segue por músicas bem
radiofônicas, sempre lembrando que esse já foi, um dia, um meio de divulgação
artística mais abrangente em suas propostas. Logo, canções como My Baby, Half
Moon e Trust Me transitam nesse tênue espaço, nessa arte meio perdida em que uma
canção poderia ser popular sem que para isso também fosse simplória. Por fim,
considerando que Janis era texana, não é de se estranhar a presença de uma
faixa mais chegada para o country, como Me And Bobby McGee, outro grande
clássico, desta feita composto pelo músico e ator Kris Kristofferson, e que tem
uma linha de baixo bem marcante.
A palavra pérola, que nomeia o álbum, representa
cada trecho de música nele contido. Cada música que Janis gravou é uma metáfora
sonora para sua trajetória. Muita emoção concentrada em pouco tempo. Muito
lamento pelo que ela não fez, muita carência pelo que ela não gravou, muita
especulação pelo que ela poderia ter sido, até onde poderia ter chegado. Acima
de tudo, muita saudade, da estrela que encarnou o blues de forma tão definitiva
que, até hoje, não foi superada. E o tempo continua a passar...
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